102 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 180
com tempestades, que enfrentam tormentas, que lutam pela existência.
Louvado seja Deus, que soube criar e manter as virtudes ancestrais do povo lusíada, mormente quando lhes assiste a força, maior, a mais poderosa, a força indestrutível do direito e da razão.
Não, realmente não os tememos nem recuaremos uma polegada. Ainda não estamos contaminados por ideologias falsas, temos um Governo que governa, honesta o habilmente, dirigido por um Chefe, respeitável e respeitado por todo o Mundo, que sabe o que quer e para onde vai. A obra ultramarina portuguesa, obra inteiramente portuguesa, é indiscutível, é uma realidade, e as realidades não se negam. Quem quiser vê-la que a veja, mas que não peça contas de como, quando porquê.
Pode ver, com inteira liberdade, esmiuçar, sem receio, por toda a vastidão dos territórios portugueses do ultramar. Não levará escolta nem guarda, mas nada receie, porque ninguém lhe fará mal. Os portugueses do ultramar, seja qual for a cor da sua pele, seja qual seja a sua religião, são ordeiros, pacatos, trabalhadores.
Todavia, parece-me essencial que se frise bem, se grite bem alto, que hoje, mais do que nunca, permanecemos unidos e firmes; conscientes dos perigos que nos ameaçam, conhecedores dos inimigos que nos espreitam, mas decididos, como sempre, a lutar e a vencer confiamos no espírito de sacrifício da nossa juventude, que dia a dia se retempera e fortalece no culto de Deus e da Pátria, convictos de que a ambição dos alucinados, a cegueira dos ignorantes, a inércia de muitos, a má vontade de alguns e até a atitude criminosa de traidores, se os houver, não serão bastante para abater um povo que caldeou a sua vontade, o seu querer, ao longo dos séculos, no cadinho das privações e do sofrimento.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: as províncias ultramarinas são pedaços de Portugal espalhados pelo globo e a cada uma delas se poderá aplicar o que Mouzinho proferiu em referência a Moçambique:
Cada gota de sangue português bebido por esta terra clamará por nós, a gritar que e eternamente nossa.
Que os nossos mortos descansem em paz. Todos os portugueses conhecem as suas obrigações para com a Pátria. Temos obrigarão de transmitir aos vindouros tudo o que os nossos antepassados nos legaram.
Portugal de além-mar quer continuar a ser português. Exuberantemente o tem provado. Com a sua vontade, que é a nossa vontade, e com a ajuda de Deus, Portugal de aquém e de além-mar será uma verdade eterna.
Tenho dito.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.
O Sr. Cardoso de Matos: - Sr. Presidente: protesto - em nume dos portugueses de Angola, que muito me honro de representar nesta Casa, e como seu filho, que
me orgulho de ser -, protesto contra a intolerável tentativa, de intromissão nos assuntos internos de Portugal.
Acabo do regressar daquela nossa província. Os dias que ali passei recentemente não mais me esquecerão. A grandeza do entusiasmo patriótico, que irreprimivelmente jorrou do peito de todos os angolanos, em momento que sentiram de ofensa ao seu indesmentido portuguesismo, jamais poderá ser olvidado pelos que tiveram a dita de a ele poder assistir e que, como eu ficam com mais radicada certeza de que o Transmontano, o Beirão, qualquer outro natural de outra qualquer província, das muitas que Portugal tem espalhadas pelo Mundo, não é mais português, não é mais patriota, não quer mais à sua imperecível pátria, que o Angolano, sem distinção de cor ou credo, porque todos se sentem irmanados no mesmo elevado ideal, criado sim séculos de uma acção civilizadora, norteada sempre pelo amor e o respeito ao próximo.
Estas manifestações, de que presto testemunho, que se repetiram por todo o Portugal e que VV. Exas. aqui verificaram, tiveram lá, na nossa província de Angola, o cunho especial dos que se sentiram directamente atingidos e ofendidos pela insensatez de quem julgou que separação geográfica podia significar, mesmo que ligeira, qualquer quebra da universalidade do espírito português ou do amor da Pátria una, sempre manifestado onde quer que se encontre um lusitano, até mesmo quando vivendo e trabalhando em terras estranhas à sua.
Foram estas manifestações provocadas pela farsa da votação levada à cena na O. N. U. e que culminou - ridícula conclusão - na sugestão de que Portugal não podia ser aquilo que se fez por si próprio e que parcialmente, deveria perder a sua maioridade e, consequentemente, passar a uma espécie de tutela só concebível em mentes ignorantes, desconhecedoras da história do velho Mundo, onde a nossa raça escreveu tão belas páginas.
Sem muito me deter sobre essa votação, não quero deixar de prestar homenagem aos países que em coerência com princípios que os regem e são também os nossos, numa absoluta independência - de louvar num Mundo cheio de fingidas independências, demonstrando conhecer o nosso país e o muito que tem feito pela civilização, não hesitaram em repudiar, com o seu voto de desaprovação, as insídias, as calúnias que acompanharam a proposta, a pretensão mal mascarada dos que praticam, com enorme, desplante -, não um imperialismo que dizem reprovar e que, mesmo assim, no seu tempo, ainda teve um sentido de elevação e de ajuda ao progresso dos povos; mas que praticam uma forma de opressão das mais vergonhosas, que nega toda a manifestação da personalidade humana, não reconhece os sagrados directos do homem, que entende nivelado e com absoluta extinção do seu individualismo natural.
Aos primeiros devemos o nosso conhecimento a sua inteireza, de carácter; os outros, sobejamente conhecidos, dispensam que deles nos ocupemos mais. Queremos, porém, fazer uma referência a países que os seguiram - uns por persistirem na ignorância da verdadeira situação do Mundo actual, outros pela imaturidade em que se conservam e lhes não permite escolher com justeza o caminho a, trilhar porque não conseguem, por enquanto, distinguir o bem do mal.
São naturalmente compreensíveis algumas das atitudes que acabamos de citar; porém, difícil nos é desfazer a sensação de desgosto que nos causou vermos países que. se não pelas obrigações que nos devem, por aquelas que têm para com unia civilização que é a sua, que é também a nossa e de que sempre fomos pioneiros, se reservaram, se abstiveram, que deixaram de proclamar os princípios que abertamente deviam defender, numa repetição de atitudes que já deram amargos frutos, cuja acridade deviam sentir ainda.
Sabemos, e sabem todos os portugueses, que na o nos ofende quem quer. Para tal é necessário categoria e elevação.
Ao aderir à Organização das Nações Unidas, nunca Portugal pensou que no seu seio se pudesse vir a verificar menos respeito pela soberania de cada Estado. Infelizmente, verificámos atitudes que desmentem este pressuposto, tomadas por quem certamente, não preza