22 DE ABRIL DE 1961 811
Agora, mais do que nunca, importa cercear despesas inadiáveis e há que fazer um apelo a compreensão daqueles que, embora com aspirações legítimas, bem podem sofrer o desgosto de as ver retardadas. Para esses terá soado a hora de mostrar que sabem esperar.
Ninguém pode deixar de fazer sacrifícios para que os vindouros - os homens que nos hão-de julgar - "nos não acusem, perante a história, de egoísmos fundados que, a verificarem-se, nos poderiam ser fatais.
Temos de mostrar-nos dignos dos nossos maiores, que nunca hesitaram em consumir riquezas, sacrificar vidas e dispensar repousos merecidos para erguer bem alto, no mastro da nossa honra, que o é também do nosso orgulho e da nossa glória, a bandeira sagrada das quinas.
Ela permanecerá onde está, mas para isso temos- de unir vontades, esquecer ressentimentos, renunciar a muitas coisas que, em horas normais, não pareceria mal que exigíssemos.
Um por todos e todos por Portugal!
E se assim for, não tenho dúvidas de que venceremos, com a ajuda da Providência, que costuma acudir e ajudar a quem a si próprio se ajuda.
Temos de olhar para além de nós e, em ordem ao futuro, com o nosso sacrifício e exemplo, ensinar e legar aos nossos filhos tudo o que aprendemos e herdámos dos nossos maiores.
Conservar inteiro o património que eles conquistaram ao sol inóspito de mil caminhos - os caminhos da nossa epopeia, da nossa vocação missionária no Mundo.
Sr. Presidente: vou terminar, mas não o faço sem que o meu pensamento voe até às terras martirizadas da nossa querida província de Angola, onde correu já, abundante e generosamente, tanto sangue português.
Se é possível, esse sangue vinculou ainda mais a Portugal aquele pedaço de terra portuguesa.
Sejamos dignos dele e façamos, por nossa vez, que ele se não tenha derramado inutilmente. Sobretudo, tenhamos sempre na mente que por Portugal de aquém ou de além-mar todo o sacrifício, por mais pesado e custoso que seja, é sempre devido e pequeno.
Disse.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.
O Sr. Sousa Rosal: - Sr. Presidente: é. fora de dúvida que o parecer sobre as Contas Gerais do Estado é o documento mais importante que periodicamente é submetido à apreciação desta Assembleia.
Nele se dá conta da maneira como o Governo administrou á coisa pública, segundo a autorização que a Assembleia lhe confere anualmente pela Lei de Meios.
A maneira esclarecida e objectiva como a gerência é avaliada honra o seu relatório e, pela independência que lhe imprime, faz dos pareceres a verdadeira história da administração pública da época de Salazar.. Da apreciação dos seus aspectos financeiros e económicos pode-se não só avaliar as notáveis realizações materiais, mas também tirar conclusões sérias para ajudar a definir a espiritualidade de uma política e caracterizar um regime pelos dons e defeitos revelados na orientação e nos passos dados no campo administrativo.
Não vou meter-me no mundo das suas considerações, porque não saberia andar nelas em altura suficiente, nem sairia delas com conclusões que pudessem influenciar o julgamento proferido com tanta autoridade e propriedade pelo seu ilustre relator, que é o consagrado economista engenheiro Araújo Correia.
Venho tão somente à discussão com um ligeiro apontamento feito à margem nesta hora perigosa para a integridade e sobrevivência da Nação, em que, ao lado do esforço militar que exige se tem de intensificar e aprofundar o esforço económico como meio de robustecer a assistência financeira em que se tem de apoiar a acção militar, alterando a cadência do ressurgimento económico a que estamos votados em razão de uma política e pelos compromissos que assumimos na Associação Europeia de Comércio Livre.
O nosso convívio fraternal com os povos de diferentes raças, religiões, hábitos e graus de civilização está sendo seriamente perturbado ria terra portuguesa por comando exterior assente, em casa do inimigo poderoso e movimentando habilmente contra nós a incultura e a inconsciência de certos condutores de homens que o destino pôs no comando de alguns países e que estão fomentando ódios precursores de um clima de anarquia total, que só pode conduzir ao caos, numa inversão completa da sua alta missão de servir com honestidade e sem paixão os povos que chefiam e a civilização em que estão integrados.
O estado de guerra em que foi posta a nossa província de Angola dá a noção da luta que temos de enfrentar e dos sacrifícios que temos de fazer para manter íntegra a soberania e a terra portuguesas.
E por de mais sentida a indispensabilidade da formação de uma frente nacional para a condução da batalha a que estamos sendo forçados e na qual se assinalaram já duros e traiçoeiros combates, para a qual temos de mobilizar todas as nossas virtudes e p poder económico e financeiro e levantar bem alto a bandeira da Pátria e um ideal que tenha força para agregar em volta dela todos os portugueses não enfeudados por desorientação ou ódios a teorias de traição.
Na linha deste pensamento está a acção proclamada por Salazar ao assumir a chefia directa do departamento governamental da Defesa Nacional e a orientação marcada desde .há muito pelo comando da economia para o ressurgimento nacional.
Acção que tem de ser revolução que galvanize as inteligências e as energias e mobilize os meios em ritmo acelerado, pondo-os sob comando competente e leal para poderem servir bem e com a mesma coragem e espírito de sacrifício e devoção patriótica como Salazar o faz na sua permanente vigília. Na actuação no campo da economia não pode o Estado alhear-se aos condicionalismos da política e da sua função reguladora e coordenadora e intervencionista mesmo para além do que lhe permite a Constituição por força das circunstâncias.
Tem de estar presente onde o interesses nacional o solicite com os seus investigadores e especialistas e com os seus investimentos ou aval.
Para a comparticipação necessária do esforço a fazer, quer de espaço, quer de tempo, quer na escolha dos objectivos que as circunstâncias recomendam que sejam os mais reprodutivos e essenciais ao esforço eventual e heróico que os acontecimentos exigem, não se sabe por quanto tempo, sem esquecer o bem social que se possa alcançar para o geral, da nossa gente, toda II contribuição por mais modesta que seja, desde que possa fornecer elementos e dar alvitres com fundamento, não se pode ter como inútil.
Ë com esta ideia que me dispus a carrear para o reforço da nossa, estrutura económica algum material do meu Algarve, naquilo que tem projecção para além do interesses regional e possa atingir objectivos que se tenham localizado no campo nacional ou internacional.
No geral, as províncias são vítimas da concentração dos grandes potentados económicos junto dos grandes centros urbanos, o que foi muito tardiamente reconhe-