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DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 67 1772

de abastecimento, outras vivendo sem sombra de concorrência e até sem possibilidades de gastar a madeira disponível.

Este problema ainda se agrava quando na mesma região das fábricas existem os engenhos ou as pequenas serrações rurais do tipo familiar ou artesanal que trabalham em madeira de construção civil e que podem pagar a madeira pelos mais elevados preços, desorientando o lavrador e prejudicando as fábricas.

A distribuição de uma floresta de pinheiros só em raros casos e em poucas regiões permite uma exploração racional e económica, pois para o fazer qualquer fábrica média necessitaria- de ter à sua disposição 2000 ha a 8000 ha, pelo menos, de pinhal contínuo para lhe garantir o seu regular abastecimento de madeira.

A aquisição da madeira é feita normalmente pela compra directa de pinhais aos particulares, em leilões do Estado ou dos corpos administrativos, ou, na sua maior parte, aos madeireiros, com quem dificilmente o fabricante pode competir na aquisição dos pinhais.

Como o preço da venda do produto é fixado pelo exportador, o fabricante para trabalhar tem de pagar a madeira por qualquer preço e quando sobe o preço pago pelo exportador, imediatamente sobe o preço pago pela madeira, absorvendo todo o possível lucro onde a matéria-prima é inferior às necessidades e todo esse excesso de preço é queimado na competência da aquisição da madeira regionalmente disponível a fim de trabalhar o maior número de dias possível.

O industrial é o único sacrificado, nessa competência e daí a grave crise que atravessa e a que á indispensável atender e remediar, o que supomos não será muito difícil, pois vão nisso o interesse de dezenas de milhares de operários e o futuro de uma indústria totalmente dedicada à exportação que traz para o País anualmente mais de meio milhão de contos de divisas e é a quinta ou sexta exportação portuguesa, para a qual não se tem olhado e de quem sistematicamente se tem ignorado os problemas e os interesses, mesmo quando alguns relato-los oficiais confirmaram a existência dos problemas agora pontadas.

Em muitos casos ainda o industrial se defende a custa o operário, pagando-lhe menos que o salário mínimo e brigando-o a trabalhar mais que as horas normais, tanto mis facilitado esse abuso, para alguns, pelo carácter irai da actividade e pela localização das fábricas, fora os grandes centros e portanto de difícil fiscalização. E ainda pode muito a ameaça de que noutras condições a fábrica fechará, com a inevitável consequência do desemprego mais ou menos prolongado, tanto mais para mer que em muitos casos o fabricante é também proprietário rural, e a não sujeição ao trabalho exigido na orica implica também o seu não aproveitamento nos trabalhos agrícolas do mesmo patrão, que servem de vontade aos períodos de pouco ou nenhum trabalho da fábrica.

Apontam-se ainda às fábricas algumas culpas muito ricas da falta de modernização dos suas instalações, deficiências de organização, de não especialização dos ricos e normalização dos produtos. Enfim, fala-se teoricamente como se de outra indústria se tratasse, esquecendo as realidades e o condicionalismo próprio de uma indústria de serração de madeiras para embalagens.

Não vale a pena alongarmo-nos nestes aspectos, pois realmente algum dia estes problemas forem encarados vontade de resolução os aspectos de mais fácil sobre o serão precisamente estes e não são ignorados dos outros industriais mesmo que tal não pareça.

Finalmente temos:

3.º O problema da exportação. - É Portugal o primeiro país do Mundo, e com larga diferença dos outros, como exportador de madeiras para embalagem. Bastará dizer que a nossa exportação ultrapassa e de longe a soma dos volumes dos outros principais exportadores - Suécia, Finlândia, Áustria, Jugoslávia, etc.

Com esta posição tão dominante do mercado internacional de embalagens não devia haver grandes dificuldades para o exportador português na colocação dos produtos e na conquista dos diferentes mercados e até de novos mercados.

Tem sido o esforço e o arrojo de alguns particulares, com pouco ou nenhum apoio oficial, que permitiu esta expansão, a muitos títulos notável, e que tem trazido ao País a possibilidade de utilização de uma riqueza nacional.

Porém, a nenhuma disciplina da exportação, as dificuldades que o Grémio tem para impor qualquer critério de disciplina aos exportadores, que seja eficaz para contrariar a luta que entre eles por vezes se move, tem trazido ao País. gravíssimos prejuízos, a que urge pôr cobro imediatamente.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não é só o prejuízo, que podemos avaliar sem grande receio de exagero em cerca de 100 000 contos anuais que o Puís deixa de receber, mas até por uma questão de decoro e de prestígio do País.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - São pouco edificantes e abonam muito pouco a favor da inteligência e correcção do nosso comércio exportador as lutas de competência no estrangeiro em que os nossos exportadores se envolvem, baixando preços muito para além da concorrência estrangeira, 20 e 30 por cento mais baixo, só para conquistar um mercado ou um cliente, que é evidente que só é conquistado uma vez, pois daí para diante será o primeira a provocar a luta e a concorrência entre os exportadores portugueses para ainda obter melhor preço.

E afinal este melhor preço vem a ser obtido apenas à custa da ruína de toda uma indústria e dos péssimas condições financeiras de dezenas de milhares de operários, que não podem ser mais bem pagos porque se deixou nas mãos do estrangeiro aquilo que deveria contribuir, na sua quase totalidade, para melhorar os seus salários.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A concorrência dos exportadores portugueses no estrangeiro entre si é um atentado à economia nacional e bem necessita que o Governo urgentemente encare este problema e lhe ponha cobro, doa a quem doer.

Sr. Presidente: por tudo o que fica dito e o mais que ainda poderia dizer acerca deste problema parece que alguma razão assiste aos queixumes de que a imprensa por vezes se fez eco e que é necessário e indispensável ouvir os interessados e procurar rápida e eficientemente remediar os seus males e atender as suas queixas.

Parece-nos que o facto de se tratar de uma indústria pobre devia ser ainda mais uma razão para ser bem atendida, pois dirige-se precisamente a uma massa enorme da população economicamente fraca.

E, se a actividade é pobre nos seus elementos, é incontestável que é no seu conjunto uma das maiores riquezas nacionais.