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3460 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 138

diverte, e cujos costumes, por vezes diferentes, não podem ser de chofre integralmente compreendidos.
Entre a nudez das praias, a vida dos hotéis de luxo, casinos, bairros turísticos e as nossas pequenas povoações rurais ou bairros operários tem de haver sempre zona de transição, que separe, atenuo o proteja estas duas formas diferentes de viver.
Em relação ao turista que chega, a amabilidade senhorilmente acolhedora, o espírito de fraternidade discreta, plasme sempre os hábitos de recepção turística do nosso povo «a atitude simpática e discreta» de que fala o Dr. Krapf no seu relatório. Mais do que a luz do Sol e o azul do mar - acentua o Sr. Dr. Paulo Rodrigues no seu discurso -, o nosso grande património turístico é a hospitalidade da gente portuguesa.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O turista que nos procura, estandardizado - ia a dizer, despersonalizado - pela sua agência de viagens, leva na retina e na máquina fotográfica o bom ou mau pormenor que primeiro o impressionou. Passando rápido, numa visão cinética da paisagem e dos costumes, sem outra preocupação que não seja a sua curiosidade, a primeira impressão é a que fica.
«Não deve ver-se nele um filão a explorar até ao esgotamento - diz-nos o parecer da Câmara Corporativa á que me referi -, mas sim um valor a acarinhar para que frutifique e se multiplique». Os pormenores de conforto e amabilidade na recepção podem transformar-se em propaganda ou antipropaganda. Livremo-lo da perseguição da mendicidade e do pé descalço, a suprir assistencialmente, nos casos em que não é subdesenvolvimento, subeducação, insuficiente consciência de dignidade pessoal, neste caso, a educar ou reprimir.
Facilitemos-lhe os movimentos, sinalizando nas principais línguas turísticas as gares, estradas e monumentos para que se sinta menos embaraçado perante uma língua que não conhece. Criemos cursos sintéticos e rápidos de língua portuguesa para turistas.
Cada vez mais há que alindar, caiar, assear, florir, as terras, estradas e ruas do nosso país - a rua é o primeiro ambiente que o turista conhece e o impressiona. Este espírito de recepção, que por vezes pouco custa, fez iluminar maravilhosamente pela noite as fontes e monumentos de Lisboa e florir canteiros nas praças públicas.
Livremo-lo também da insistência do pequeno comerciante e do falso guia.
Ao percorrer livremente o nosso país, onde nada se oculta à sua curiosidade, transformar-se-á num compreensivo e fiel amigo, que rirá a bom rir ou se indignará lá fora dos grosseiros sofismas preconcebidos e facciosos com que se ridicularizam os que gritam aos quatro ventos que nós fazemos perigar a paz do Mundo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Porque o turismo faz, conhecer e respeitar a história e a vida do povo que se visita, em demanda de paz e de alegria, é uma escola de solidariedade humana, porque nunca se esquece ou deixa de amar os lugares onde se foi feliz.
Sr. Presidente: a palavra de ordem que nos chega através do Sr. Subsecretário de Estado da Presidência dó Concelho e as expectativas que cria impõem a quem dirige, qualquer actividade, autarquia, organismo público ou privado de qualquer natureza que ponha a si próprio esta pergunta: em que posso contribuir na preparação do País para a batalha do turismo português? E a Nação, em cada agrupamento vivo e diferenciado e em cada cidadão, sob o signo da unidade tem de ganhar esta batalha.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: dada a importância turística da Madeira e a saliência do seu «caso turístico», impunha-se que alguém o viesse tratar neste aviso prévio.
Tomei sobre mim logo de início o encargo, e ao anotar que o Dr. Nunes Barata no seu valioso trabalho mal aflorou esse capítulo, sem dúvida por deferência pessoal, registo a discreta mas elegantíssima cortesia pela qual lhe exprimo o meu agradecimento.
Autorizadas vozes não madeirenses atribuem recentemente à Madeira prioridade na batalha do turismo nacional.
Afirma-o o Sr. Subsecretário de Estado da Presidência do Conselho no discurso que já várias vezes referi:

Quanto ao turismo do permanência, os estudos económicos de que já se dispõe, baseados nas preferências das correntes turísticas, nas realidades do clima e na taxa mínima de ocupação anual exigível para a viabilidade económica dos empreendimentos hoteleiros, apontam, seguramente, para a promoção imediata de dois centros turísticos: o Algarve e a Madeira.

E no estudo para o plano de desenvolvimento turístico, também já referido, diz-se a p. 25:

São razões económicas desta natureza, aliadas às preferências dos turistas a que se não pode fugir, que levam a considerar que os esforços de desenvolvimento das condições turísticas nos próximos anos se devem concentrar essencialmente nas zonas de Lisboa, do Algarve e da Madeira.

Diz-nos ainda o estudo preliminar do desenvolvimento turístico para o período de 1964-1968:

E essas duas zonas (Madeira e Algarve), principalmente a primeira, precisam realmente, ao contrário do que acontece na zona de Lisboa, que o turismo lhes traga um impulso que não lhes tem vindo de outros sectores económicos, de forma a permitir-lhes acompanhar sem atrasos a marcha geral do progresso na economia do País.
Se os fluxos turísticos vierem a atingir na Madeira e no Algarve os volumes que se esperam, eles poderão provocar uma verdadeira aceleração das economias regionais. Não será apenas o emprego em hotéis, em restaurantes e em outros estabelecimentos dedicados directamente à clientela turística que contará. Interessarão também os efeitos sobre a agricultura (provenientes de frutas o produtos agrícolas), sobre o comércio e sobre o artesanato locais.

Finalmente, no seu relatório, também várias vezes já citado, o Prof. Krapf, que na sua visita a Portugal esteve na- Madeira em Agosto de 1962, acrescenta: «Não será preciso salientar as virtudes do clima da ilha da Madeira-. Portugal tem o grande privilégio de dispor de um centro turístico de reputação mundial, que permite actividade hoteleira- em todo o ano. É possível a intensificação do movimento turístico da Madeira, que resultará da melhoria do acesso pelo ar, e deverá ser acompanhada de uma descentralização dos serviços de recepção turística. Convirá, assim, encarar a criação de novos hotéis, para uma clientela menos rica, fora do centro do Funchal. Pensar, por exemplo, em localizar alguns novos