22 DE ABRIL DE 1961 805
sinal de menor confiança por quem a tem incontestavelmente merecido, anãs poderia talvez significar diminuído interesses .por aquilo que é, afinal,, o fruto do nosso trabalho e poupança, e que visa directamente a felicidade do povo português e o prestígio da Pátria. Seria inclusivamente desleal a ausência da nossa opinião, por modesta que esta seja, se não nos juntássemos depois a quaisquer comentários sobre as medidas tomadas.
É evidente que o ângulo de visão difere com a mentalidade dos homens e com o ponto de observação em que se situam. A uns parece essencial o que a outros se apresenta como acessório. As mesmas iniciativas serão toma dag como reprodutivas e antieconómicas, importantes e inúteis, justas e injustas, consoante os observadores, isto considerando apenas os bem intencionados. Todavia, o seu depoimento sincero não pode deixar de constituir uma base de reflexão para quem tenha de medir em última análise os dados concretos dos problemas, aferi-los pelos critérios que presidem u nossa ética tradicional e encontrar-lhes a melhor solução.
Tão completo, objectivo e fundamentado se nos afigura o trabalho da ilustre comissão redactora, que não podemos deixar de dar ao parecer das coutas o nosso incondicional voto de aprovação e de pedir ao Governo o exame atento daquele documento tão digno de consultar-se na gestão difícil do orçamento do Estado.
Seria este motivo razão bastante para me levar a subir a esta tribuna, se não me demovesse ainda o intuito de trazer a V. Ex.ª e à Câmara um breve apontamento sobre um assunto cuja relevância me proponho destacar.
Quero referir-me à educação, desejando abranger nesta palavra todo o esforço tendente a fazer da criança um adulto, capaz de assumir as responsabilidades que lhe forem pedidas. Envolve, pois, as iniciativas que têm como objectivo defender-lhe a saúde, formar o seu espírito, proporcionar o clima familiar e social adequado ao seu desenvolvimento. A intervenção que me proponho fazer significa da minha parte um agradecimento ao Governo pelo muito que já se caminhou neste sector, mas também o pedido do melhor interesses pelo problema e de mais cuidada atenção « forma de o resolver.
Significa ainda a afirmação de que as famílias, coutando embora com a valiosa colaboração do Estado, sabem que lhes não assiste apenas o direito de receber passivamente um auxílio, aliás necessário, mas sentem que a elas cabe, como mais alto e sagrado dever, a missão de educar, com as responsabilidades e sacrifícios que ela importa.
Longe de mini supor que esta obra, que é a mais nobre e a mais difícil que alguém possa empreender, possa fazer-se em moldes rígidos e rigorosamente previstos por qualquer entidade. Aliás, as experiências nefastas de povos que o tentaram põem de parte qualquer dúvida sobre a eficácia e o valor de sistemas que a nossa mentalidade cristã repudia sem qualquer reserva.
Mas todos não somos de miais para levar a cabo tamanha empresa, e não pode ficar-nos mal que ao assegurar o desejo de cumprir formulemos o pedido de que nos sejam facilitados os mais dignos e actualizados meios de o conseguir.
Sr. Presidente: nesta curva da história em que a técnica modifica a todo o instante o condicionalismo da vida dos povos é difícil «os educadores prever as tarefas que as gerações futuras serão convidadas a desempenhar. Mas que esta juventude, a quem não faltará o desejo de responder à chamada, quaisquer que
forem as circunstâncias do seu tempo, sinta que aqueles a quem hoje cabem responsabilidades a seu respeito deram à formação dos novos o melhor da sua ajuda. Ajuda feita de compreensão pelos seus legítimos anseios e problemas do seu tempo, em primeiro lugar; ajuda feita de experiência que, sem descrer dos entusiasmos juvenis, os defenda, dos perigos que os espreitam insidiosamente; ajuda feita de uma acção concreta e dedicada. Sem excluir a possível mobilização de verbas necessárias e a sua inteligente distribuição.
Uma nação vale o que valerem os seus homens. Temos disso os mais variados exemplos. Houve nações que deram ao Mundo o espectáculo porventura esplendoroso de obras aparatosas e de uma actividade excelente, mas ruíram com estas, deixando do Mundo a dúvida de que o carácter e as virtudes do seu povo estavam aquém das demonstrações externas da sua vida. Outras, porém, quer na antiguidade, quer nos últimos lustres, foram provadas durante a sua existência por cataclismos, guerras, epidemias, perseguições. Reduzidas a pó as suas obras, despojadas das suas riquezas, sacrificadas as populações, vimo-las surgir dos escombros1 com a fé e a confiança de sempre e afirmar em novas realizações a sua inquebrantável força de espírito. Também a nossa história conheceu momentos de glória e de crise, de luta e de acalmia. Assumimos posições de que nos podemos legitimamente orgulhar, outrora como nestes conturbados tempos, e tão afincadamente se incomodam alguns com a nossa presença no Mundo que podemos ter a certeza de que somos alguém e de temos hoje, como ontem, uma missão a desempenhar.
Como ontem, seremos o que quisermos, o que esperarmos e exigirmos de nós, o que transmitirmos aos vindouros.
E quem são esses vindouros?
Mocidade espalhada por quatro continentes - quase d I ria, cinco, lembrando os portugueses que vivem no país irmão. Potencialmente rica na sua variedade multirracial, não lhe falta matéria-prima excepcionalmente dotada para todas as expressões da actividade humana nem tradição gloriosa para lhe dar razão de ser e de lutar.
Mas não podemos esquecer que os tempos se sucedem em galopada estonteante, trazendo a cada geração um condicionalismo bem diverso do que acompanhou a anterior. Vive-se hoje a um ritmo que põe à prova a resistência física e psíquica dos mais aptos.
Exigem-se ao indivíduo médio conhecimentos gerais e especializações de ordem técnica e científica que fariam estremecer os melhores valores de há 100 anos.
Sujeita-se a inexperiência dos novos aos embates de uma sociedade trepidante, que a loucura dos homens tenta abalar nos seus alicerces.
Bem pode dizer-se que não se consente que a mocidade acabe de crescer na calma, na alegria e na segurança, que são condições do equilibrado desenvolvimento humano, sem lhe exigir mais do que ela pode dar.
Ë em relação a esta mocidade que me atrevo a pedir que mais uma vez se reveja o trabalho realizado e o que é legítimo vir a realizar-se, redobrando esforços, emendando erros, apoiando iniciativas que já deram as suas provas.
Temos nós, na verdade, inspirado a obra da educação nos ideais de sempre, dando-lhe expressão viva e autêntica nos dias de hoje? Temos atraído na medida do possível a estas tarefas os melhores valores da nossa terra, estimulando e compensando dedicações, que nunca faltaram, para que não deixe de sentir-se junto dos novos o prestígio e a autoridade de uma verdadeira elite? Temos dado à família as condições económico-sociais de vida que são compatíveis com a sua digni-