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14 DE MARÇO DE 1964 3655

pos e da agricultura para se concentrar tias cidades e aí oferecer o cérebro e os braços à febril actividade da indústria e do comércio.
Com essa mudança os homens viram aumentados os proventos do seu trabalho, mas perdidos os ócios e o sossego que naturalmente usufruíam fora dos períodos das sementeiras e das colheitas e. sobretudo, os vastos horizontes onde a luz do dia chegava a toda a parte sem ter de pedir licença às confinadas paredes dos escritórios e das fábricas.
Já a breve trecho a melhoria de situação económica convertia-se em mal-estar físico, que exigia reparação urgente, reparação esta que só no turismo encontrou solução eficiente.
Na movimentação actual de dezenas de milhões de pessoas - que tantas são as que deixam anualmente os seus lares e os seus afazeres profissionais para se dirigirem a outras terras ou a outros ambientes um breves períodos de férias - já não é o excesso de pecúnia, nem a curiosidade insatisfeita, nem a ânsia de mais vastos conhecimentos, nem tão-pouco os caprichos da literatura ou da moda, que comandam a decisão de partir.
Sem dúvida que muitos milhares, ou até mesmo alguns milhões, de seres ainda viajam obedecendo àqueles imperativos da existência. Mas a maior parte da gente que se desloca e aquela que eleva as estatísticas a quantitativos astronómicos fá-lo. principalmente, por absoluta necessidade de evasão.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E a fuga às ansiosas e esgotantes preocupações da vida actual, e a fuga às complicadas e enervantes limitações das grandes urbes. Na escolha do ponto de destino esses indivíduos buscam quase sempre condições que contrastem com o meio donde saem.
Se são do interior, é no mar que encontram a sedução: se são das zonas frígidas, é nas médias ou altas temperaturas que reconhecem o conforto; se são de países sombrios, é na luz que se embebem de alegria.
É como o sol já não é o inimigo da saúde e até a estética humana já o tem por aliado, nenhuma região se presta mais à satisfação de todas aquelas exigências individuais do que as costas álacres do Mediterrâneo.
Eis por que no momento presente a Espanha, a França, a Itália, a Jugoslávia, a Grécia, a Turquia e até a África do Norte são invadidas por verdadeiras multidões do forasteiros que se aglomeram aos milhares nas orlas continentais e nas ilhas banhadas por aquele mar.
Mas as condições telúricas e atmosféricas que tanto atraem os turistas na hora actual não só fecham nem acabam no estreito de Gibraltar.
Para cá desse estreito elas continuam idênticas à daqueles países nos 170 km da costa sul de Portugal e dá ilha da Madeira e repetem-se, já então com características atlânticas, em mais de 670 km ao longo da sua faixa marítima ocidental e nas ilhas dos Açores.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Portugal possui assim todos os requisitos físicos essenciais para partilhar do boom turístico que ora dá preferência acentuada às zonas que têm sol, calor, céu azul e praias.
E como também não lho escasseiam no interior recantos edénicos e paisagens de sonho por entre a imensa diversidade, da sua topografia, nem cidades, nem vilas o aldeias com real interesse arquitectónico, nem património cultural com subido valor histórico ou artístico, nem usos e costumes com verdadeiro encanto etnográfico ou folclórico, nem iguarias e vinhos que formem as delícias de um bom repasto, nem tão-pouco discrição e afabilidade no trato dos seus habitantes. lógico é supor que Portugal, com o bem inestimável da paz interna que há longos anos desfruta, tem todas as condições naturais e sociais para ser um grande e inesquecível país de turismo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Simplesmente, para se ser um grande e inesquecível país de turismo não basta possuir-se excepcionais dons da Natureza.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O turismo é hoje uma enorme e complicada indústria que exige não só avultados capitais, mas profundo conhecimento da matéria, decidido espírito de iniciativa, aguçado sentido de previsão e forte poder de organização, cooperação e coordenação entre os particulares e o Estado. Ora todas estas qualidades nunca fizeram parte do quadro de honra das nossas maiores virtudes.
Quando no final do século XVIII e nos princípios do século XIX os Ingleses descobriram a Madeira como estância climática de primeira ordem e aí começaram a edificar, as suas casas comerciais, as suas quintas e sua igreja, quem supôs que ela viria a ser, no futuro, o lugar mais indicado para o estabelecimento de uma zona permanente de turismo?
Quando mate tardo Alberto Page construiu ali, à sua custa, caminhos, pontes abrigos e fontanários, quem compreendeu que de abria generosamente as portas de uma nova ora?
Quando no 1.º quartel do nosso século a família Reid Manuel Gonçalves, José Dias do Nascimento e Alfredo Rodrigues ali se lançaram na construção de belos hotéis o restaurantes, quem lhes deu facilidades ou auxílios?
Quando, pela mesma época, Fausto de Figueiredo sonhou e realizou o «milagre» do Estoril e outros pioneiros lhe seguiram as pisadas levantando em Lisboa, na Guria, no Luso e em cutias cidades ou locais aprazíveis um bom número de hotéis e de palaces, que cooperação lhes deram os Governos?
Ainda está na lembrança de todos o que era há pouco mais de 80 anos a estreita e tortuosa estrada Lisboa-Cascais, a que a larga visão do Duarte Pacheco pôs termo, como também não só deve ter varrido da memória dos homens a história daquele burro que em dia de chuva morreu afogado numa cova da estrada de
Sintra ...
Por estes simples exemplos dos arredores da capital fácil é depreender a aventura que representava a utilização rodoviária de mais longínquas andanças e o que seriam as restantes infra-estruturas turísticas dependentes dos Poderes Públicos.
E, todavia, a partir de 1911 não faltaram diplomas legais a regulamentarem não só a actuação destes pioneiros, mas ainda a secundarem (?) a acção benemérita do Automóvel Chibo de Portugal e, sobretudo, da Sociedade de Propaganda de Portugal, que muito se esforçou por colocar o nosso país no mapa do turismo mundial ...
Simplesmente, o nosso país andava nessa altura ausento de si próprio. Sem governo capaz, sem dinheiro, sem crédito e sem ordem na rua e nos espíritos, ele só era conhecido no estrangeiro pelas revoluções contínuas em que consumia a honra e a Fazenda.