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806 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 213

dade e responsabilidades ? Temos procurado actuar com espírito de colaboração, não perdendo de vista que a educação é obra de unidade?

Não desejo alongar-me, para que o pormenor não se sobreponha ao essencial, nem para que, exagerando deficiências, desse a entender que se perdeu de vista a dimensão nos problemas e a noção das possibilidades. Importa, e o entanto, lembrar o que às famílias parece mais urgente, pelas preocupações que ocasiona, pelos danos que pode causar.

Em matéria de saúde, e creio que é indiscutível que há um equilíbrio físico e psíquico, que é condição base de toda a educação, se se trata da criança, e da estabilidade familiar, se se trata de família, de cujo clima aquela defende fundamentalmente, é ainda hoje bem difícil à maioria das famílias suportar os encargos necessários para atingir ou manter esse mesmo equilíbrio ou recuperá-lo quando se perca por doença ou qualquer acidente.

Reconheço evidentemente os incomensuráveis benefícios prestados pelos serviços de assistência a milhares de famílias pobres e pelas organizações de previdência a um grande número de famílias de recursos limitados.

Mas estira o problema resolvido para a grande massa da população, especialmente para o meio rural? Para muitas famílias de classe média cujo orçamento equilibrado em tempo normal pode iludir as aparências e ocultar as tremendas dificuldades que surgem perante o primeiro obstáculo? Estará alargada a uma justa escala a profilaxia das doenças por meio de uma higiene baseada nos dados actuais das ciências médicas? Serão suficientemente acessíveis os exames periódicos (da boca por exemplo), as vacinas, etc.? Estarão as famílias suas condições de utilizar os recursos das últimas descobertas da medicina e da cirurgia, apoiando-se em diagnóstisos cuidadosamente- estudados? Poderão recuperar-se os deficientes motores sensoriais e psíquicos sem comprometer a vida dos membros sãos da família com os cuidados a dispensar ao que está em causa? Ter-se-ão aproveitado alguns dados fornecidos pelas estatísticas i; avaliado a economia que resultaria para o País da conversão de peso morto ocasionado por estes deficientes em indivíduos recuperados cuja felicidade seria prícisamente poderem tornar-se úteis?

Visto o problema por outra faceta, continua a falta de enfermeiras e os estudantes receiam a Faculdade de Medicina, que os prepara para uma carreira cujas condições técnicas, económicas e sociais de trabalho se desajustaram das realidades com o andar os tempos, quer nas. cidades, quer na província, que tanto reclama a sua presença!

Creio que este sector, que tão extraordinariamente se valorizou, com a criação do Ministério da Saúde, pode, de futuro, esperar novas decisões do problema sob um ângulo suficientemente largo para abranger as instituições, a preparação integral do pessoal necessário, as condições das famílias, não esquecendo uma melhor coordenação entre a chamada saúde e assistência e a previdência.

Quanto à educação propriamente dita, que progresso espantoso verificado nestes últimos anos! Campanha contra o analfabetismo, actualização de programas da escola primária, melhoria de vencimentos do pessoal docente, aumento de edifícios, etc.!

No entanto, a preocupação dos estudos dos filhos, da sua conduta, da sua integração social, está. longe de nos abandonar, irmanando as famílias mais desprotegidas e as de vida mais desafogada.

Temas instituições modelares, é certo, oficiais e particulares, mas a promoção social com o acesso aos graus mais elevados de estudos que se verifica em Portugal, como em toda a parte, o mundo obriga-nos a uma atenção permanente e sensata aos meios de obviar a escassez de professores e construções escolares. Teremos, porém, de aceitar ainda por tempo indeterminado os programas do ensino liceal e alguns do ensino superior tão desactualizados quanto a matéria, se tivermos em conta o avanço de todas as ciências, e tão afastados das regras da pedagogia moderna?

Esquecemos porventura quem são esses estudantes que chegam aos bancos da escola batidos pelos ventos da agitação moderna, dispersos e esvaziados, pois que presos a centros de interêssse bem diversos daqueles que fixaram a atenção dos alunos a quem se destinaram em tempos os mesmos programas? Não haveria mais possibilidade de aproveitar o concurso da moderna psicologia e da higiene mental em matéria de educação ? Não seria viável, por exemplo, atrair aos centros da grande escolaridade a colaboração de especialistas a cujo saber e experiência pudessem apoiar-se as famílias e os professores ? Ao examinar as pautas, verdadeiros testes dos . alunos classificados, todos verificamos que muitos alunos estão, na verdade, desviados do seu rumo, ou por simples falta de correspondência entre o curso que frequentam e as aptidões que revelam, ou por deficiências recuperáveis por uma acção consciente e educativa das famílias e da escola, quer em regime normal, quer em estabelecimentos adequados.

Que trabalho esgotante estes maus alunos causam aos mestres, impedindo-os de atender convenientemente as classes regulares e preparar com cuidado o escol que sempre se adivinha por entre u massa. As famílias, a quem eles causam os maiores desgostos e prejuízos, seriam as primeiras a agradecer os meios de equacionar as suas dúvidas e de encontrar melhor caminho para as resolver. Que desadaptações futuras se poderiam impedir, evitando em larga medida o cortejo de desgraças, cujas consequências sociais são sobejamente conhecidas!

Sucede por vezes que não é propriamente a orientação escolar que está errada, mas os horários que não são suficientemente completados por actividades circumes-colares, quer por falta de preparação e condições de vida das famílias, quer por insuficiência de iniciativas adequadas. Sei que uma calorosa palavra de louvor cabe a certas organizações, em que a Mocidade Portuguesa, a Mocidade Portuguesa Feminina e algumas particulares ocupam lugar de relevo. Não podemos na verdade esquecer que para além do estudante existe o adolescente, com a exuberância que lhe é própria, as chamadas "crises", hoje tão faladas e discutidas, mas estas esperam a nossa resposta prática, se não queremos que os perigos que as assaltam pela calada tomem conta da situação. Quem não conhece hoje o valor da vida ao ar livre, da sã camaradagem, do trabalho por equipas, etc., que têm sido sábia e oportunamente aproveitados por aquelas organizações na formação do carácter dos jovens? E quando ouvimos o depoimento de alguns valores da geração dos novos que por lá aprenderam a assumir responsabilidades e a servir as grandes causas e nos falam com gratidão dos movimentos que os ajudaram a fazer nobremente a travessia da infância à idade adulta reafirmamos a convicção de que muito se poderá ainda fazer neste sector, completando a acção da família e dá escola nestas idades decisivas para a formação da personalidade.

Ainda uma palavra incluída nestas preocupações: será suficiente franquear às nossas raparigas as portas de todas as escolas se não atendermos o bastante à formação da futura mãe e dona de casa? A sociedade, aliás, não perdoa faltas e fraquezas, ainda que seja ela a culpada de todas as deficiências. Quero aqui vincar