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28 DE JANEIRO DE 1965 4403

Para cada preparação há uma ficha de trabalho, as pesagens são sujeitas a duplo controle e o boletim é assinado pelo farmacêutico-proprietário. Os reclamos proibidos, pelo respeito que se deve ao público e protecção a que ele tem direito.
Com toda esta organização, que eu me limito a condensar, deu-se um notável avanço. À indústria farmacêutica cabem hoje 800 000 contos do rendimento da nação, 554 000 dos quais são destinados à exportação. A farmácia e os institutos de biologia têm renome mundial.
Produtos altamente especializados, enfare os antibióticos, vitaminas e hormonas, são produzidos em larga escala e em condições de alto rigor científico pelos laboratórios dinamarqueses.

Sr Presidente: Se aquele pequeno país pôde, em vinte anos, por esta via, realizar tão extraordinária proeza, neste campo, porque nos não abalançamos também a seguir por idêntico caminho?

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: -Porque espetamos para a reforma e actualização do nosso ensino farmacêutico?

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Porque continua a dormir o projecto que há-de restaurar as Faculdades de Farmácia de Coimbra e de Lisboa? Como havemos de ter bons técnicos de elevar o nível da sua preparação, de garantir a atracção dos alunos para esta nobre carreira da farmácia, se não entramos decisivamente a transformar de maneira radical uma organização que nos compromete cada vez mais?

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - Já aqui me ocupei largamente deste problema quando tratei da restauração que urge fazer da Faculdade de Farmácia de Coimbra. Dei conta das necessidades do País e do alto nível dos professores que ali ensinam. Disse que o selo das especialidades e o imposto alfandegário são mais que suficientes para fazer face às despesas da restauração daquela Faculdade.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E a verificação das matérias-primas dos medicamentos especializados junta ao selo dá largamente para aquilo de que no capítulo do ensino da
Farmácia em moldes modernos tanto carecemos.
Aqui deixo novo apelo, em absoluta consciência de estar cumprindo um dever ao serviço da Nação.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Espero que ele seja ouvido e que a deplorável situação em que se encontra a organização do ensino da Farmácia em Coimbra se não mantenha
mais tempo. Digo a organização do ensino, porque quero excluir desta referência uma plêiade de mestres de categoria universitária, extremamente dedicados, que têm mantido naquela Escola um alto nível de preparação técnica aos seus alunos e têm realizado uma utilíssima obra de acção extra-escolar que abrange variados
aspectos da actividade rios farmacêuticos.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sr Presidente Gostaria que está e os demais diplomas a publicar nos trouxessem, entre outras coisas, a garantia de um exercício farmacêutico de alto nível; uma presença efectiva e real do farmacêutico na sua farmácia,

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - uma inspecção cuidada destes dois elementos, das matérias-primas e das embaladas, um formulário nacional dos medicamentos, uma defesa constante da saúde pública neste tão importante sector, uma actualização do ensino da Farmácia, garantia da preparação científica e técnica dos profissionais farmacêuticos e demais cooperadores, atracção mais forte dos alunos à frequência das respectivas escolas, e, sobretudo, uma descida do preço, injustificadamente elevado, dos medicamentos que são hoje, na sua maioria, inacessíveis u maior parte dos Portugueses.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Então, Sr Presidente, daríamos um grande passo na defesa da justiça e também da saúde e da vida dos Portugueses.
Termino com as palavras de um ilustre professor e denodado paladino da farmácia portuguesa.
A farmácia existe, não para satisfazer os interesses económicos do seu proprietário, mas para ocorrer às necessidades da saúde pública
Esta exige todas as garantias do eficiente fornecimento dos medicamentos.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr Elísio Pimenta: - Sr Presidente O mestre da história da medicina, Doutor Luís de Pina, no seu interessantíssimo trabalho Medicina e Farmácia, ontem, hoje e amanhã, ao relembrar, no final, o conhecido epigrama do grande Bocage.

Arrumado às duas portas
Pingue boticário estava,
E brandamente acenou
A um doutor que passava
Mal que chega o bom Galeno
Diz o outro com ar jocundo
"Unamo-nos, meu doutor,
E dêmos cabo do Mundo"

o Prof. Luís de Pina, em homenagem à verdade que a liberdade poética confundiu com "algumas faltas e crimes de médicos e farmacêuticos de todos os tempos", repôs a deusa no seu lugar "como apelo e extremo voto à colaboração humanista de médico e farmacêutico, tão bem simbolizados na germanidade dos santos Cosme e Damião".

Mal que chaga o bom Galeno
Diz o outro com ar jocundo
"Unamo-nos, meu doutor,
Salvemos ambos o Mundo"

E postas as coisas no devido lugar pelo ilustre professor da Universidade portuense, a quem a cultura humanística merece constantemente o preito da sua esclarecida inteligência, prestemos a nossa rendida homenagem a médicos e farmacêuticos e celebremos, reconhecidos, essa indissolúvel colaboração, que só a identidade de formarão científica e deontológica pode manter, para defesa do um bem superior, que é a saúde física e mental e cuja