O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

18 DE MARÇO DE 1964 3685

Distrito predominantemente rural, de terra retalhada, tem ele duas partes absolutamente distintas, mas igualmente empobrecidas.
A parte litoral, onde a extensão cultivável poderia e deveria constituir uma mancha de grande valor económico, está cada vez mais flagelada pelo Mondego, que, no desordenamento das suas correntes, ou lhe empobrece os seus 15 000 ha com mantos de água que impedem os granjeios ou comprometem as colheitas, ou a esteriliza com as areias que carreia dos desnudos alcantis do interior.
Esta parte interior, essencialmente minimifundiária, não dispõe de muita terra arável, já que o maciço montanhoso predomina, deixando apenas ou quase só nas margens das linhas de água os pedaços de terra produtiva de maior valor, contrastando com os retalhos disseminados nas zonas restantes cuja precariedade é notória.
Muito menos do que medianamente industrializado, também neste aspecto o distrito de Coimbra é um distrito empobrecido.
Não deve causar admiração, portanto, que, procurando a sua valorização no melhor e único sentido da valorização nacional, tanto se venha lutando para que todas as suas potencialidades se aproveitem e estimulem adequadamente.
Essa valorização não tem, contudo, um cunho exclusivista.
Na verdade, sabendo e conhecendo quanto de utilidade, política, económica e social, se pode alcançar com o aproveitamento da grande bacia que o Mondego define e a que dá nome, deseja-se que se estudem todos os aproveitamentos desta grande bacia hidrográfica, que se estende por mais de 600 000 ha de terras dos distritos de Coimbra, de Viseu e da Guarda.
É uma ideia do mais alto sentido nacional, pois realizada ela, em obediência aos planeamentos que se tornam necessários, deverá alcançar-se uma valorização da parte central do- País de tal maneira importante que poderá ficar afastado para sempre o espectro da premente mediocridade que hoje tanto nos aflige.
Gratas estão, por isso, as forças vivas do distrito de Coimbra aos Srs. Ministros da Economia e das Obras Públicas e Secretário de Estado da Agricultura por saberem que finalmente no próximo plano de acção de 1965-1967, intercalar dos grandes planos de fomento, serão incluídas as verbas necessárias para um vigoroso arranque do integral aproveitamento da bacia do Mondego, dando prosperidade e engrandecimento a uma área vastíssima do território nacional que hoje vive os desfavores das muitas limitações do seu notório empobrecimento.
Eu sei que em todo o distrito de Coimbra há a exacta noção do saliente valor desta grande iniciativa de carácter eminentemente nacional.
Além das comissões e organismos oficiais, a quem imcumbe mais directamente o ordenamento e estudo dos grandes problemas que têm de ser equacionados, já se instituiu em Coimbra, sob a égide do respectivo governador civil, uma comissão denominada Comissão de Estudo do Desenvolvimento Económico e Social do Distrito de Coimbra, que, composta de representantes de todas as actividades distritais, já está em pleno funcionamento.
Desta Comissão muito se pode esperar, dado o muito devotamento dos seus componente, que se propõem trabalhar sem desfalecimento com os organismos estatais no sentido de se darem soluções condignas aos grandes problemas havidos como verdadeiras calamidades tradicionais.
Entre essas grandes calamidades avulta a da situação dos campos do Mondego, que todo o Portugal conhece.
E que não se trata, bem vistas as coisas, de um mero problema local.
São mais de 15 000 lia de boa terra arável que estão hoje praticamente improdutivos ou tão pouco aproveitados que o seu valor económico é efectivamente diminuto.
Na verdade, esses campos submetidos às incontroláveis cheias do rio, sem os necessários e convenientes enxugos, além de não permitirem culturas de ciclos vegetativos mais demorados e por isso mais rentáveis, pois nunca se sabe com segurança se as águas permitirão as sementeiras e granjeios e consentirão as colheitas, estão também em grande parte submetidos aos assoreamentos sucessivos que as águas vão fazendo quando desconjuntam as motas marginais, praticando quebradas por onde essas areias entram sem estorvo, já que os níveis do leito do rio lhes são muito superiores.
Para esta gravíssima e sempre progressivamente agravada situação concorre poderosamente o desordenamento da empobrecida agricultura das zonas do interior.
Ali a florestação, que seria a melhor fórmula de tornar rentável estas zonas, ou não se faz ou se pratica com inteiro empirismo, dando lugar aos maiores desencontros económicos, desde as plantações aos cortes do arvoredo, e desde a escolha das espécies ao seu tratamento e cultura.
Por outro lado, os esquemas culturais desta região de acentuado cunho minimifundiário também não garantem a rentabilidade que seria necessário receber da terra!
Desta sorte, está a verificar-se um gradativo empobrecimento no distrito de Coimbra, que começa a apresentar aspectos verdadeiramente alarmantes. Porque a agricultura não produz rendimentos que valham, não pode garantir salários achados compensadores.
A mão-de-obra rareia progressivamente!...
Uns partem em busca da cidade, onde a indústria os espera e lhes garante um somatório de apreciáveis vantagens, ostensiva e justamente defendidas através de contratos colectivos de trabalho cada vez mais melhorados e remuneradores; outros demandam os eldorados estrangeiros, onde se arrecadam ganhos substanciais.
As vilas e as aldeias vão ficando cada vez mais desertas, ainda porque os jovens, chamados à nobilíssima tarefa de servir a Pátria, raramente recobram o sentido da terra, desambientados como estão por longa permanência longe da faina agrícola!
Caminha-se, assim, para situações da mais alta inconveniência política, económica e social!
Aqui as denunciaram os ilustres oradores que subiram a esta tribuna e bem as conhecem os Srs. Ministro da Economia e Secretário de Estado da Agricultura, cujas inteligentes actuações demonstraram o grande devotamento com que procuram servir o melhor interesse da grei.
Contudo, não parece que possam caber apenas a estes importantes departamentos da alta administração do Estado as soluções a curto e a longo prazo dos grandes e tremendos problemas da nossa agricultura.
Tais soluções hão-de ser produto de uma coordenada actividade de vários Ministérios, que têm de trabalhar na mais perfeita harmonia.
É que à estrutura agrária tem de ser garantida plena e integral paridade com as outras estruturas da vida nacional.
Se ao empresário industrial e ao comercial se permitem e garantem lucros tendentes a estimular-lhes as actividades, lançando mão dos meios reputados necessários, não pode negar-se ao empresário agrícola a mesma gama de sobrevivências.