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808 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 213

Também aqui é preciso encarar com serenidade os factos. Ceda época tem o seu grau de progresso, que atingiu sujeitando a matéria às ambições do seu espírito pelos meios técnicos e científicos de que dispunha. O que tornou os homens felizes em todos os tempos e as sociedades civilizadas não foi o quantitativo das realizações efectuadas, mas o equilíbrio entre o nível da maturidade e do seu espírito e a situação material em que se encontravam.

Quando há pouco falava de certo confronto que poderia levar alguns ao desânimo e outros ao orgulho, não me referia à comparação de empreendimentos que possam reflectir apenas a maior ou menor riqueza dos povos e a variedade que lhes é própria. Creio que essa não nos deve preocupar.

A exploração de grandes recursos pode até ocasionar um progresso material mais rápido do que a evolução do espírito, com grave risco de comprometer a supremacia da cultura sobre a técnica.

Pode também a ânsia deste mesmo progresso levar o homem à escravidão das suas próprias realizações, converter dê-se, assim, os meios pacíficos em fins tiranizantes.

O que importa é, sim, o confronto do potencial humano e material que cada nação possui com as responsabilidade que lhe cabem à luz dos seus ideais e verificar se o avanço possível se faz dentro daquela hierarquia de valores a que há pouco me referi: a subordinação dos meios aos fins da tecnocracia à cultura, da satisfação das paixões às aspirações da alma, numa coerência de pensamento é de acção.

Serão as nações que souberem encontrar este difícil equilíbrio que estarão em melhores condições de promover e apoiar a elevação de nível de povos subdesenvolvidos, a quem o progresso, podendo hoje, felizmente, oferecer benefícios que possam minorar os seus sofrimentos, pede, em poucos anos, um esforço de evolução que custou séculos aos velhos continentes. Só mãos amigas poderão acompanhar este trabalho gigantesco a que assistimos nos nossos dias.

Só Deus sabe que parte importante da luta pacífica e tenaz pela felicidade desses povos nos caberá a nós, Portugueses, que sempre nos empenhamos nessa tarefa, sem que fosse preciso lembrá-lo, e conhecemos como ninguém: a linguagem da gente simples com quem convivemos longos anos em todos os caminhos do Mundo.

Isto exige, porém, de nós próprios uma obra de educação em que todos devemos sentir-nos profundamente com prometidos.

O que me leva a crer, quer medindo o problema à dimensão do Mundo, quer olhando de perto a vida concreta das famílias, que educar é obra essencial, a considerar como tal nas Contas Gerais do Estado.

Poderá não sobressair à primeira vista, a sua rentabilidade.

E edificar um monumento invisível, que os olhos humanos não poderão admirar; eterno, porém, porque o sangue e a alma de cada homem permanecem vivos através das gerações ... e o valor dos homens testemunhado pela grandeza das suas obras, desafia a reprodutividade dos meios de os erguer!

Haverá, certamente, outras obras de vanguarda, cuja importância e urgência ninguém contesta: a defesa do sagrado território pátrio e das vidas de irmãos nossos está hoje na primeira linha das nossas obrigações, importe e embora o sacrifício do nosso bem estar!

A educação é, no entanto, a retaguarda firme e inesgotável onde todas as demais encontram solução. Portugal de aquém e de além-mar precisa de contar, como nunca, com homens que saibam descobrir e utilizar os

segredos da natureza, com o escol que saiba manifestar-se naquela equilibrada expressão de cultura e de técnica que prestigia a Pátria, com os chefes que estejam dispostos a servir com honra e lealdade, dando testemunho autêntico das virtudes dos seus maiores, de gente que possa, afinal, hoje como outrora, prestar ao Mundo o serviço do seu valor.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem! A oradora foi muito cumprimentada.

O Sr. Araújo Novo: - Sr. Presidente: não pertenço ao número dos que acreditam ma fatalidade dos chamados ventos da história e, bem pelo contrário, continuo a acreditar que os acontecimentos determinantes dela são hoje, como o foram ontem e hão-de sê-lo amanhã, obra dos homens e da vontade que os anima e conduz da persecução de um fim mais ou menos nobre ou mais ou menos inconfessável.

São estribilhos como este que têm criado no Mundo um clima deletério e perigoso, habituando os espíritos à ideia cómoda de que é inútil lutar e de que é preferível e sensato conformar-se a gente e dar-se como vencido e convencido, numa atitude de demissão, que significa, afinal, negar a supremacia do espírito e de todas as faculdades humanas.

Não há ventos fatais, como não há acontecimentos que a história registe que sejam de geração espontânea . Serão sempre os homens e as suas paixões, os seus interesses ou os seus desvairos que hão-de soprá-los e desencadeá-los, embora, como aprendizes de feiticeiro, deixem depois de dominá-los a seu bel-prazer, como desejariam.

Não obstante, somos obrigados a admitir que sacode o Mundo um vendaval desfeito. De todos os quadrantes sopram ventos de insânia, que ameaçam varrer da superfície da terra valores morais que milhares de anos conquistaram para a civilização e constituem hoje património inestimável da humanidade inteira.

Destes valores se dizia que "a traça não devorava e o fogo não podia consumir". Tinham-se como intocáveis, porque, permanentes e válidos, não só para todas as latitudes, mas também para todos os tempos, eram, e são, universais. Por mais que a s paixões dementassem os homens, não havia atrevimento que subisse tão> alto que fosse capaz de os ferir de morte.

Neles alinhava o sentimento da honra, do dever, da vergonha, do respeito pelos compromisso" firmados; a dignidade do traio entre os homens e entre as nações

-base de toda a convivência possível entre os povos-, a gratidão pelos serviços prestados, a submissão ao direito e à moral; a repulsa pelas afrontas e vilipêndios injustificadas; a defesa intransigente do bem comum, da vida e da dignidade das pessoas, e ainda da integridade das pátrias.

Tudo isto constituía uma reserva inalienável, que ninguém beliscava impunemente e que só à força das armas quebrava e esquecia temporariamente quando os responsáveis se dementavam e recorriam à força como último recurso para fazerem vingar os seus caprichos e interesses.

Mesmo assim, apareciam depois os livros brancos, amarelos ou azuis a dar unia explicação ao Mundo e uma satisfação à história, manifestação residual ainda de unia certa dignidade, pretendendo justificar desmandos ou precipitações escusadas.

Onde isto vai!

Neste conturbado e desvairado mundo, que perdeu o senso e corre atrás de estribilhos ou miragens, estamos