104 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 180
ragens que permitem irrigar imensos extensões fie terra e aproveitar a energia eléctrica, que tem levada o progresso e desenvolvimento industrial a tantas parte da África: edificar fábricas grandiosas ou mesmo modestas, onde numerosíssimos africanos ganham honestamente a sua vida; construir estradas, pontes, linhas férreas e aeródromos, que permitem o transporte de pessoas e mercadorias, ou, ainda, lavrar minas e explorar as riquezas do subsolo, dando também trabalho e pão a numerosos trabalhadores?
Referindo-me mais especialmente ao que diz respeito a Portugal, pergunto ainda:
Será uma mu acção ter a população da metrópole pago pesados impostos durante largos anos e sacrificado a vida, saúde e sangue dos seus filhos, para que haja paz e todos os benefícios da civilizarão ocidental no ultramar português?
Devemos porventura sentir-nos humilhados por elevarmos o nível intelectual dos pretos e mestiços que habitam as nossas províncias africanas, recebendo-os uns nossas escolas primárias, secundarias, técnicas e nas Universidades, habilitando-os assim a prestarem, juntamente com os diplomados brancos, os seus valiosos serviços à Pátria comum?
Não, Sr. Presidente. Nós entende-mos que os Europeus exerceram em África, e aliás em todo o Mundo, uma acção benemérita, que ninguém de sã consciência pode contestar.
Colheram benefícios, é certo, mas a, sua. acção em todas as suas colónias tem sido incontestavelmente meritória.
Censuram-se as nações europeias por humilharem os habitantes das suas colónias, fazendo-lhes sentir a sua superioridade com discriminações raciais, mas nem mesmo essa acusação pode ser feita contra os Portugueses, porque há centenas de anos convivemos com povos de todas as raças, aproveitando e exaltando as suas qualidades e honrando aqueles que, pelo seu procedimento, inteligência, cultura, coragem, honradez, dignidade e serviços prestados à Pátria comum, se têm tornado dignos da nossa consideração, amizade e respeito, sem nos preocuparmos com a raça a. que pertencem nem com a cor da sua pele.
Isto tem sido afirmado inúmeras vexes e todo o Mundo o sabe embora nas assembleias internacionais tenham aparecido delegados de vários países que fingem não o saber e que nos atacam, por entenderem que firmeza e energia de que os portugueses de todas as raças têm dado e continuarão a dar provas são um exemplo que lhes não convém na campanha contra o Ocidente em que o comunismo internacional anda há muitos anos empenhado.
A verdade é que para todos aqueles que constituem a Nação Portuguesa a nação de pátria está ligado ao conjunto de todas as parcelas, espalhadas por todo o Mundo, onde flutua a bandeira portuguesa, e este conjunto estão todos dispostos a defendê-lo, quer sejam pretos, mestiços ou brancos de Angola, Moçambique ou qualquer outro território português.
Há, infelizmente, alguns governos, mesmo amigos, que parece não conseguirem compreender nitidamente a nossa atitude em África, como a não compreenderam na Índia, quando ela é bem fácil de compreender.
Nós estamos apenas a fazer em várias partes do Mundo o mesmo que fizemos no Brasil, onde os descendentes dos Portugueses ou de outras nações brancas têm os mesmos direitos que os descendentes dos pretos, índios, amarelos ou pardos que já habitavam ou se estabeleceram no Brasil, levando para a América, juntamente com as nossas qualidades guerreiras e incontestável inteligência, o nosso espírito de tolerância e as virtudes cristãs e bondade natural, que nos levaram a conviver com os povos de todas as terras onde nos fixámos ou com os quais estabelecemos relações de comércio e amizade.
Para o Brasil têm ido emigrantes de outras nações europeias que não concordam com o nosso procedimento, mas acabam por sentir a influência do meio em que foram viver e a ele se têm adaptado, vendo-se obrigados a reconhecer que o nosso sistema é bom, tem dado origem à paz e harmonia que existem em todo esse
dai em que dominam os descendentes dos Portugueses, pelas suas qualidades naturais e pelo seu espírito compreensivo, que lhes tem permitido evitar Intuis e guerras civis, que tanto têm ensanguentado outras nações da América Latina.
Se conseguimos o milagre de constituir no Brasil unia grande nação, formada por povos de várias raças, porque não havemos de conseguir o mesmo milagre no que actualmente constitui a Nação Portuguesa?
Pode-se objectar que no Brasil havia continuidade territorial e, portanto, era muito mais fácil fazer o caldeamento de raças e a sua união dentro das fronteiras que o limitam. Realmente era mais fácil, mas a experiência está-nos ensinando, já hoje, que somos capazes de conseguir completamente a Nação uma que estamos formando, apesar de se encontrar espalhada por terras distantes umas das outras.
Nós sempre temos honrado e defendido os indígenas das nossas províncias ultramarinas, considerando-os como nossos concidadãos em qualquer parte do Mundo onde nos encontremos, como se pode demonstrar com inúmeros exemplos, e em compensação, eles sempre se tem mostrado nossos dedicados amigos, como também e pode demonstrar com numerosos factos, alguns dos quais têm sido referidos nos jornais portugueses e estrangeiros, e até nesta Assembleia.
Há o carinho pela «mãe preta» que amamentou o filho da patroa branca e a dedicação da ama pela criança que ajudou a criar; a dedicação do preto pelo patrão que o teve ao seu serviço durante largos anos e a amizade deste para com o seu fiel servidor; o entusiasmo e carinho do oficial pelos seus soldados de cor e a respeitosa amizade destes pelos seus superiores.
O domínio português tem sido em toda a parte caracterizado pelo amor. pela estima e pela consideração pelo povos que conquistámos e dirigimos, e estes têm por nós estima e respeito, bem diferentes do ódio e terror que sentiriam se o nosso procedimento fosse outro.
Somos censurados e até atacado com o pretexto de que não temos um regime totalmente democrático, que permita a todos os indígenas fazerem uso do sen direito de voto mas - por amor de Deus - não queiram que cometamos o erro. que outros têm cometido, de dar esse direito a quem não sabe o que ele representa, a analfabetos e a primitivos que apenas conhecem a vida das suas tribos.
estudem elevem-se, evolucionem e, além dos direito que já têm como todos os portugueses, terão também o direito de voto em todas as eleições, como o têm todos os civilizados e suficientemente evoluídos, qualquer que seja a cor da sua pele.
Nós estamos há séculos em África e sabemos muito melhor do que outras nações como devemos procedei para que haja paz e progresso em todas as nossas províncias e o bem-estar, felicidade e elevação do nível de vida que ambicionamos para todos os portugueses
Acreditem os outros países que nós constituímos uma nação que se espalha por outros continentes di