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3 DE DEZEMBRO DE 1960 103

a sua dignidade. Se assim fosse, não desceria a afirmações que, por reflexo, melhor se lhes ajustam e mais certeiramente, os atingem, já que a nós nos não tocam, por descabidas.
A reacção de Portugal, pelo seu delegado, foi, como devia ser, enérgica, e clara, demonstrando com desassombro o que pensam e querem os Portugueses. Oxalá as palavras que proferiu sejam ouvidas e compreendidas em todo o seu conteúdo, de forma a não ficar qualquer dúvida quanto à nossa posição, tão magistralmente definida no recente discurso do Sr. Presidente do Conselho.
E bom será também que o Mundo não esqueça que os Portugueses não aceitam, seja de que maneira for e em quaisquer circunstâncias, muito menos por força de rotações em que a quantidade supera a qualidade, se resolva atentar contra a sua integridade, se pretenda impor limitações à sua independência.
Muito se engana quem pensar que o consentiremos!
Nós, que não recebemos a independência de ninguém, que a conquistámos, porque a merecíamos, há séculos; nós, que continuamos a merecer, que temos sabido defendê-la, sempre encontraremos forças para a conservar em toda a sua inteireza, em toda a sua integridade, não consentindo que seja atingida enquanto vivos formos.
Com a tranquilidade que me dá esta certeza e a inabalável convicção de que assim será para todo o sempre, mas ofendido também com tão lamentável acontecimento, em nome dos portugueses de Angola, o que serve dizer em meu próprio nome. Sr. Presidente, aqui deixo o meu veemente protesto.
E quero lambem deixar expressa a certeza do que, tal como afirmou o Sr. Presidente do Conselho, continuaremos unidos a trabalhar com uma mão na charrua e a outra na espada, não temendo derramar o nosso sangue, se necessário for. Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Silva Mendes: - Sr. Presidente: depois da brilhante exposição de S. Exa. o Presidente do Conselho e das magníficas intervenções dos meus ilustres colegas que me precederam no uso da palavra, parecia que eu nada deveria dizer.
No entanto, permito-me ainda, acrescentar algumas considerações, que julgo não serem descabidas, pedindo desculpa à Assembleia, pelo tempo que lhe vou tomar.
Sr. Presidente: durante gerações sucessivas, homens pertencentes à minha família trabalharam, lutaram, sofreram, deram o seu sangue, e até a própria vida, no Brasil, na África e no Oriente, e actualmente tenho descendentes vivendo e trabalhando na nossa grande província de Moçambique a parentes que igualmente vivem e trabalham na nossa, ainda maior província de Angola.
Não admira, por isso, que me interesse pelo que *c passa no nosso ultramar e que neste momento patenteie a minha repulsa e indignação pelos injustos e malévolos ataques de que estamos sendo vítimas.
Em todas a« províncias portuguesas espalhadas pelo Mundo se tem manifestado exuberantemente essa indignação, dando-se até o caso - altamente honroso pura Portugal - de serem os naturais das províncias ultramarinas, desde os mais modestos até aos mais categorizados, incluindo os chefes naturais e tradicionais das populações autóctones, aqueles que com maior vigor manifestam claramente o desejo de se conservarem unidos aos seus concidadãos europeus dentro da grande o una Nação Portuguesa.
A resposta nos que nos atacam tem sido dada por esses homens de cor, ou mestiços, que sempre temos honrado e considerado e que, agora aliás no seu próprio interesse se manifestam, pela união com os seus concidadãos metropolitanos, quando nas possessões de outras nações europeias e tem dado exactamente o contrário.
Sr. Presidente: permita-me V. Exa. que em ligação com este assunto, faça ainda algumas breves considerações.
Tem-se observado nos últimos anos, em quase todas as partes do Mundo onde os Europeus tinham colónias o especialmente no continente africano, um fenómeno para o qual os habitantes do nosso país não conseguem encontrar explicação satisfatória.
Parece que os povos europeus possuidores de vastos territórios para África se sentiram envergonhados por terem feito imensos benefícios aos Africanos e, levados por esse sentimento, se têm apressado a abandonar a administração dos territórios que civilizaram e fizeram progredir.
Nós, Portugueses, não nos sentimos envergonhados e pelo contrário, temos muita honra em ter contribuído, o mais que nos tem sido possível para o progresso, bem-estar e civilização dos povos que habitam nos territórios que descobrimos e que são representados pela gloriosa bandeira de Portugal.
Que os portugueses africanos reconhecem esses benefícios e que querem unânimente continuar ligados a Portugal, constituindo uma única nação, ninguém de boa fé o pode pôr cm. dúvida, tantas e tão evidentes têm sido as manifestações desse estado de espírito.
Os portugueses europeus não compreendem, não podem compreender, os sentimentos que têm levado outras nações do nosso continente a abandonarem os territórios que administravam em África e tanto desenvolveram e civilizaram.
Será porventura um crime acabar com lutas entre tribos rivais, obstar a que se pratiquem horríveis matanças, torturas de prisioneiros de guerra, incêndios do aldeias, roubos de gados, destruição das modestas lavras dos indígenas e todos os malefícios a que estavam sujeitos os povos das várias tribos, que se odiavam guerreavam constantemente?
Será uma vergonha, para um povo civilizado, edificar hospitais e enfermarias, acabar com a doença do sono a varíola, o paludismo, a tuberculose, a peste e tantas outras doenças e epidemias que faziam sofrer e dizimavam as populações africanas, substituindo as práticas dos feiticeiros indígenas pela sabedoria dos médicos e enfermeiros europeus ou africanos, que têm salvado a vida a inúmeros doentes em todas as colónias europeias?
Será desonroso para os Europeus terem acabado com a antropofagia, o sacrifício de milhares do desgraçadas vítimas, enterradas vivas para servirem na morte potentados africanos, os sacrifícios humanos e de inocentes criancinhas imoladas à vontade de sacerdotes de horríveis ídolo», substituindo esses horrores pelos sublimes ensinamentos da religião de Cristo?
Será desprestigiante aproveitar as terras aráveis e os produtos do solo e subsolo para criar riqueza, bem-estar e progresso para alguns brancos, é certo, mas também para muitos milhões de africanos que ns não aproveitariam se não fosse a iniciativa, trabalho, sacrifício e ciência dos colonos, cientistas e capitalistas brancos?
Será digno de censura edificar grandes cidades, vilas e aldeias, com todo o conforto moderno; arrotear grandes extensões de terreno, ensinando os Pretos a tirarem partido de tudo o que de bom e valioso tinham nas suas terras e que não sabiam aproveitar; fazer grandes bar-