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14 DE MARÇO DE 1964 3653

de Babel que é a O. N.º U., onde na altura se procurava destruir o mundo que portugueses criaram com amor e caridade, e o encontro de anteontem nesta magna Assembleia dava-se precisamente na altura em que debatíamos o problema do turismo nacional e em que procurávamos edificar mais uma obra gigante da vida nacional e que servirá para irmanar ainda mais as populações portuguesas de todo o Mundo.
E, por me parecer oportuno prestar desta tribuna as minhas homenagens aos embaixadores ilustres que foram os jovens académicos nas terras da grande América do Norte, repetirei as afirmações já feitas em Coimbra no ano findo numa palestra que ali proferi por amável convite do Exmo. Governador do distrito e com a assistência do Sr. Ministro do Interior:

Permita-me ainda. Sr. Ministro, que antes de entrar propriamente na matéria da palestra, e fugindo um pouco às rígidas fórmulas protocolares, apresente na pessoa, do magnífico reitor as minhas sinceras saudações à Universidade de Coimbra, nas quais desejo abranger tanto os ilustres mestres como a massa académica, que muito a prestigiam dentro e fora fronteiras.
Aproveito assim a oportunidade para publicamente felicitar a Academia de Coimbra pelo extraordinário e retumbante êxito obtido pelo seu orfeão na digressão feita pelas cidades da América do Norte e culminada com a sua magnífica apresentação no Philarmonic Lincoln Center, de Nova Iorque, perante um auditório de milhares de portugueses e americanos, espectáculo que mereceu os maiores encómios por parte da imprensa nova-iorquina.
Tive o privilégio de estar entre esses milhares de espectadores e vi muitas lágrimas deslizarem pelos rostos de vários portugueses do continente, das ilhas adjacentes e de Cabo Verde, os quais, irmanados no mesmo sentimento nacionalista, apoiaram e aplaudiram entusiasticamente os jovens estudantes que tão bem souberam representar e prestigiar Portugal nas terras americanas, evidenciando assim a vitalidade da raça e a certeza de que dispúnhamos de uma juventude capaz para, continuar o exemplo dos nossos maiores.
Apreciei o entusiasmo com que as moças luso-americanas, algumas pertencendo já à terceira geração, procuravam, após o magnífico espectáculo, contactar com essa mocidade vigorosa, sempre a transbordar de alegria e de boa disposição.
Assisti extasiado à consagração desse punhado de rapazes, não só quando terminou o espectáculo e a assistência de pé os aplaudiu intensamente, mas também quando dias depois se apresentaram na televisão para serem apreciados por milhões de telespectadores residentes nos diversos estados norte-americanos.
E para nós, membros da delegação portuguesa às Nações Unidas, a passagem dos alegres académicos portugueses por Nova Iorque constituiu um lenitivo dos dias amargos que ali vivíamos e serviu de incentivo para nos animar a aguentar com serenidade os rudes ataques que estávamos sofrendo.

Mas, Sr. Presidente, já me estou alongando de mais.
Portanto, aqui me detenho e concluo esta minha modesta intervenção com os seguintes votos bem sinceros:
Que se encare com realismo a problemática turística do ultramar;
Que lhe sejam fornecidos os necessários meios de nação, sob o ponto de vista material e de planificação, para o que se torna imperioso a coordenação de esforços entre os dois organismos que tratam do turismo nacional;
Que as nossas companhias de navegação aérea e marítima e a Junta da Marinha Mercante continuem acarinhando com o mesmo interesse e melhorem logo que possível as ligações com o nosso ultramar;
Que se consolidem as infra-estruturas turísticas nas nossas províncias de alem-mar e, no caso especial da Guiné, que se dê apoio material à iniciativa feliz e oportuna do actual governador da província, comandante Vasco António Martins Rodrigues, no sentido de serem ampliadas as pistas de aterragem do Aeroporto Craveiro Lopes, de Bissau, de forma a torná-las acessíveis aos aviões a jacto de longo curso;
Que se facilite a satisfação de duas grandes aspirações da população da capital da província pela concretização das duas grandes obras de que todos suspiram: a piscina municipal e um hotel confortável e de linhas airosas, para o que todos contam com o apoio do Governo e do Banco de Fomento Nacional, que certamente não deixará de estender o seu auxílio financeiro à Guiné, que muito dele necessita nestes conturbados tempos, mais que não seja para traduzir a nossa fé em melhores dias e encorajar todos os que continuem firmes no seu posto; e, finalmente,
Que pelas armas, pelo prosseguimento das conversações habilmente iniciadas pelo Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros na O. N. U. ou por mais um milagre, como tantos outros que nos têm valido em momentos difíceis da nossa história, se consiga extinguir rapidamente a fogueira que os nossos inimigos tentam atear cada vez mais nas nossas províncias ultramarinas, especialmente de Angola e da Guiné, para que possamos continuar, irmanados dentro da grande comunidade lusa, a trabalhar com calma e a aproveitar melhor os nossos recursos financeiros para bem do turismo, das relações entre as populações, do progresso económico do ultramar e, consequentemente, deste Portugal unido, que todos queremos ver mais engrandecido.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Gamboa de Vasconcelos: - Sr. Presidente e Sr s. Deputados: depois do brilhante e exaustivo trabalho que o ilustre Deputado Sr. Dr. Nunes Barata apresentou no passado dia 26 a esta Assembleia em efectivação do seu aviso prévio sobre turismo, parece que nada mais haveria a dizer sobre o assunto.
S. Exa. foi tão profundo no seu estudo, tão minucioso na análise dos factos, que nenhum aspecto da intrincada problemática daquele sector escapou à crítica serena e construtiva do seu privilegiado espírito.
Tão vasto, porém, é o panorama em que se desenvolve a aliciante magia do turismo que muitos têm sido aqueles que, apesar disso, não resistem à tentação de o observar e de o comentar do ângulo das suas predilecções mais queridas ou do fundo das suas lucubrações mais sinceras.
E eu sou um deles.
Como descendente directo dos homens que primeiro sentiram nos alvores da Renascença a ânsia de novos horizontes e como filho de uma ilha, plena de beleza e de encanto, mas que Deus colocou na imensa solidão do mar em perpétua saudade de mais largo convívio, frequentes são as vezes que me surpreendo a meditar sobre esse extraordinário fenómeno que tanto enleia os povos nos nossos dias.