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11 DE DEZEMBRO DE 1962 1351

tério de Lavos, adormecido entre planuras de verdes mestos e de poentes vermelhos como craveiros ensanguentados.
Sr. Presidente: a glória, no alto conceito de Cícero, é o ádito luminoso por onde os homens entram na imortalidade.
Mas como as estrelas, sem despirem a mesma veste de rainhas do firmamento, descrevem órbitas diferentes, como diferentes são os resplendores que emitem e as galáxias em que se situam, também é diversa a celebridade dos homens, como diversos são os caminhos que conduzem à sua consagração, embora acabem todos por encontrar-se no mesmo templo da glória.
Se umas personalidades, escalando espectacularmente o capitólio 'dos seus triunfos, se enfeitam com os mirtos de uma glória que deslumbra para depois esmaecer, outros, mais discretos e comedidos na aura que os envolve, trilhando radiosamente a via láctea de honra e do dever, distendem nas almas o fluido espiritual de uma admiração que não morre.
Se aqueles se assemelham às ondas alterosas que embatem no rochedo do litoral para depois, quebradas e submissas, volverem ao oceano de onde saíram, estes são como arroios perenes de água cristalina que fecundam, florescem e perfumam os vergéis por onde deslizam.
Não é por serem altas e frondosas, mas pela natureza, pelo solo e pelo clima, que as árvores dão os frutos mais apetecidos.
Não é pelo tamanho, mas pelo esmero da lapidação, que os diamantes mais intensamente reverberam e maravilhosamente fascinam.
Sr. Presidente: o engenheiro Egberto Pedro foi um espírito desprendido, consciência impoluta, alma liberta das vaidades coloridas da vida, revelando no conjunto da sua estrutura psicológica o cunho da mais castiça autenticidade.
Não lhe enalteceram o nome os festões de luzidas genealogias nem o seu berço foi «de marfim entre brocados», como diz o nosso Eça a quem o lê nos Contos.
E bem pode dispensar o desvanecimento dessas flores-cências sociais quem, como ele, perlustra a heráldica da sua vida com um devotado amor ao trabalho, com a luz de uma inteligência possante, com a firmeza de um carácter límpido, com a elegância de uma sensibilidade requintada, com a finura de uma modéstia translúcida e aliciante, com a probidade incontroversa e sem mácula da sua actuação profissional.
O prestígio do seu nome não lhe adveio por graciosa sucessão hereditária, mas por direito de conquista na luta ardorosa da vida.
Na roda de ilusões que o orgulho dos homens vai urdindo ainda há quem aponte como peça de maior valia do seu património espiritual apenas a glória dos feitos dos seus antepassados, como se a grandeza dos que foram pudesse suprir a pobreza dos que são.
Será sempre tremendo engano reputar como próprio o que, em verdade, é valor alheio. A gralha empavonada que a fábula desemplumou constitui um símbolo universal ...
O mérito do engenheiro Egberto Pedro foi a resultante da sua solicitude, do seu esforço pessoal, da chama ardente que crepitou no seu espírito e que só a morte conseguiu extinguir.
Se a estas virtudes acrescentarmos o desvelo de pai enternecido, de marido carinhoso e de amigo leal e prestantíssimo, talvez tenhamos encontrado os contornos do perfil moral do Deputado Egberto Rodrigues Pedro.
Nascido na pequena e vidente aldeia de Lavos, espraiando os seus olhos sonhadores pelos pinhais erguidos numa rigidez ascética e pelas dunas adustas sob chapadas de sol mesclado de maresia, ouvindo, numa confusão estranha e sedutora, as vozes da floresta e o bramido do oceano, Egberto Pedro sentiu que o seu espírito tinha asas para abraçar a Natureza.
As coisas têm, por vezes, segredos latentes que misteriosamente encaminham as almas.
Lamartine, tocado pela beleza abscôndita das coisas, cinzelou poeticamente o ouro reluzente das suas Harmonias. E Herculano, desiludido dos homens, reconfortava os seus olhos tristes e solitários no conspecto de dilatadas campinas.
Egberto Pedro encetou em Coimbra, com raro entusiasmo, os seus estudos, que no Instituto Superior de Agronomia concluiu com muito brilho.
Era a voz do pai, modesto obreiro da floresta, era a voz da terra, era a voz da gente humilde e laboriosa a modelar, desde cedo, as suas aptidões de técnico consumado.
O brilho da sua vida académica foi o simples clarão de uma auspiciosa alvorada, porque, no decurso da sua carreira profissional, o seu talento desdobrou-se em preciosas florações nos vários cargos que ocupou.
Nas repartições técnicas dos serviços florestais, na metrópole ou no ultramar, o engenheiro Egberto Pedro patenteou a sua grande alma serenamente iluminada, amplamente compreensiva, extremamente delicada e generosa.
Muito acima das névoas da vaidade, da petulância ou de um hiperautoritarismo arrogante, nas relações com os seus subordinados foi superior afável, mestre solícito e companheiro lealíssimo. A todos ouvia, a todos ensinava, em todos incutia a força de um alento ou acendia o fogo de uma esperança.
Ele sabia bem que aqueles que, subindo os degraus da hierarquia, se apresentam sobranceiros e menosprezam os subalternos atraiçoam a sua missão.
Na flatulência da sua presunção mostram-se luzidios por fora, mas escurecidos e estéreis por dentro. No seu ruidoso artificialismo lembram elementos de pirotecnia que fascinam com fugazes fosforeseências, para depois se ocultarem no espaço imenso que sempre deixam vazio.
Ele sabia bem que o superior arrogante cria à sua roda, aduladores, intriguistas e hipócritas, mas nunca forma almas abertas, sinceras, confiantes, numa receptividade patente às luzes que irradiam os grandes ideais.
O engenheiro Egberto Pedro, na ascensão da sua vida profissional e sem a menor quebra ou afrouxamento do respeito à disciplina, crescia em modéstia, em transparência e em generosidade.
Em cada subordinado tinha um servidor, um discípulo e um amigo.
Dotado de uma cultura técnica acentuadamente especializada, assinalou com prestimoso relevo a sua passagem na Junta de Investigações do Ultramar, de que foi delegado junto da F.A.O.
Incansável na sua actividade, fez ouvir a sua voz autorizada em vários congressos internacionais.
São ainda testemunho incontestável dos seus méritos valiosas obras que publicou e que constituem do seu formoso espírito e omnímodo talento.
Numa ânsia incontida de conhecimento e de perfeição, com o mesmo entusiasmo percorreu as serras do continente como sondou os mistérios das florestas virgens do nosso ultramar, que, ébrias de música e ressumantes de perfumes, tinham para ele irresistíveis seduções.
Por isso, já alguém que muito o admirara alvitrou, com justiça, que, a título póstumo, lhe fossem concedidas