10 DE JANEIRO DE 1963 1189
querela do Mondego - a estrada da Beira, propriamente dita e assim conhecida.
A estas se juntam também as estradas que ligam Coimbra à Figueira e a toda a região do Sul.
Todas estas importantes rodovias têm os seus perfis completamente desactualizados, desenvolvendo-se grande parte dos seus percursos com curvas apertadíssimas que tornam difícil e perigoso o trânsito que as procura.
For outro lado, nas circunstâncias actuais, elas já não satisfazem às necessidades do tráfego, porque as suas pavimentações nem suportam convenientemente as aceleradas velocidades normais do presente, nem as grandes cargas e os veículos das avantajadas dimensões que nelas circulam.
Urge, por isso, fazer com brevidade as necessárias e possíveis rectificações dos seus traçados, melhorando-os, para os colocar na escala das concepções actuais.
Sou informado de que os estudos para a remodelação do percurso da estrada de Lisboa, entre Coimbra e Cernache, já estão feitos e vão começar em breve os trabalhos; congratulo-me com isso Mas outras duas estradas cumpre também beneficiar e abrir para que as ligações da cidade com a Figueira da Foz e com a parte central do País sejam eficientemente melhoradas.
Uma é a que, partindo de Santa Clara, se dirige a Bencanta, Formoselha e Alfarelos.
Via rápida de descongestionamento da estrada da Figueira, esta estrada tem hoje, além de um perfil inaceitável, o flagelo de sucessivas passagens de nível da linha do Norte.
impõe-se dar-lhe um novo traçado, fora das implicações da linha férrea, o que se mio afigura difícil.
A outra estrada parte também de Santa Clara, em diconveniência de ligar essa estrada dos Pereiros a Penela, através de uma outra que vem de Condeixa.
As necessidades do tráfego para o Sul, via Tomar, e o acesso mais rápido das povoações, da zona apontam a conveniência de ligar essa estrada dos Pereiros a Penela servindo Podentes.
São duas obras importantes que merecem a melhor atenção.
Coimbra é um centro geográfico muito importante que carece de poder contar com ligações fáceis e cómodas com o resto do País, para que o seu desenvolvimento e o de toda a região possam caminhar no ritmo desejado.
E agora, Sr. Presidente, não me dispenso de observar que o custo dos empreendimentos que deixo seriados e dos muitos mais que é necessário levar a efeito pode ser facilmente coberto se se não retirarem à Junta Autónoma de Estradas as verbas que lhe são atribuídas segundo o plano que esta Câmara aprovou para as aplicar na construção das nossas auto-estradas.
Estas, sendo, como são, melhoramentos cuja utilidade ninguém contesta, têm nas portagens um avultado rendimento que permite a criação de financiamento especial para a sua abertura e manutenção.
Desta sorte, é absolutamente justo que o seu preço não vá privar o País do conveniente desenvolvimento dos planos rodoviários já traçados, quer para a construção, quer para as grandes reparações dos nossas estradas.
E chego ao término das breves considerações que entendi dever fazer neste' capítulo.
E claro que apenas referi algumas das mais importantes necessidades e somente em estradas nacionais.
Ficam por considerar as grandes aspirações concelhias neste capítulo.
Está em desenvolvimento, aliás vagaroso, o plano de viação rural, dentro dos moldes votados nesta Câmara.
As povoações com mais de 100 habitantes procura dar-se o acesso de que carecem, na proveitosa cooperação do binário Estado-autarquias, compreendendo-se nestas as entidades que com o Estado colaboram e são muito numerosas nos concelhos serranos do distrito de Coimbra.
Torna-se necessário, imperiosamente necessário, activar o desenvolvimento desse plano de tão marcada utilidade nacional.
É urgente começar a pensar naquelas povoações que ainda não foram consideradas, mas que têm necessidades em tudo semelhantes às 'das que se desejam servir.
Aos municípios dos distritos de Coimbra, de Viseu e da Guarda, como, de resto, a todos os municípios do País, muito interessa o estabelecimento das vias de comunicação indispensáveis às suas populações.
É que, como já afirmei, sem estradas e sem caminhos que sirvam as necessidades locais, ligando os povos aos benefícios da civilização, não pode falar-se em progressos nem em engrandecimento, nem pode supor-se que possa vir a atenuar-se o temível êxodo rural.
Não quero concluir ainda sem deixar também a minha sugestão para que seja estudada a chamada "Estrada Atlântica", ligando, pela serra da Boa Viagem, a Figueira da Foz a Mira e à região de Aveiro, seguindo a linha do litoral.
Sei que ao Sr. Ministro das Obras Públicas já um dia foram apresentados os planos gerais desta obra grandiosa. E cabe aqui uma palavra de homenagem à memória do engenheiro João Urbano, o competente técnico que tão ardentemente a desejava.
E como remate para as considerações deste sector das comunicações entendo não me ser lícito, deixar de destacar o valor incalculável do campo de aviação de Cernache, obra grandiosa que vai progredindo graças ao impulso do ilustre presidente da Junta Distrital de Coimbra, Sr. Prof. Doutor Bissaia Barreto, que lhe tem dedicado o mesmo esclarecido dinamismo com que tem feito crescer toda a sua vasta e patriótica obra.
Este campo, que foi sonhado com os olhos postos nas necessidades do Centro do País, permitirá as ligações aéreas que tão necessárias lhe são e ao futuro desenvolvimento do porto da Figueira da Foz, pois as suas pistas permitirão a aterragem dos pequenos e dos grandes aviões.
Como campo de recurso, para quando o tráfego aéreo for um facto - e ia não deve demorar muito -, tem a Lousa já em funcionamento o campo do planalto do Freixo, que pode suprir as necessidades da l.ª fase desse tráfego, depois de convenientemente beneficiado.
Sr. Presidente: a despeito da indesejada extensão das minhas considerações verifico que, para o desenvolvimento dos sumários que me propus, muitíssimo ainda faltaria referir.
Mas, perante a certeza de que me não seria lícito continuar o suplício a que tenho submetido V. Ex.ª e os Srs. Deputados, vou procurar terminá-las, tratando apenas esquematicamente alguns problemas mais.
O Sr. Deputado Nunes Barata, depois, de referir com o maior propriedade toda a gritante carência industrial da bacia hidrográfica do Mondego, que deixou bem demonstrada nos elucidativos elementos apresentados, alinha as impressionantes possibilidades que emergem de um aproveitamento racional, da potência energética desse grande rio português, tão duramente esquecido e desprezado!
Aplaudo jubilosamente as categorizadas afirmações do Sr. Deputado Nunes Barata e dos Srs. Deputados que as têm confirmado. E faço-o não apenas como natural do distrito de Coimbra e seu representante nesta Câmara, mas, principalmente, como português.