O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

11 DE JANEIRO DE 1963 1807

Duas empresas, a Companhia Eléctrica das Beiras e a Hidroeléctrica do Zêzere, estão empenhadas em conseguir a concessão do aproveitamento da bacia do Mondego.

Por confissão, constante de p. 14 da exposição dirigida ao Secretario de Estado da Indústria em 22 de Novembro de 1961, aquela, a Hidroeléctrica do Zêzere, declara não se encontrar habilitada a tomar posição no que se refere ao aproveitamento hidroeléctrico dos Cursos médio e superior do Mondego. Nesta conformidade, só nos estudos e planos da Companhia Eléctrica das Beiras se baseiam as minhas próximas considerações. Através destes estudos foram concebidos dois sistemas. Acontece, no entanto, que os escalões previstos no distrito da Guarda mantêm as mesmas características nos dois sistemas estudados. Pode, pois, dizer-se que no único plano geral do aproveitamento dos recursos hidráulicos do rio Mondego, efectuado pela Companhia Eléctrica das Beiras, surge como a mais importante barragem do Mondego a de Asse Dasse. Com um volume de água da ordem dos 500 000 000 m3, que a mais alta barragem do Pais, com 170 m de altura, armazenará e cujas águas serão turbinadas na central de Melo, concelho de Gouveia, depois de percorrerem 7750 m de túnel, terá o superior mérito de servir de fonte abastecedora e regularizadora de todo o rio e, consequentemente, das outras barragens.

Com uma área inundável de 1000 ha, o seu custo está estimado em l 000 000 de contos. Além dos benefícios da sua construção, colocados em plano nacional e mesmo regional, resultaria no concelho da Guarda a beneficiação da estrada n.º 338, que, partindo da estrada n.º 16, serviria as povoações de Maçainhas, Corugeira, Trinta e Videmonte, além de que permitiria fácil acesso a uma região privilegiada de caça e de pesca as trutas, que, juntamente com motivos paisagísticos, representaria apetecível zona de visita de nacionais e estrangeiros.

O 2.º escalão, o de Vila Soeiro, com armazenagem de 12 000 000 m3 de água na albufeira do Caldeirão, retidos por uma barragem de apenas 40 m de altura, com um custo provável de 50 000 contos, localiza-se a cerca de meia dúzia de quilómetros da cidade da Guarda.

A sua importância, que no ponto de vista nacional fica algo minimizada pela modéstia das suas proporções, agiganta-se nos benefícios dela resultantes para os concelhos da Guarda e de Celorico da Beira.

Na verdade, da albufeira do Caldeirão resultam benefícios regionais, que se poderão enquadrar, sobretudo, em três sectores: abastecimento de água as populações, regularização de regadios e centro turístico.

Analisemos, embora a traços largos, cada um dos objectivos enunciados.

O abastecimento de água às povoações, colocado em primeiro plano na política do bem-estar rural, conforme constava da Lei de Meios ultimamente discutida e aprovada nesta Assembleia, vem representando um sorvedouro das verbas concedidas ao Ministério das Obras Públicas.

Chamo-lhe sorvedouro porque, depois de tais obras se encontrarem concluídas e os gastos efectuados, é certo e sabido que, na generalidade dos casos, em breve se impõem outras obras destinadas ao reforço de caudais. Ou porque os mananciais abastecedores se vão esgotando, ou porque as capitações vão subindo e as mais das vezes por um e outro motivos, a verdade é que, em tantos casos do meu conhecimento, basta uma estiagem um pouco mais prolongada para se entrar em regime de racionamento do água.

Os dinheiros consomem-se, as necessidades dos povos não são satisfeitas de modo perdurável e a insatisfação das populações renova-se. Novas obras e novos gastos que, na generalidade dos casos, não serão ainda os últimos.

Como exemplo, poderia indicar a VV. Ex.ªs o caso do abastecimento de água à cidade da Guarda. Iniciadas as obras por volta de 1930, só no reforço do caudal se vão consumindo já cerca de 5000 contos. Tem a Câmara da Guarda catorze obras de abastecimento de água em curso, sem que se vislumbrem possibilidades de conseguir caudais satisfatórios. Desnecessário se torna pormenorizar estes casos, pois, como eles, tantos outros serão do conhecimento pessoal de VV. Ex.ªs.

A albufeira do Caldeirão viria tornar fácil a resolução de problemas de abastecimento de água, cuja solução, apesar dos dedicados esforços das edilidades e do sacrifício das finanças camarárias e nacionais, não se descortina a curto prazo.

Assim como a grande albufeira de Asse Dasse poderia abastecer boa parte dos concelhos de Gouveia, Seia, Oliveira do Hospital e Tábua, também a do Caldeirão abasteceria, por gravidade, parte dos concelhos da Guarda e de Celorico e, através de centrais elevatórias, a própria cidade e outras povoações concelhias.

Grande parte dos problemas actuais de abastecimento de água deixariam de existir. Acresce que o estudo das capitações prevê já o pequeno regadio da cultura, que, embora de dimensões reduzidíssimas, muito contribuiria para uma melhor economia familiar, ao mesmo tempo que facilitaria a preconizada política governamental de abastecimentos de água em plano regional.

Quanto à regularização de regadios e ao estudo económico das suas possibilidades, não consegui grandes elementos de estudo. Sabemos, no entanto, que mais de 1000 ha de boa e produtiva terra, com regadio insuficiente e sujeito aos elementos da natureza, esperam no concelho de Celorico que a água, verdadeiro sangue da terra, venha aumentar a sua produtividade, tomando mais compensador o trabalho e o esforço dos que a agricultam.

Esperam estes que o contar dos alcatruzes e o ranger dos picanços e cegonhas sejam substituídos por canais e levadas, que facilitem e garantam a irrigação dos campos nos momentos em que as culturas se estiolam por falta de regas. Os estudos efectuados para o efeito garantem anualmente, na albufeira do Caldeirão, a disponibilidade de 8 000 000 m3 de água para a irrigação dos campos de Celorico.

Finalmente, a albufeira do Caldeirão oferecerá aos centros populacionais das redondezas, mormente a própria cidade da Guarda, uma esplêndida estância que permita recrear os espíritos, após uma semana de trabalhos absorventes, no campo, no comércio ou nas repartições. Sobretudo aos domingos, nas horas de ócio, antevemos as suas margens coalhadas de gente, ávida de repouso, de tranquilidade e de meios recreativos. Ali serão atraídos pela pureza do ar, pela benéfica acção dos raios solares, pelos desportos náuticos e pela pesca.

A albufeira do Caldeirão passará a ser o atractivo certo e passeio obrigatório para a população citadina.

Desempenhará papel fundamental no prolongamento da estada na Guarda de enorme quantidade de estrangeiros que, entrando por Vilar Formoso, fronteira com maior movimento de turistas, tomam o primeiro contacto com o País e dele colhem as primeiras impressões, sempre perduráveis, na altaneira cidade da Guarda. Interessa à própria Nação que a Guarda se enriqueça em atractivos. Que como hall deste Portugal acolhedor, juntamente com a dureza da paisagem serrana, aos turistas estrangeiros seja