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256 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 186

cução será elemento indispensável a um criterioso sucesso.
Reconhece-se a existência de factores que dificultam este objectivo: dispersão dos edifícios escolares, pequeno volume de cada construção, modéstia dos recursos locais em mão-de-obra e materiais de construção. Logo, porém, se aconselham outras medidas que compensarão tais desvantagens: maior simplificação nos projectos, recurso a materiais regionais para a construção, métodos de construção compatíveis com as possibilidades de mão-de-obra, intensificação da pré-fabricação, normalização dos materiais ...
Importa na verdade, que a técnica e os serviços administrativos estejam à altura de tamanlias exigências. A experiência colhida na execução do Plano dos Centenários ajudará a compreender que não podemos ficar à mercê de improvisados construtores, sempre dispostos a navegar na aventura.
Mas se estas exigências se compadecem com a solidez das constrições, o seu bom aspecto e a sua integração no ambiente local, convém sobretudo não esquecer aquele mínimo de requisitos pedagógicos cada vez mais presentes a medida que se vai valorizando o ensino.
Penso que o ensino elementar das nossas populações rurais não deve perder de vista duas coordenadas: a integração do homem no respectivo meio e a vocação ultramarina de Portugal.
A hora que passa será prelúdio de uma mais eficiente ocupação e valorização do ultramar português se soubermos preparar as gentes dos campos para tamanha tarefa.
Simultaneamente, não devemos descurar o ensino agrícola e artesanal das massas rurais.
Afirma-se -, amiudadas vezes, constituir ilusão perigosa acreditar na. simplicidade do ofício de agricultor.
Ë porém triste constatar como uma boa maioria das populações rurais se encontra em déficit perante os mais elementares conhecimentos relacionados com os métodos adicionais de cultura, selecção de sementes e de frutos, técnicas de mercados, de preços e transportes, contabilidade das explorações, etc.
Muitas vezes recordo uma velha afirmação de Manjon, a que o tempo parece não ter roubado certa actualidade:
«Tu, é mestre, ensina o que é essencial ao homem e necessário, em nossos dias, para viver em sociedade; mas se os teus alunos não vão para bacharéis, mas antes para trabalhar a terra, a madeira e o ferro, ensina-lhes o que lhes poderá interessar nesta medida e não carregues as suas cabeças com ideias ou palavras que para eles não terão utilidade. Nalgumas escolas sobram alvez os livros, mas faltam os campos e as oficinas, prodigaliza-se a palavra e menospreza-se a experiência e a realidade».
Por isso, tenho saudado com júbilo as preocupações do Ministério da Educação Nacional relativamente ao ensino elementar agrícola.
Verifico, com tristeza, como em regiões idênticas à minha as crianças aprendem absolutamente alheadas da terra em que deveriam ter suas raízes. Não será esta uniformidade literária, causa de desamor à agricultura, mais um elemento a fomentar a debandada dos campos, engrossando um urbanismo que se traduz no peso de populações que não se encontram preparadas para a vida da cidade, avolumando aí um sector terciária de valor económico nulo e expressão social parasitária?
O mesmo se poderia dizer, aliás, relativamente ao artesanato e às pequenas indústrias locais.
Queremos com tudo isto significar, Sr. Presidente, que à escola interessam o museu, a oficina, a pequena horta. E, se assim acontece, não deveremos restringir a construção dos edifícios escolares a uma planificação uniforme, a uma modéstia que necessariamente os confine à inevitabilidade de um ensino indiferenciado e de sabor académico.
Ë ainda aqui que se situa o problema dos terrenos para as escolas. Não justificará esta instrumentalidade pedagógica que os encargos com a sua aquisição sejam também parcialmente suportados pelo Estado?
Mas nem será indispensável recorrer a raciocínios enfeudados à pedagogia para concluir pelo bom senso de tal solução. A lógica, a experiência e até a justiça bastam-nos. Não vejo, por outro lado, razões que possam conduzir à afirmação de que por este caminho se desencoraja a generosidade dos particulares ou o grau de diligência que as câmaras municipais devem pôr na aquisição dos terrenos. Antes pelo contrário. A circunstância de os municípios contarem com a ajuda do Estado constitui um estímulo e, sobretudo, um apoio que permitirá vencer a barreira das carências financeiras.
Poderá, é certo, argumentar-se com a situação especial dos terrenos nas cidades. Mas estes casos deveriam conhecer solução paralela à preconizada na base X da proposta relativamente às construções.
E passamos às cantinas escolares.
O sucesso da solução preconizada tem atrás de si os condicionalismos que a própria proposta refere (n.º 2 da base VII).
Simplesmente, os que pertencemos às regiões montanhosas do interior do País sabemos dos estimáveis benefícios que as cantinas poderiam prodigalizar aos filhos dessas populações.
Guardo dos meus tempos da instrução primária a recordação daqueles companheiros que, por caminhos ínvios e pedregosos da montanha, se deslocavam dos seus casais ou lugarejos à escola na vila. Uma pequena saca feita de trapos, a que a variedade de cores dava uma nota garrida, servia para acondicionar os livros e a merenda. Estas crianças faziam a principal refeição do dia sentadas em pedras, junto da escola, comendo broa e uma ou outra sardinha frita, compradas no mercado quinzenal. Sentiam, na alegria descuidada da sua pobreza, as insuficiências de uma alimentação que logo nos primeiros tempos de vida, se os libertara, ainda assim, de engrossar a taxa de mortalidade, lhes deixara marcas nos índices da constituição física.
Mas como poderia a gente da. serra aguardar que a generosidade de outras pessoas fizesse surgir uma cantina se todos eram parentes na pobreza?
Agora, que tanto se fala na ajuda às regiões menos desenvolvidas, penso na obrigação que deve recair sobre o Estado de rever a sua política em matéria de cantinas, afeiçoando a legislação a um apoio mais eficaz e, sobretudo, graduando-o de forma a beneficiar intensamente as crianças das zonas atrasadas, onde as dietas alimentares revelam notórias carências.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: são igualmente dignos de aplauso os propósitos expressos relativamente à construção de casas para os professores.
Com estas realizações sairão beneficiados não só os mestres-escolas, mas aqueles em que se projecta, mais ou menos directamente, a sua missão docente.
Sabemos como é penoso para alguns professores, que conheceram um nível, ainda que modesto, de comodidades, estabelecerem-se em aldeias onde nem sequer encontram habitação. É fácil reconhecer essas localidades tão desprovidas até pela frequência com que se encontram vagias as respectivas escolas.