3660 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 146
seu tamanho e na sua topografia, chegaram aos nossos dias desencantados e quase totalmente desesperançados do turismo.
A última guerra, com todas as suas destruições e horrores, havia deixado, no arquipélago, dois grandes benefícios: o aeroporto das Lajes, na fidalga e central ilha Terceira, que continuou em aeródromo militar, afecto às forças americanas (e, portanto, encerrado à aviação comercial, com excepção dos aviões da S. A. T. A.), e o aeroporto de Santa Maria, na pequena e extrema ilha do mesmo nome, que passou a aeródromo civil. Porém, em S. Miguel - ilha maior, de mais vastos recursos económicos e populacionais e também de mais excepcionais e variadas belezas naturais - uma pequena pista relvada, aberta ao lado de próximos o perigosos montes, ficou a assinalar a presença militar dos Portugueses durante essa guerra.
Com tão precário aeroporto, nunca foram aconselháveis outros aviões que não fossem os pequenos Dover de oito lugares que fazem, parte da frota da S. A. T. A., e estes, em número sómente de dois (e quase sempre com um em reparação ou fora do serviço por falta de piloto), só com muita dificuldade e muito espírito de sacrifício das suas tripulações conseguem dar vazão ao tráfego intenso de passageiros e emigrantes que se verifica entre Santa Maria e S. Miguel e entre Santa Maria e Terceira.
Nestas condições, e sem mais nada haver, de aviação, nas restantes ilhas, nunca foi possível transportar turistas por via aérea, e portanto fazer turismo aéreo, nos Açores.
Ás comunicações marítimas, por sua vez, não só nunca facilitaram, como se disse atrás, a resolução dos problemas por outra via, como ainda agora, com a entrada ao serviço do magnífico paquete Funchal, em que todos os açorianos punham tão grandes quanto baldadas esperanças, se mostram pioradas.
Dantes os Açores tinham duas carreiras quinzenais, equitativamente espaçadas, cujos barcos percorriam quase todas as ilhas, demorando-se quase um dia inteiro em cada capital de distrito.
Agora o Funchal vai aos Açores uma só vez por mês, como o antigo Lima, mas à distância de uma semana apenas do Carvalho Araújo, e visitando sómente Ponta Delgada, Horta e Angra do Heroísmo, com demora de umas escassas horas nestes dois últimos portos.
Com estas deficientíssimas comunicações aéreas e marítimas não se apresenta brilhante o futuro turístico dos Açores.
E é pena. É pena porque muitas das infra-estruturas que lhe faltavam há ainda poucos anos estão concluídas ou em vias de solução.
Assim, o porto de Ponta Delgada, que já era bom em qualquer parte, está a ser ampliado e melhorado pela N. A. T. O., devendo dentro de um ano ficar apto à atracação dos maiores navios e entrar na categoria de terceiro porto da metrópole.
As estradas nacionais, que eram de terra poeirenta e cheias de covas, estão quase todas alcatroadas e perfeitamente aptas ao trânsito automóvel.
O aeroporto de S. Miguel conta já com os 10 000 contos necessários para a compra dos terrenos que o hão-de localizar em sítio mais desafogado e amplo, começando imediatamente a sua construção logo que se acabem as expropriações em curso.
O aeroporto do Faial tem já orçados 2000 contos para o estudo inicial do seu projecto, devendo ser uma realidade logo após a conclusão do de S. Miguel.
E a própria Graciosa e as Mores, segundo me disse há poucos dias o Sr. Ministro das Comunicações, vão ter as suas pistas nas mesmas condições das outras ilhas.
A estação termal das Furnas, que durante tantos anos esteve incapacitada de prestar os seus serviços em boas condições, encontra-se já amplamente remodelada e apta a desempenhar a sua função.
A Terceira, que nenhum alojamento possuía, tem já em construção um hotel de 40 quartos, em Angra do Heroísmo, e uma estalagem de 6 quatros na Serreta.
S. Miguel, que tinha apenas o Hotel das Furnas, com 37 quartos, e o pequeno Hotel Terra Nostra, de Ponta Delgada, com 17 quartos, além de um outro lindo hotel em Ponta Delgada, completamente equipado, mas que nunca abriu por motivos que todos desconhecem, tem actualmente o novo Hotel do Infante, com 39 quartos, impropriamente classificado de 1.ª classe-B (em lugar do Terra Nostra, que fechou), e já aprovada pelo S. N. L a sua primeira estalagem, que será em breve construída junto às encantadoras lagoas das Sete Cidades, na península que o Sr. António de Medeiros e Almeida ofereceu há alguns anos para esse fim.
E claro que o problema hoteleiro dos Açores, mesmo para esta fase de escasso turismo, está muito longe de ser satisfatório.
Em Santa Maria, onde chegam regularmente da América e do Canadá alguns aviões de longo curso (embora em muito menor número que antes da era do avião a jacto) e agora semanalmente o Caravelle da T. A. P., várias são as vezes que Hotel de Santa Maria, apesar dos seus 107 quartos, é insuficiente, sobretudo quando a chegada ou a partida dos luso-americanos saudosistas (turismo que aos Açores muito interessa conservar) se faz em grande número.
Um hotel de 2.ª ou de 3.ª classe, ou uma pensão de 1.ª ou de 2.ª classe, em moldes simples e económicos e com o maior número possível de quartos e perto do aeroporto, torna-se indispensável e urgente.
Além disso, uma pequena estalagem em S. Lourenço, semelhante à simples e atraente que o atilado director do aeroporto construiu, com comparticipação da Câmara, no sítio da Praia, e mais um pequeno abrigo no Miradouro dos Picos, são aspirações a deferir.
Em S. Miguel, onde a população flutuante já tem algum valor e onde as consultas para a visita de grupos de 100 e 200 turistas europeus, em aviões fretados, começa a ser frequente, torna-se imperiosa não só a remodelação e a ampliação para 100 quartos do Hotel do Infante, cujas deficiências são manifestas, mas ainda a construção de um novo hotel residencial de 100 a 200 quartos na cidade de Ponta Delgada.
Também já estão sendo muito solicitados alojamentos simples, do tipo pequeno hotel ou motel, junto às praias, a fim de os cultores da pesca submarina (tão celebrada já, internacionalmente, naquelas paragens, pela abundância e variedade das espécies ideológicas e pela cristalina transparência das águas do mar) aí se poderem acomodar.
Necessários são também amplos abrigos na vista do Bei das Sete Cidades, no alto da lagoa do Fogo e na serra da Tronqueira.
Na Terceira, onde já se fez referência ao hotel e à estalagem em construção, cujas lotações nos parecem todavia pequenas e antieconómicas, carece-se ainda de um pequeno hotel de 2.ª classe ou de uma nova estalagem com mais de 20 quartos na Vila da Praia da Vitória e de abrigos no monte Brasil, na serra de Santa Bárbara e no Paul da Praia.
Na cidade da Horta, onde não há nenhum hotel, é indispensável construir um, pelo menos com 40 quartos, para apoio do seu futuro aeroporto e do seu movimento de forasteiros.