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20 DE ABRIL DE 1963 2371

Disso também se não aperceberam os Estados Unidos, muito embora sejam o autêntico suporte do pan-africanismo. Na verdade, independentemente dos condicionalismos da política interna francesa, se não fora a pressão americana, o abandono da missão civilizadora da Europa não se teria operado e os países africanos poderiam ter conquistado, sem repressão, condições favoráveis de autonomia.

Uma nação de chefia mundial, como os Estados Unidos, não devia descurar as reflexões de homens de pensamento como Philipe Decraene, que já em 1958 escrevia:

Tendo graves dificuldades em definir os novos quadros, os leaders africanos procuram ultrapassá-los. Esta atitude lembra, sob certos aspectos, o pan-eslavismo. Foi na época em que o mundo eslavo procurava os seus limites sem os encontrar que nasceu a corrente que devia, a seguir, provocar revoluções e guerras. O fracasso do movimento pan-eslavo pode incitar a pensar que, se os nacionalismos africanos seguem uma via análoga, eles correm o risco de pedir seja a um fascismo africano, seja a um comunismo africano, a concretização das suas aspirações.

Pois a evolução do nacionalismo africano já não deixa lugar a dúvidas na opção.

Os Estados Unidos começam a entendê-lo e procuram, com vultosos sacrifícios financeiros, criar condições de vida estável em territórios inamadurecidos para a independência. Não podem, por isso, atear novas fogueiras e sujeitar populações imunes à catástrofe, para atrair a simpatia dos povos afro-asiáticos, que sob nenhum aspecto perfilharão o quadro de valores da civilização cristã.

Se tivermos presentes essas realidades, a incerteza será afastada do domínio das nossas concepções, e o futuro surge-nos exclusivamente dependente de nós, da nossa capacidade criadora, da resolução de elevar, reflectida mas corajosamente, o nível moral, cultural, social e económico dos nossos irmãos da África. Tudo é função do nosso querer.

Mas, para maior vigor na acção, temos de abstrair do que se passa para além do território nacional, deixando aos povos economicamente colonizados e aos seus senhores o tratamento das chagas, que por suas mãos abriram, e, infelizmente, nos salpicam de pus, convertendo em martírio e sangue a vida dos heróis que, para honra de Portugal, os expulsarão para além-fronteiras.

Hoje como sempre!

Sr. Presidente: ao lançarmos os olhos sobre o passado, e ao determo-nos nas opiniões expressas por publicistas e políticos acerca do problema ultramarino em épocas singularmente paralelas, somos, naturalmente, conduzidos a confrontos e reflexões de perspectiva histórica. Afastado todo e qualquer espírito de proselitismo, importa aproximar, em plano nacional, atitudes e propósitos do escol perante as duas crises ameaçadoras da integridade do território.

Em 1890, o País, dividido e enfraquecido, deixara-se possuir de um sentimento de derrota, descrente das suas virtudes criadoras, sobrestimando erros e impotências, confundido pelas ameaças, embora tenazmente vinculado ao seu património histórico. A sua capacidade de reacção estava altamente comprometida e a política de abandono, de uma ou mais parcelas de território, chegou a ser preconizada.

Paixão partidária ou irreflexão, a verdade é que a escassez do potencial humano, a incapacidade económica e a debilidade da marinha mercante puderam ser apresentadas, mesmo por Oliveira Martins, que a tantos títulos merece a maior admiração e reconhecimento, como óbices quase intransponíveis à manutenção das províncias ultramarinas. Fruto de uma época de desagregação do espírito nacional, que se acentuara com o Ultimato, o futuro aparecia a essa geração, sob todos os aspectos, sombrio. Por graça de Deus e virtudes da grei, a crise foi superada e o nosso património ultramarino foi salvo das garras poderosas do inimigo, numa das mais belas arrancadas da história pátria, sob o reinado do sempre querido e inesquecível rei D. Carlos.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: -Vencemos porque quisemos!

Pois, agora, também somos vencedores!

Não tivemos de pedir concurso, de quem quer que fosse, para transportar tropas, nem para fazer face aos pesados encargos da política de policiamento dos territórios do ultramar. Prosseguimos os planos de fomento económico e mantemos a habitualidade do nosso modesto viver. Um e outro aspecto já aqui foram focados, e brilhantemente, por esclarecidos militares com assento nesta Câmara, pelo que sobre eles não me tardarei.

Só importa acentuar que, salvo alguns que de Portugal só guardam o nascimento, a Nação se mantém una na determinação de firmar a integridade do território, a liberdade das populações e a sua missão civilizadora.

Mantém-se fiel ao seu passado, dando-se em corpo e alma, sempre apoiada nas sábias directrizes dos seus reis.

Observe-se, através da Crónica do Felicíssimo Rei D. Manuel, de Damião de Gois, como el-rei entendia u política a seguir no ultramar:

... no começo do ano de 1504 determinou D. Manuel I mandar homens letrados na sacra teologia ao reino do Congo, com os quais mandou mestres de ler e escrever, e outros para lá ensinarem o cantochão da igreja, a música do canto de órgão, e aos principais a quem encarregou destes negócios mandou entregar muitos livros da doutrina cristã, vestimentas de brocado e seda, cruzes de prata, cálices, turíbulos e outras coisas necessárias para o serviço divino e a todos eles deu ordenados, embarcações para suas pessoas, e gasalhado, tudo u custa de sua fazenda.

Em 1508 foi para o Gongo Gonçalo Rodrigues, cavaleiro da casa real, como embaixador, acompanhado de mais missionários. Levava & missão de convencer o rei do Congo a enviar a Portugal seus filhos, D. Henrique e D. Manuel, para serem educados, como veio a acontecer. Este D. Henrique .veio a ser o primeiro bispo negro!

Pouco depois seguia o fidalgo Simão da Silva com poderes especiais para reprimir os abusos dos colonos, recomendando-lhe especial cuidado para que os portugueses não agravassem os naturais.

Com Simão da Silva foram «cavalos e mulas de preço bem ajaezadas e muitos ornamentos de igrejas, assim de vestimentas, como cálices, cruzes, galhetas, turíbulos de prata branca e dourada, latão, cobre, retábulos pintados, e finos».

Também seguiram pedreiros, carpinteiros e outros artífices para construírem igrejas e um palácio para o rei do Congo.

Patrocinada por D. Manuel, foi a Roma uma embaixada do rei do Congo, da qual fazia parte D. Henrique, então ainda estudante.