3 DE DEZEMBRO DE 1960 105
tal maneira que, se um dia houvesse a desgraça de a metrópole ser ocupada por exércitos estrangeiros, ela afio morreria; simplesmente, a sua capital passaria para Luanda. Nova Lisboa, Lourenço Marques, Goa ou qualquer outra cidade dos territórios que nos pertencem, como, aliás, é previsto na nossa Constituição. Este critério já não é novo, e quando, no século passado, Portugal foi invadido pelas tropas de Napoleão. o rei de Portugal e o Governo transferiram-se para o Rio de Janeiro, que durante algum tempo ficou sendo, portanto, a capital do império português, apesar de nesse tempo o Brasil ser apenas uma das províncias portuguesas.
Até esta Assembleia, que é um dos órgãos de soberania nacional, se poderá reunir em qualquer das nossas províncias ultramarinas, mesmo em tempo de paz se o Governo o julgar conveniente, como por exemplo, para estudar e discutir qualquer assunto que diga especialmente respeito a essa província.
É necessário que se compreenda bem que a Nação Portuguesa se não confina apenas no modesto rectângulo existente no Ocidente da Península. Hispânica e que em todos os territórios onde flutua actualmente a bandeira portuguesa está uma parte da nossa Pátria, onde nos estabelecemos e onde, com a graça de Deus e a nossa forte vontade, permaneceremos indefinidamente.
Evidentemente que precisamos de muito boa vontade, coragem, espírito de sacrifício e sensata inteligência para o conseguirmos e nos defendermos dos inimigos que nos querem 'escorraçar das terras que são nossas, muito nossas, e até teremos do lutar para que alguns amigos compreendam a nossa atitude, e se convençam de que o nosso procedimento é o melhor para os interesses das potências ocidentais, nossas aliadas, e até para os habitantes autóctones das nossas províncias.
Constituíram-se recentemente numerosas nações africanas e os seus dirigentes ficaram, muito contentes porque se viram livres dos colonialistas brancos. Mas que lhes sucederá amanhã, quando os outros colonialistas, da Rússia ou China, quiserem apoderar-se dessas nações fracas e incapazes de se defenderem? Evidentemente que os seus habitantes cairão na mais deprimente e desumana escravidão, porque esses colossos, livres das limitações a que a sublime religião cristã obrigava quase todos os europeus, lançarão (se o Ocidente os deixar) os povos africanos na mais degradante miséria, apenas se preocupando com a exploração do sen trabalho, sem a mais insignificante consideração pela pessoa humana e pela vida dos pobres pretos, que, saindo do domínio benévolo dos Europeus, cairão completa parcialmente sob o domínio de implacáveis senhores a quem a moral e a crença religiosa, porque as desprezam, não imporão limitações de qualquer espécie.
Graças a Deus, há paz e tranquilidade em todas as províncias ultramarinas de Portugal, devido ao nosso modo de proceder, mas não estamos livres de que alguns loucos ou ambiciosos queiram provocar distúrbios e manifestações que, devidamente ampliados, sirvam de pretexto para novas campanhas contra Portugal. Mas nada ganharão com isso, porque não estamos dispostos a capitular perante os distúrbios de alguns arruaceiros, quando temos a certeza de que as populações das nossas províncias ultramarinas estão completa e indissoluvelmente ligadas à velha e gloriosa metrópole, e os pretos ou mestiço, inteligentes e instruídos, compreendem bem que todos juntos, constituímos uma nação forte e progressiva, com mais forte do que outras jovens nações que ultimamente têm adquirido a Mia independência, desligando-se das velhas metrópole que lhes levaram o progresso e a civilização.
Sr. Presidente: todos os portugueses, brancos ou de cor, sabem que há. actualmente, a necessidade de se formarem grandes blocos de nações que se amparem e ajudem mutuamente e constituam grandes unidades económicas e militares, capazes de progredirem e de se defenderem de quem as quiser atacar.
Felizmente para nós e para eles, os estadistas portugueses e brasileiros compreenderam, a tempo, a importância imensa que para as duas nações irmãs representa a sua união, e hasta olhar para um mapa para constatar a importância estratégica que as nossas possessões no Atlântico têm para a defesa do Brasil a interesse que para a defesa das nossas terras tem o imenso império brasileiro.
Liga-nos a origem comum, a língua e a religião da maior parte dos Brasileiros e Portugueses e portanto, dificilmente se poderão encontrar nações que com mais facilidade e possam unir e impor à consideração dos dirigentes mundiais. Unidos, constituiremos, sem dúvida, um bloco formidável, que económica e militarmente. será progressivo e poderoso, e um aliado que para as potências ocidentais, terá uma importância decisiva, pela sua população, recursos económicos e posições estratégicas.
Se tivermos também em atenção as nossas relações íntimas e amigáveis com a vizinha Espanha e o seu poderio e importância no conjunto das outras nações europeias, reconheceremos que o bloco luso-brasileiro, em íntima ligação com a nobre, progressiva e valorosa Espanha, terá um alto e indiscutível valor para a defeca da civilização ocidental.
Voltando ainda às nossas províncias ultramarinas e para terminar, resta-me afirmar categórica mente, e mais uma vez. aquilo que tantas vezes se tem afirmado: fazem parte da Nação Portuguesa e mil a se conservarão indefinidamente. Essa é a nossa vontade, e temos a coragem necessária para a fazermos prevalecer, haja o que houver e mesmo à custa dos maiores sacrifícios.
Tenho dito.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.
O Sr. Vasques Tenreiro: - Sr. Presidente: é penosamente que hoje subo a esta tribuna, e isso porque quando a injustiça cala no coração dos homens perturba-lhes os sentidos e traz à boca palavras de amargura que, muitas vezes, retardam a acção urgente que é mister tomar de mente esclarecida e calma. Sabe, pois a esta tribuna esforçando-me, perante o melindre de. uma situação injusta, tanto mais injusta quanto é imposta do exterior à Nação, por trazer palavras que, serenas, permitam debruçar-me sobre alguns dos aspectos relacionados com os ataques sofridos na O. N. U.
Palavras simples de quem se habituou a extrair exemplos e meditações dos quadros (pie os homens organizam na Terra, antes que de bibliografia, quantas vezes afastada das realidades humanas. Nascido no ultramar, conheço os recantos de Portugal Europeu: educado em Portugal, pelo ultramar tenho peregrinado. Por isso, ao evocar o ultramar, falarei também de Portugal, não só por motivo de lógica ou de história, mas também por razão de sentimento, que julgo tão relevante como qualquer outra.
As conspirações da política internacional que a partir do final da última guerra, se servem de todos os ardis e audácias apostadas no aniquilamento da civilização dita ocidental, as maquinações que fizeram da Europa manta de retalhos políticos, de agrupamentos económicos, de hegemonias financeiras o de