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4 DE MARÇO DE 1964 3461

hotéis em povoações típicas de pescadores, como Câmara de Lobos. Parece impor-se igualmente o alargamento das iniciativas turísticas a Porto Santo, porque, a clientela turística procura particularmente as praias de areia fina.»
Sr. Presidente: o turismo é para a. Madeira uma vocação histórica e um desbaratado tesouro. Já em 1889, no seu livro de propaganda médico-turistica. Madère - Station Médicale Fixe, o Dr. Mourão Pita dizia:

Somos visitados anualmente por .centenas de ingleses, alemães, muitos russos, e muitas centenas de outras nacionalidades, excepto franceses; todavia, no último Inverno vieram algumas famílias desta nacionalidade, quase por acaso, visitar a nossa ilha, mas sem dela ter um conhecimento preciso.

A suavidade do seu clima temperado, ligeiramente sedativo e docemente estimulante, a paz e serenidade que irradiam da sua paisagem maravilhosa, numa época em que a terapêutica activa era escassa, apaixonou a medicina de então, cuja experiência achou virtude nessa «Suíça do Oceano», como lhe chamou Jacquod, para calmar sintomas pulmonares, debilidade física, sistema nervoso excitado ou deprimido.
Foi no Funchal, de 1747 a 1753, que Tomas Heberden realizou acerca do clima da Madeira, com processos e resultados tècnicamente aceitáveis, as primeiras observações em Portugal, publicadas na Philosophal Transactiotis, de Londres. Desde então mais de duas dezenas de trabalhos foram publicados. Muitos desses livros tinham directa, ou indirectamente fins de propaganda turística. Refiro entre eles o do médico Dr. Nicolau Pita, em 1812, Account of the Island of Madeira; a comunicação do Dr. Francisco Barrai, em 1858, à Academia Real das Ciências de Lisboa, traduzida para francês e ampliada pelo Dr. Garnier; o Climat de Modère, do almirante Hugo de Lacerda, publicado em francês e traduzido em inglês, e um trabalho de Serviço Meteorológico Nacional, de 1955, sobre o clima dos Açores e Madeira, na publicação O Clima de Portugal.
A Madeira, sob o signo dos seus maciços montanhosos, vales profundos, vegetação luxuriante e influência do mar que a envolve, apresenta uma variedade de micro-climas. Pode no Funchal em certo momento fazer sol e calor, e em 10 minutos de automóvel chegar-se a 500 m de altitude, ali sentindo-se frio e havendo nebulosidade, como se atinge facilmente, em certas estradas, 1400 m em 25 minutos de carro observando-se então um clima bem diferente do nível do mar. É a beira-mar, e sobretudo o anfiteatro do Funchal, a zona climática temperada por excelência, onde a temperatura média anual é de 18,8º, a qual desce para 16º no mês mais frio do ano (Fevereiro) e sobe no mais quente (Agasto) para 19,5º, com uma amplitude média de variação diurna de 6º e anual de 6º também. A temperatura da água do mar no Inverno é superior à do ar, ao contrário do Verão. No Inverno, diz o Dr. Barrai, a sua temperatura é muito superior à de Nice, Lisboa e Cairo e superior a Lãs Palmas quanto à humidade e variações térmicas. P. Smith diz que as temperaturas médias no Inverno são:

[Ver Tabela na Imagem]

Não há, assim, um clima na Madeira, mas vários climas, e quando só fala na benignidade do seu clima referimo-nos ao Funchal e ao litoral sul da ilha.
James Yate (1885) diz que a diferença entre o mês mais frio e o mais quente é metade do que em Malta ou Palermo.
O Dr. Mourão Pita indica-nos as seguintes temperaturas médias para cada estacão no Funchal: Inverno, 17,9º; Primavera, 18,03º; Verão, 22º, e Outono, 21.6º.
O almirante Hugo de Lacerda insiste, na comparação com a Cote d'Azur, a temperatura de Verão é mais baixa no Funchal e mais elevada no Inverno do que naquela região, sendo menor o grau de humidade.
Estes elementos climatológicos fazem da Madeira não apenas uma estação turística de Inverno onde ingleses e nórdicos se refugiam do frio, mas uma autêntica estação fixa de turismo, zona permanente de turismo, e como tal deve ser apresentada no mercado turístico internacional. De resto, no mês de Agosto está a aumentar cada vez mais o afluxo de turistas franceses aos hotéis da Madeira, gente em regra jovem, ao mesmo tempo que continuam os ingleses a vir em Fevereiro - o nosso mês de ponta -, com certo predomínio de gente idosa que foge às inclemências hibernais das ilhas britânicas. A temperatura da água do mar, mais quente no Inverno do que a do ar, faz com que se possa nadar nesta estação nas suas piscinas ou na sua beira-mar, sobretudo quando se vem de latitudes e climas onde para isso. em pleno Verão, se tem de esperar por felizes e raros dias e pela hora de maior calor. Ora na Madeira há muitos anos que se nada nas piscinas e nas praias mesmo à luz do luar ...
Mas, Sr. Presidente, esta fama turística e terapêutica da Madeira nos últimos dois séculos fez ali acorrer aristocratas e doentes, reis. príncipes e escritores das mais diversas nacionalidades. Cite-se a rainha Adelaide da Inglaterra, a imperatriz Isabel da Áustria e o infeliz arquiduque Maximiliano, noivo que foi da princesa D. Maria Amélia do Brasil e fuzilado quando imperador do México. Dos russos, recordo o príncipe de Oldemburgo, tenente-general dos exércitos do czar, que em 1884 fez publicar, em Paris, a tradução francesa de Eurico, o Presbítero, e que viveu dois anos na Madeira com grande fausto e gestos de filantropia.
Os ingleses predominaram entre todos e ali estabeleceram sólido comércio, sobretudo em volta do vinho da Madeira, que marcou nesse tempo como o mais requintado néctar em todas as mesas aristocráticas. Era no tempo da Inglaterra vitoriana com todos os seus condicionalismos: foram eles os primeiros a descobrir as doçuras do clima e da paisagem; muitos ali se fixaram e os seus filhos lá nasceram e já lá morreram. Alguns amaram sinceramente a Madeira. É o caso de Henrique Veitch, cônsul-geral da Inglaterra na Madeira, o único autorizado a visitar Napoleão abordo do Northumberland, quando passou no Funchal a caminho de Santa Helena, o qual lhe pediu para comprar em terra uma caixa de vinho da Madeira, que pagou com luíses de ouro.
Veitch fez enterrar as moedas nas fundações da igreja luterana ali erguida por volta de 1820, com a cláusula posta pelas autoridades locais de que se não parecesse nem de longe na arquitectura com a de um templo católico. Veitch construiu, entre várias, uma quinta em plena montanha madeirense, longe de tudo, com dificuldades que hoje nem podem ser apercebidas, e determinou que ali fosse seu corpo enterrado logo após a sua morte. E hoje, Sr. Presidente, quem ali passe pode ver em plena serrania madeirense e em local de deslumbrante