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DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 67 1784

Tomo por minhas todas essas palavras de tanto sentimento e, ao recordar, agora, a memória desse companheiro, ergo à minha prece para que Deus o tenha entre os eleitos para a eterna bem-aventurança.

Sr. Presidente: afastada toda e qualquer sombra de lisonja que, porventura, se quisesse descobrir nas minhas palavras, não posso deixar de prestar a minha homenagem ao Sr. Deputado Nunes Barata pelo trabalho que em nome dos seus companheiros de Coimbra apresentou nesta Câmara.

Não se trata, como amplamente se reconheceu, de um mero repositório de ideias, mais ou menos profundas, mas sim de um estudo exaustivo das variadas facetas de uma vasta região que, desta forma, vê a grande multidão dos seus problemas tratados com inultrapassável justeza.

O Sr. Deputado Nunes Barata, o incansável estudioso e dedicadíssimo investigador, realizou o trabalho que todos nós sabíamos que ele podia e havia de realizar. Profundo estudo estrutural, esse trabalho desvenda males e defeitos, virtudes e qualidades, por formas tão concisas e com tamanha_ precisão que não poderá ser perdido de vista por quem pretenda conhecer, superficial e profundamente, os importantes capítulos da vida portuguesa, na região central do País, dentro da plenitude do seu desenvolvimento.

Ficam desta forma evidenciados os muitos e muito graves problemas que cumpre resolver, cujo equacionamento não poderá ser esquecido nos planos do nosso desenvolvimento que tenham ou a dimensão dos grandes planos de fomento, ou mesmo se limitem a abarcar, com certa restrição, as mais desfavorecidas regiões do País em outros planeamentos!

E que ninguém se atreverá a denegar a imperiosa necessidade de se fazer completa e compreensiva justiça distributiva nas grandes tarefas do engrandecimento da Nação em que tanto nos empenhamos.

Ninguém se atreverá a contestar que toda e qualquer obra desse teor envolva sempre os recursos de todos os portugueses, reflectindo-se nas suas vidas e condicionando o seu bem-estar!

As nações, como as estruturas humanas, só serão perfeitas quando nelas se encontrem equilibrados todos os seus centros vitais.

O desenvolvimento de uns, para ser harmonioso e não prejudicar o todo, tem de ser acompanhado do desenvolvimento dos restantes, que todos eles, frente à globalidade da estrutura, desempenham funções especificas da maior transcendência!

Um dos grande males - quem sabe mesmo se não o pior de todos! - de que temos sofrido e estamos a sofrer me parece ser o do desequilíbrio económico-demográfico criado e mantido pelas macrocefalias das nossas duas maiores cidades, que temos deixado processar e sempre aumentadas nos aparecem como fatalidades intransponíveis.

Para elas se têm drenado muitos dos nossos valores e recursos, causando o progressivo empobrecimento de toda a vastíssima zona da ruralidade, onde a vida cada vez é mais dura e menos desejável.

O Sr. Deputado Nunes Barata afirma, em certo passo do seu notável trabalho, que o êxodo rural se alimenta a si mesmo.

Concordando com esse expressivo conceito, ajustado me parece fazer-lhe acrescer a afirmação de que a excitação da insaciável voracidade de tão temível flagelo é mantida pelo estado de latentes dificuldades de vida nos centros em que ele mais se faz sentir.

Os povos têm hoje ao seu alcance eficientes meios de divulgação da maneira como se vai acentuando o progresso nos grandes centros urbanos, com a consequente melhoria das condições de vida.

A imprensa, a rádio, e principalmente a televisão, esta hoje tão divulgada, dentro da sua missão específica, vão apresentando e dando relevo às grandes obras, aos grandes empreendimentos e às resultantes da causa de progresso que bafeja os grandes centros urbanos.

Os aspectos dos bons níveis de vida que se vão desvendando, com euforia tantas vezes fortemente retocada para engrandecimento da sua faceta espectacular, fazem nascer desejos de libertação de outros níveis de bem pior teor.

E começa então a fortalecer-se o embrionário sentimento 'da fuga, que se vai alimentando sempre que surgem novos conhecimentos de vida aparentemente melhor! E muitas são também as formas directas de divulgação. Por um lado, o cumprimento do sagrado dever de servir a Pátria nas suas forças armadas chama às urbes a mocidade rural e lança-a numa nova vida, que, a despeito da sua aspereza, sempre é infinitamente menos dura do que a da dura faina dos campos.

A saudade, elo sagrado que prendia essa juventude à terra-mãe, vai-se atenuando e amortecendo, até fazer perder o desejo de retornar.

Por outro lado, as crescentes exigências dos grandes centros em forte ebulição de progresso, também aliciam os melhores valores dos meios rurais, para eles chamados com a certeza de maiores ganhos com menos esforços..

As luzes da cidade, porém, nunca mais deixam de ofuscar aqueles a quem, em certo período, iluminaram.

Desta sorte, os braços que abandonaram as ruralidade* só muito raramente lhes são restituídos.

Falta, para isso, o necessário aliciamento do torrão natal, cujo progresso ou embotou em determinadas iniciativas de menor tomo que, sendo coisas já há muito ultrapassadas na grande urbe, não tem o poder de impressionar, ou se processa tão lentamente que também não impressiona.

E isto, para analisar apenas duas das mais salientes fontes da volatilização dos braços nos meios rurais e o seu empobrecimento.

Faltaria falar da emigração, mas essa fonte não obedece a fenómenos diferentes dos já encarados.

Ora impõe-se sustar todo esse imenso caudal de depredação de valores que está a esterilizar importantes regiões, criando todo um vasto planeamento que estabeleça em equilíbrios sucessivos as naturais melhorias de níveis de vida, escalados com os que se oferecem onde o progresso já ditou as suas leis.

Com este aviso prévio se pretende chamar a atenção do Governo para toda a vasta região que forma a bacia hidrográfica do Mondego, até agora mais ou menos desconsiderada, mas que importa aproveitar na multidão dos seus muitos recursos.

E que com esse aproveitamento se fomentará a vida em níveis progressivamente melhorados de muitos milhares de portugueses e ao mesmo tempo se caminhará para o harmonioso equilíbrio de toda a vida nacional.

Sr. Presidente: no seu consciencioso trabalho deixou o Sr. Deputado Nunes Barata perfeitamente definida e limitada toda a vasta região do hinterland nacional onde o
São mais de 6700 km2, Mondego tem suserania.
que se repartem por 5 distritos e 38 concelhos, entre os quais avulta o de Coimbra, com 16 dos seus concelhos, pois apenas o de Mira não é contado!

Também no mesmo trabalho se deixam convenientemente seriadas as grandes potencialidades desta vasta