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4316 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 170

os serviços turísticos da Presidência do Conselho, existem outros produtos aparentemente mais desvaliosos, que, embora arrumados nos planos de fomento em sector diferente, pertencem, por direito próprio de proveniência e de constituição, às indústrias extractivas: as águas.
A água, meus senhores, a simples água pura que recebemos das chuvas por mera condensação atmosférica, essa feliz combinação de hidrogénio e de oxigénio que Tales de Mileto considerou como sendo a origem de todas as coisas, na verdade, o mais importante produto da Natureza.
Ela é a parte preponderante da constituição dos nossos tecidos, ela é o agente vector das trocas nutritivas, ela é a base em que manobram os átomos da própria vida.
Semelhante fluido, quer seja olhado na grandeza serena de um grande rio, quer seja ouvido no deslizar cantante de um pequeno regato, quer .seja tomado na límpida frescura de uma fonte, produz sempre um profundo sentimento de admiração, de encanto e de bem-estar.
Todos sentem, pois, que na sua contextura há qualquer coisa de imaterial e de benéfico que a um tempo emociona e reconforta, sem que, todavia, a nossa inteligência o saiba explicar.
Não admira, pois, que desde os primórdios da humanidade ela fosse considerada de essência divina e, como tal, tenha servido até aos nossos dias não só para manter a frescura e a limpeza dos corpos, mas ainda para os actos transcendentes das bênçãos e das purificações das almas.
Depois de se pensar no maravilhoso efeito que a simples água pura exerce sobre nós - mistério que todos os dias se renova à vista de toda a gente -, compreende-se melhor qual o respeito devido à água que alie àquelas qualidades naturais (ou sobrenaturais) o dom especial de curar doenças.
Eis porque as águas mineromedicinais, antes mesmo de se conhecerem, por provas empíricas ou cientificas, os valiosos elementos químico-físicos que continham, foram sempre olhadas e usadas pelos homens como preciosos auxiliares contra os males físicos que os atormentavam, quer esses homens vivessem em épocas consideradas de obscurantismo, quer pertencessem às gerações mais esclarecidas dos tempos modernos.
Data da Antiguidade Clássica o uso das águas termais, como agentes terapêuticos, em estabelecimentos expressamente construídos para esse fim.
Assim o atestam os numerosos «banhos públicos» e particulares que a arqueologia guarda ciosamente não só na Grécia e na Itália, mas ainda na Península Ibérica, para onde os Romanos levaram os seus costumes.
Essa tradição não se perdeu com a sua saída desta região. Ela perdurou sob o domínio sarraceno, transpondo a Idade Média e expandindo-se posteriormente por muitos países da Europa.
Hipócrates, Galeno, Avicens, Paracelso e Ribeiro Sanches, para só citar os nomes mais altos da medicina, deram-lhe, através dos tempos, o seu apoio. Os nossos reis, desde Afonso Henriques, nunca deixaram de os acarinhar ou deles fazer uso.
No século XV a rainha D. Leonor fundou mesmo, nas Caldas da Bainha, o primeiro hospital termal do Mundo, honrosa precedência que jamais soubemos ter em outros sectores ou em outras épocas do termalismo.
A fama e o proveito das curas hidrológicas jamais pararam então de crescer e de prosperar e em chegando aos alvores do século XIX eram já tão grandes que se não
podiam conter nos humildes «banhos» ou «caldas» dos tempos de outrora.
Enormes e luxuosos hotéis no lado de sumptuosos estabelecimentos hidroterápicos começaram então a surgir, como por encanto, nalguns países da Europa, e todo o conforto dessa época aliado às galas da Natureza, começou a transformar agrestes e isolados, lugares em encantadoras estâncias de tratamento e de repouso.
Portugal, no final dessa centúria, também se lançou nesse caminho e, embora o seu primeiro regulamento de águas só viesse á luz do dia em 1894, isto é 78 anos depois da vizinha Espanha e 305 anos depois da distante França, o que é verdade é que, desde então, vários foram também os pontos privilegiados do seu território que se aformosearam e encheram de belas construções.
O prémio deste notável esforço, que demandou persistentes canseiras e avultado? capitais, não foi porém, grande.
Passados poucos anos de relativa prosperidade, a frequência das estâncias nacionais entrou a decrescer e, com esse decrescimento, a rentabilidade das respectivas explorações passou a ser reduzida, nula ou mesmo negativa.
Que se havia passado, pois, para que assim sucedesse?
Acaso as águas haviam falhado, no volume dos seus caudais ou no teor das suas qualidades?
As águas mineromedicinais portuguesas, ao contrário das outras matérias extractivas, gozaram sempre da boa fama de serem ricas e abundantes.
Com efeito, de norte a sul, desde o Minho até Angola, ou de leste a oeste, de Timor aos Açores, mais de 1000 nascentes, agrupadas em 250 núcleos termais, brotam do subsolo em jorros intermináveis.
Desde as águas hipossalinas simples, fluoretadas, aluminadas ou ferruginosas, mais ou menos radioactivas, até às águas carbonatadas sódicas, cálcicas e mistas, as águas sulfúreas cálcicas, sódicas ou sulfidricadas, às águas sulfatadas cálcicas, sulfatadas arsenicadas ou férricas, às águas cloretadas sódicas, cloretadas sódicas concentradas ou cloretadas ferruginosas, de tudo, e em profusão, há neste bendito solo português, que, neste campo, nada tem a invejar a outros países de maior dimensão.

O Sr Sousa Birne: - Nós temos perto de Castelo de Vide a nascente de água de maior radioactividade da Europa.

O Orador: - Eu sei. e é bom que V. Ex.ª o esclarece com maior autoridade do que eu.
Assim, e segundo se pode ler no Manual Hidrologia de Portugal, do ilustre médico Dr. Ascensão Contreiras as águas de Vidago têm par na fonte Grande Grille, de Vichy: as águas das Pedras Salgadas podem dizer-se; irmãs das nascentes de Verin, pois são ramos da mesma toalha subterrânea que atravessa a divisória fronteiriça Melgaço é congénere das águas de Pougues; Geres mostra a electividade terapêutica das águas de Carlsbad embora sob o ponto de vista químico se distancie desta conhecida estância checoslovaca, cuja composição s aproxima mais das nossas quase ignoradas água do Tede as Caldas de Chaves têm sido comparadas às da [...] estação alemã de Ems; Moledo, Vizela ou Aregos pôs suem as qualidades das fontes de Luchon ou da estância de Cauterets, nos Altos Pirenéus; Caldas de Canaveses condizem com La Borboule; Caldelas é a nossa [...] bières; Entre os Rios ombreia com Bagnéres de Bigorre as Caldas das Taipa? traduzem os benefícios dos [...], do Molitg; Unhais da Serra actua de modo parecido a Bagnoles-de-l'Orne; S. Pedro do Sul [...] às fontes sulfúreas de Amélie-les-Bains e Verne