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872 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 177

vinham desfazer-se em espuma contra os rochedos, como a querer descobrir-lhe os segredos e animá-lo a devassar as terras, que a intuição fulgurante do seu génio virá aflorar à tona das águas do oceano.
Com uma preparação sólida, adquirida no estudo, na meditação, no silêncio o, na paciente investigação das coisas, das terras e das gentes que nelas habitavam, foi possível ao infante apontar decididamente aos seus marinheiros o rumo a seguir, dando assim início à tarefa ingente e gloriosa, dos descobrimentos portugueses.
Assim surgiram à tona da existência, fazendo parte da órbita da Nação Portuguesa, as ilhas do Porto Santo e Madeira e o arquipélago dos Açores; assim foi ultrapassado pela primeira vez na história o cabo Bojador, que era onde terminava o mundo medieval e que constituía o limite máximo para além do qual não era permitido a ninguém navegar: assim se desvaneceram, uma a uma, as lendas do Mar Tenebroso, cujas ondas reinaram, abrindo passagem às quilhas audaciosas dos marinheiros portugueses.
De facto, Gil Eanes, dobrando e passando além do cabo Bojador, como jurara ao infante antes de embarcar, vibrou o golpe mortal à geografia da Idade Média, mostrando com as rosas de Santa Maria, colhidas no litoral africano, que o mundo era mais vasto do que se supunha naquela época.
Estava lançado o passo decisivo, porventura o mais difícil, na história dos Descobrimentos.
Continuando no rumo encetado, sob a vigilância atenta do infante, os pioneiros que se lhe seguiram descobriram o rio do Ouro, em 1436, o cabo Verde, em 1444, as ilhas do mesmo em 1456, e praticamente toda a costa ocidental de África.
Mas o período áureo com que culminou a história dos empreendimentos marítimos iniciados pelo infante. D. Henrique foi sem duvida alguma, o descobrimento do caminho marítimo para a índia, em 1498, por Vasco da Gama, e o Brasil, em 1500, por Pedro Alvares Cabral.
Se, por um lado descobrindo o Brasil, Pedro Alvares desvendou ao conhecimento humano a existência do novo continente, por outro, a viagem de Vasco da Gama à Índia uniu o Ocidente ao Oriente.
Com estes dois descobrimentos sensacionais, que por si sós imortalizariam a nação Portuguesa, dir-se-ia que a Europa, expurgada do paganismo e transfigurada pelo cristianismo, acabava de estender, generosa, as suas mãos para envolver num mesmo amplexo o Mundo inteiro, pelos braços de Portugal.
E se considerarmos que a descoberta de novos mundos ao Mundo, levada a efeito pelos navegadores portugueses, veio modificar profundam ente a civilização humana; se atendermos em que durante séculos em que nasceram o pereceram as civilizações mais antigas o se desmoronaram os maiores impérios passaram tantas e tantas gerações sem o verdadeiro conhecimento da maior parte da. Terra, que habitavam, impõe-se reconhecer que Portugal contribuiu como ninguém para o progresso da humanidade, para a maior transformação que se tem operado no Mundo inteiro.
E tudo isto, que constitui a grandeza e o orgulho legítimo de Portugal, deve-se à iniciativa e à acção persistente, firme e heróica de um homem - o infante D. Henrique. Ditosa pátria que tal filho tem na sua história !...
Disse.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Teixeira da Mota: - Sr. Presidente: ao homenagear hoje aqui o infante D. Henrique e os homens da sua geração, entre o muito que haveria a comentar, limitar-me-ei a realçar os aspectos náuticos da revolução que então foi operada, pelos Portugueses.
Para compreender o que foi esta revolução torna-se necessário referir brevemente o estado tia ciência e cartografia náutica autos do infante e falar também do estágio que atingiu em consequência da acção dos seus homens do mar. Na realidade, a expansão dos Portugueses e, 'depois, dos outros europeus foi uma consequência directa da criação - de uma nova arte de navegar, oceânica e astronómica, que permitiu verdadeiramente a unificação da humanidade, se assim se pode chamar ao conhecimento mútuo e intercâmbio de todas os seus elementos.
Ao iniciarem-se, os Descobrimentos Portugal encontrava-se entre duas zonas em que as práticas de navegação apresentava certos aspectos distintos. Nos uivares do Norte, com vastíssima plataforma continental submersa a pequena profundidade e com elevadas marés, o marinheiro navegava sem bússola e som cartas, por conhecenças costeiras, quando à vista de terra, e pelo exame das profundidades e das natureza do fundo, quando afastado dela. Com tal técnica de navegação, e com a ajuda do avistamento das ilhas montanhosas ao longo do trajecto, os ousados Vikings haviam assim ido da Noruega à Gronelândia, praticando já de certo modo uma navegação oceânica, em que recobriam também às indicações do voo das aves e a certas formas muito empíricas e primitivas de utilizar os astros.
Para leste de Portugal, na bacia mediterrânea, originara-se um outro tipo mais evoluído de ciência náutica, resultante sobretudo do aparecimento da agulha magnética, a da sua fixação sob uma rosa-dos-ventos com 32 rumos. Em consequência nascia, talvez no século XII ainda, o que se podia já chamar uma verdadeira carta náutica, caracterizada pela teia das linhas de rumo, sobre que se baseava o traçado das linhas costeiras. A navegação do Mediterrâneo, assim estruturada e por imposição das condições geográficas, não passava ainda de uma mera navegação costeira.
Portugal, pela sua situação entre estas duas zonas, a do Norte e a do Mediterrâneo, cedo recebeu o influxo destas duas artes de navegar e ambas assimilou. Na primeira metade do século XIV, com a ajuda técnica dos genoveses trazidos pelo almirante Pessagno, expedições portuguesas aventuravam-se já para o sul e oeste e descobriam os arquipélagos da Madeira e Canárias, e talvez mesmo, fugidiamente, os Açores.
Esta primeira, expansão marítima detém-se porém, e é preciso esperar pela geração do infante D. Henrique para que ela recomece do forma já a não mais se interromper. Um condicionalismo geográfico estreito impunha, porém, obstáculos que teriam de ser vencidos sucessivamente. Em primeiro lugar, o regime de ventos para o sul, com o predomínio dos alisados, tornava difícil ou impossível o regresso de navios de vela ao longo da cosia de África. Para além do cabo Bojador, as costas desoladas e áridas do Sara não ofereciam condições favoráveis ao aprovisionamento frequente das chusmas de remadores, caso se utilizassem as galés. Eram os primeiros obstáculos, e venceram-se desenvolvendo, por um lado, um tipo especial de caravela, com boas condições de bolina, permitindo bordejar avançando contra o vento; e, pelo outro lado, praticando a volta do mar largo, com os alisados pelo travos a ganhar a latitude dos Açores e a região dos ventos variáveis e do oeste, com os quais se podia já regressar directamente à Península.
Alargava-se assim para o sul a descoberta da costa africana, e, em consequência, aumentava progressiva-