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870 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 177

do trabalho, o gosto pelas viagens, o ideal da salvação das almas dos infiéis.
A distância, o oceano, as notícias rios feitos heróicos, tudo fortalecia os sentimentos patrióticos de donatários, fidalgos, sesmeiros e colonos - sentimentos esses que. ao contacto de novas terras e das duras tarefas u cumprir, adquiriam maior altura e virtualidade.
O segundo donatário da Madeira, João Gonçalves, estando longe, foi o primeiro fidalgo a chegar ao Algarve para ajudar o rei de Portugal no descerco de Fez, e o seu filho Simão Gonçalves da Câmara, o Magnífico, foi protector de todas as praças do África, onde esteve nove vezes, organizando importantes e dispendiosas expedições à sua custa. Foi na colonização dos Açores, como já se escreveu, que os Portugueses aprenderam a navegação de alto mar e longo curso, e foi um escudeiro do infante, Diogo de Teive, descobridor do grupo ocidental daquele arquipélago, quem primeiro teria, possivelmente, atingido as águas do banco da Terra Nova. Da Madeira e dos Açores saíram navegadores, marinheiros, guerreiros, missionários dos que mais se notabilizaram na grande obra da expansão portuguesa no Mundo.
Aquelas ilhas atlânticas corresponderam ao pensamento do infante. Por um lado, pela sua situação geográfica, foram pontos de apoio valiosíssimos para as campanhas africanas e para a navegação das Descobertas; por outro lado, pelas qualidades reais dos colonizadores, a demonstração viva da nossa capacidade para o povoamento.
E volto ainda à Madeira. Era despovoaria e terra virgem quando foi descoberta pelos navegadores do instante. Está hoje toda aproveitada, no prosseguimento da sua lição e dos seus ensinamentos, desde a orla do mar até ao cume das montanhas. E um grande marco das Descobertas. E é, simultaneamente, um padrão admirável do trabalho humano.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A Madeira, os Açores, Cabo Verde, as terras de África, foram as primeiras parcelas de um grande império que o infante concebeu já, separado no espaço, mas unido pela comunhão das almas, independentemente das raças e das cores dos povos que o viriam a constituir.
Em pleno século XV os arquipélagos da Madeira e dos Açores eram considerados pontos vitais de apoio na defesa e expansão dos ideais civilizadores daquela época. Decorreram mais de cinco séculos e aquelas ilhas são consideradas hoje elementos fundamentais na defesa do Ocidente e daquela mesma civilização que os Portugueses tanto contribuíram para espalhar e difundir no Mundo.
Muitas das concepções fundamentais do infante D. Henrique têm a perenidade da sua própria alma.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - No próximo dia 13 de Novembro completam-se 500 anos sobre a sua morte. O infante, que, pelo seu génio, foi verdadeiramente grande na concepção e na acção, inexcedível no patriotismo e na fé, que consagrou inteiramente a sua vida ao serviço da grei, pediu no testamento que fossem pagas as dívidas que contraíra, para descarregamento da sua consciência. Depois de tanto pensar, meditar, trabalhar, lutar morreu endividado, este homem - ele, que era o grande credor da Nação, e credor também da humanidade, pois no desenvolvimento dos seus planos e empreendimentos foi possível revelar e conhecer o Mundo em toda a sua grandeza, acordando-o do silêncio e do esquecimento a que o tinham votado os séculos e as idades.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bom!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Martinho da Costa Lopes: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: ao distinguir-me com o honroso convite de usar da palavra nesta sessão, que, por ser a última dos nossos trabalhos parlamentares, se reveste de singular brilho e particular solenidade, quis decerto esta Câmara que um membro seu representando povos do ultramar português, nado e criado em terras intangivelmente portuguesas, devassadas outrora pela cruz de Cristo, que arvoravam as caravelas henriquinas quando singravam «mares nunca dantes navegados», erguesse sem temor nem receio a sua modesta voz no seio desta magna Assembleia Política, a fundir-se no coro ingente e clamoroso da voz da Pátria, que se faz ouvir de toda a parte neste ano centenário do nascimento e morte do infante de Sagres em todas as latitudes e longitudes onde pulse e vibre de entusiasmo e júbilo o coração da família portuguesa, em apoteótica homenagem de gratidão nacional ao ilustre marinheiro e navegador que foi o infante D. Henrique, cuja figura de há muito se projectou para além das fronteiras pátrias, ocupando com justiça um lugar de relevo na história universal dos povos.
Perante a grandeza do tema altamente sugestivo das comemorações henriquinas, tão vasto e fecundo como grandioso e aliciante, eu quereria. Sr. residente, ao tentar esboçar a figura austera, mas ao mesmo tempo simpática, do infante de Sagres, ter as habilidades de um consumado artista que soubesse pintar um quadro primoroso, sóbrio de tintas e de cores, de sombra e de luz, donde pudesse destacar-se com nitidez a vigorosa personalidade do maior navegador português da época quinhentista.
Infelizmente, porém, quanto mais sobressai a figura do retratado tanto mais se evidencia a escassez de arte do retratista, e, por isso, de bom grado aceito por outros em meu lugar o fariam com maior brilho e erudição.
Todavia, não obstante reconhecer a evidência do contraste, subo confiadamente a esta tribuna, levado não por méritos pessoais, que não possuo, mas sim, pelo forte imperativo nacional de que, como portugueses que somos, temos todos de contribuir, na medida do possível, para enaltecer a vida e os feitos gloriosos de um dos maiores expoentes da história pátria, porque tenho para mini que a evocação da memória do infante de Sagres e a projecção universal da grandeza da obra henriquina através do espado e do tempo, além de constituírem razões históricas de largo alcance político, que nos impõem ao respeito dos outros, nos proporcionarão a todos neste período conturbado da história que atravessa a humanidade lições preciosas de patriotismo e estímulos de fé e de confiança nos destinos da Pátria comum.
Sr. Presidente: quando se debruça sobre a história dos Descobrimentos portugueses fixada em brônzeas oitavas pelo épico português, fiel intérprete da alma nacional, quando se assiste ao desenrolar dos feitos heróicos desta pequena mas atrevida casa lusitana, praticados por tantos varões ilustres, «que se vão da lei da morte libertando», no dizer de Camões, quando se contempla o adejar de lenços brancos a acenarem às naus e caravelas que partiam, barra em fora, em demanda do desconhecido, parece que não há portu-