O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

3658 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 145

fortunas, não se fica logo inquieto por colocar em todas as cidades capitais de distrito ou em todas as estâncias termais ou turísticas do Portugal estes importantes elementos de progresso?
E desde que se tenham essas pequenas pistas e esses pequenos aviões não se notará logo um substancial aumento de passageiros nacionais e estrangeiros nos aeroportos de Pedras Rubras e de Faro e na aerogare de Lisboa, que, reservada então só para o tráfego nacional, parecerá grande e perfeita no seu funcionamento?
Com eles não se deixará de assistir aos bocejos e ao spleen dos estrangeiros nas mesas dos cafés e nos balcões dos bares, por falta de distracção, dando-lhes assim oportunidade de visitarem, rapidamente e quase sem incómodo, os mais variados pontos do País?
Quando se percorre os 32 km da grande praia da Caparica e se experimenta as delícias da sua fina areia, do seu mar e do seu sol, e se fecha os olhos para melhor ver tudo quanto um bom plano de urbanização, que nunca passou dos jornais, poderia ter feito naquele mundo de luz e de cor, em lugar daqueles insípidos arruamentos e daquelas sórdidas barracas tresmalhadas; quando se conhece a península de Tróia e se recorda aquelas maravilhosas enseadas de água azul e aquelas tépidas e macias areias que se estendem por mais de 25 km de boas praias, quase completamente desertas, mas agora, felizmente, reservadas para melhor destino; quando se contempla a ilha de Tavira e se antevêem as suas possibilidades turísticas que emperramentos burocráticos teimam em demorar, não se sente, um misto de tristeza e de alegria - tristeza por tudo quanto até agora se desprezou e retardou e alegria por tudo quanto agora se deseja aproveitar e acelerar?
Quando se visitam as nossas estâncias termais, umas com instalações sumptuosas, outras com instalações mais modestas, mas todas com real valor medicinal, e se nota a falta de interesse e de carinho que lhes votam os próprios Poderes Públicos, quer excluindo-as de qualquer plano de valorização turística, quer negando-lhes benefícios elementares, como seja a estrada Curia-Praia de Mira, que nunca chegou a ser concluída, não se fica penalizado e confundido?
Não se fica com vontade de perguntar se esses estabelecimentos não serão, ainda agora, preciosos instrumentos de cura e de repouso? Se os seus valores urbanos e paisagísticos não constituirão ainda hoje poderosos centros de atracção turística?
Nós fomos sempre assim: embora muito ciosos da nossa terra e do nosso património material e espiritual, nunca soubemos dar o devido apreço àquilo que já temos ou que já se encontra feito.
O caso dos nossos castelos, das nossas igrejas e dos nossos palácios mais antigos, em boa hora salvos da ruína total pela Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, é bem elucidativo.
Não o é menos também o caso dos moinhos.
Portugal é, de longe, o país da Europa que mais moinhos possui.
Contam-se por milhares aqueles que outrora ofereceram à força das águas ou do vento as suas curtas pás ou alcatruzes, ou as suas longas velas ou penais. Pois, apesar de esses graciosos elementos da paisagem constituírem hoje. na Europa, engenhos de reconhecido valor estético e etnográfico e como tais defendidos e acarinhados por todo o mundo culto, Portugal, ao contrário da Holanda, que se ufana há muitos anos dos seus 300 moinhos, ao ponto de usar, por vezes, na sua propaganda turística a legenda «Holanda. País de Moinhos», só agora encontrou no grupo de homens que formam a Associação Portuguesa dos Amigos dos Moinhos quem lhe queira verdadeiramente bem.
E digo quem lhe queira verdadeiramente bem, porque há também quem goste deles para lhes dar os destinos mais caprichosos e diversos ...
E a falta de amor à autenticidade que, aliás, se verifica em muitos outros sectores da vida nacional, quer quando se transforma um castelo numa pousada, quer quando se mobila com estranhos móveis, ingleses, franceses e espanhóis do século XVI, como agora se fez, uma Torre de Belém que devia manter-se exclusiva e genuinamente portuguesa na plenitude da sua simbologia estética e
histórica ...
Sr. Presidente e Srs. Deputados: no rápido bosquejo histórico que atrás foi feito e nas sérias interrogações que se lhe seguiram julgo ter deixado transparecer algo do que são as actuais preferências das correntes turísticas mundiais e algo das condições excepcionais que o nosso país apresenta para as poder satisfazer em toda a sua amplitude. Da realidade dos factos pude assim tirar, ad usum proprium, algumas conclusões que me ajudam a sair da malha intrincada de problemas em que ele se enreda e assim poder resumir, em breves linhas, o que penso sobre o assunto:
Sendo o turismo, além de uma quase necessidade vital dos nossos dias, uma florescente indústria de alta rentabilidade e uma poderosa fonte de divisas, penso que Portugal cometeria um grave erro se, neste momento delicado da sua história em que tão empenhado se encontra na defesa militar e no desenvolvimento económico do seu território, não lhe desse o máximo da sua atenção e das suas possibilidades.
Existindo um turismo externo e um turismo interno e havendo ainda dentro destes sectores várias subdivisões consoante o grau de riqueza e o seu aspecto individual ou social, penso que tudo devemos fazer para captar a simpatia de todos, apetrechando o nosso país não só com hotéis destinados aos mais abastados, mas também aos de menores recursos, que, em compensação, são também os mais numerosos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Havendo uma província no Sul do continente português em natural continuidade geográfica e em idênticas condições climáticas com a região de Espanha que mais preferida é, durante todo o ano, pelos estrangeiros e existindo também, em pleno Atlântico, uma ilha de grande beleza cujo clima excepcional permite que a ponta de frequência turística seja em Fevereiro, e não no mês de Agosto, como em toda a parte, penso que é ao Algarve e à Madeira que se deve dar prioridade nos investimentos dos próximos anos.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sabendo que a estimativa dos estabelecimentos de hotelaria previstos para todo o País no Plano de desenvolvimento turístico para 1964-1968 adicionados aos equipamentos complementares (casinos, restaurantes, piscinas, campos de golf, etc.) anda por 3 milhões de contos, quantia que não tem de sair do Orçamento Geral do Estado, mas quase exclusivamente do bolso dos particulares, que apenas receberão daquele facilidades, avales e subsídios recuperáveis pelo Fundo de Turismo, penso que o Plano é perfeitamente exequível, dentro do prazo estipulado, sem que o seu processamento determine qualquer perturbação financeira na banca interna ou na balança de pagamentos, já porque aquela dispõe de abun-