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504 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 158

pelos povos que civilizámos, e que eles retribuem em larga escala.
Muitas vezes assisti a discussões entre oficiais que tinham comandado soldados pretos em que eles exaltavam a dedicação, coragem e qualidades dos soldados que tinham servido sob as suas ordens, procurando demonstrar que os originários de certas tribos eram os melhores que havia em toda a África, ao passo que outros teimavam em afirmar que os seus subordinados é que eram os melhores.
Nestas amigáveis discussões evidenciava-se bem o carinho que tinham pelos seus soldados pretos e a estima que lhes dedicavam.
Sr. Presidente: fui há dias encontrar entre os meus papéis velhos a reprodução de algumas conversas que tive com um camarada muito amigo, que sempre recordo com muita simpatia, amizade e admiração e que era mestiço de preta vátua e português.
Numa dessas conversas, tantas vezes trocadas debaixo de intenso logo de artilharia, morteiros, granadas e metralhadoras, disse-me esse camarada (alferes António Carreira) textualmente o seguinte: «Meu caro Zé, não sei adivinhar o futuro, mas estou certo de que os Portugueses poderão sempre contar com a dedicação e solidariedade dos povos que dominaram e nada me admirarei se Portugal for capaz de conservar, unidos à metrópole, os seus vastos ou pequenos territórios ultramarinos, até depois de outros povos mais poderosos se verem obrigados a deixar emancipar as colónias que actualmente possuem.
Penso isto por saber que o domínio português tem sido orientado pelos sublimes princípios da religião cristã e tendo por base a simpatia, o respeito e o amor, em vez da repulsa, o terror e o desprezo».
Já se passaram quarenta e dois anos, e parece que a profecia do Carreira se realizará, no que diz respeito a Portugal.
Temos de lutar e trabalhar corajosamente, ter muito juízo e manter uma estreita união entre todos os portugueses, qualquer que seja a sua cor e a região em que habitam, mas Lavemos de conseguir manter a Nação uma que concebemos e constituímos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Se nos faltam ainda alguns progressos materiais de que outras nações mais poderosas e ricas se podem orgulhar, a verdade é que, no meio da nossa pequenez e minguados recursos materiais, temos feito verdadeiros milagres e, acima do progresso material, conseguimos a unidade moral e o espírito nacional que se tem manifestado por mil maneiras desde sempre e que agora se está manifestando em vários pequenos episódios, de que tenho tido conhecimento, que não relato para não cansar a atenção da Câmara, mas que me têm impressionado vivamente.
Apenas me referirei à afirmação que me fez um comerciante estabelecido no Congo Belga de que, na ocasião em que ali houve tumultos, ele e outros comerciantes portugueses tinham sido auxiliados eficazmente por pretos portugueses de Angola, que não eram seus criados e cuja atitude só pode ser explicada pelo espírito de nacionalidade que espontaneamente se manifestou na sua alma.
Igual explicação deve ter o facto de dois engenheiros portugueses que vinham da Niassalândia para Tete terem conseguido passar incólumes pelo meio de pretos revoltados, depois de um pequeno grupo de portugueses pretos, vindos do outro lado da fronteira, gesticulando e discutindo animadamente com os outros pretos da Niassalândia, ter conseguido que estes abrissem alas para os portugueses brancos passarem, como passaram, sem que ninguém os hostilizasse.
Estes e muitos outros factos deviam ser narrados ao chefe congolês Lumumba, que, segundo disse, está disposto a ajudar a libertação de Angola, para que se convencesse de que Angola não precisa de ser libertada, porque já é livre e independente, fazendo parte da Nação Portuguesa, que, como muito bem devia saber, é constituída por povos de várias raças e cores de pele de diferentes tonalidades, mas todas unidas no mesmo sentimento nacional, que tem feito com que todos os portugueses, seja qual for a sua cor ou percentagem de sangue lusitano que tenham nas suas veias, possam desempenhar os mais altos cargos da Nação.
O que fazemos hoje sempre o temos feito, e já, há séculos, um congolês ascendeu, pela sua inteligência e grandes virtudes, ao alto posto eclesiástico de bispo da religião católica, e ainda bem recentemente exaltámos a acção e honramos a memória do dedicado, fiel, valoroso e honrado preto Honório Barreto, que foi governador da Guiné.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Nós não nos envergonhamos do bem que temos feito às populações nativas, dando-lhes paz, dignidade e progresso, elevando-as, impedindo as periódicas chacinas a que se entregavam as tribos rivais, curando as doenças que as dizimavam e levando-lhes todos os benefícios da civilização moderna, e temos tanta confiança nos seus sentimentos amigáveis a nosso favor que cada vez investimos maior número de capitais nas nossas províncias ultramarinas, fundamos novas indústrias o explorações agrícolas e encaminhamos os excedentes das populações metropolitanas especialmente para Angola e Moçambique.
Ninguém tem receio de para lá ir com as suas famílias, e o Estado também, sem receio algum de os perder, gasta centos e centos de milhares de contos em obras importantíssimas que farão progredir ainda mais as nossas províncias ultramarinas, num ritmo cada vez mais acelerado.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Nelas tem corrido muito sangue português no decorrer de longos séculos e se tem trabalhado corajosamente; a nossa acção tem sido formidável e incomparável, se tivermos em atenção a escassez dos nossos recursos, a pequenez da metrópole e da população; temos legítimo e bem justificado orgulho por tudo o que temos realizado, e, por isso, têm ido e cada vez irão mais portugueses da metrópole para lá, porque aquelas terras são nossas, regadas com o suor e o sangue de inúmeros portugueses, e são pedaços da nossa, pátria, que defenderemos com todas as nossas forças e que nunca abandonaremos.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador fui muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vai passar-se à

Ordem do dia

O Sr. Presidente: - Continua em discussão na generalidade a proposta de lei sobre a reorganização dos desportos.
Tem a palavra o Sr. Deputado Urgel Horta.