24 DE MARÇO DE 1965 4599
a criar, que se dedicam ao estudo do aproveitamento das águas.
Não podemos - e sobretudo não devemos - ignorar o que se pensa e o que se faz nos países vizinhos em matéria de aproveitamentos hidráulicos nos rios que também pertencem a Moçambique, o papel que a água representa para o desenvolvimento económico desses países, as preocupações que origina a ameaça da sua escassez no futuro, os cuidados que o problema merece aos respectivos governos. Basta dizer-se que só na África do Sul estão, presentemente, em execução 82 projectos de aproveitamentos hidráulicos.
Vejamos algumas opiniões acerca do caso sul-africano.
O honourable P O Sauer, ao tempo deputado e mais tarde ministro das Terras e das Águas da antiga limão da África do Sul, disse, a propósito do futuro daquele país, que seria aproveitando toda a água que porventura obtivesse que a África do Sul poderia alcançar o seu maior desenvolvimento, que esse desenvolvimento seria provável e finalmente determinado pela eficiência com que fosse utilizada a sua cadeia mais fraca - a água, que, a medida que o seu desenvolvimento aumentasse, a África do Sul ver-se-ia obrigada a continuar a promoção do aproveitamento dos seus recursos hídricos até um ponto em que, por razões físicas ou económicas, não conseguisse obter mais água, embora outros recursos (o solo, as minas e a indústria) fossem ainda susceptíveis de um maior desenvolvimento, que o desenvolvimento do país, tanto no campo agrícola como no industrial, dependeria sobretudo da adequada exploração dos seus recursos hídricos (opúsculo intitulado A Água na África do Sul, publicado em Março de 1958 pelo State Information Office, de Pretória)
Por outro lado, John H Wellington, professor da Universidade de Witwaterarand, diz a pp 181 e 183 no II vol da sua obra Southern África - a geographical study.
Em todos os problemas do esforço e desenvolvimento humanos, na África do Sul, a questão do abastecimento de água prova geralmente ser um problema básico.
E da maior importância encontrar água suficiente para a futura expansão industrial.
De acordo com L A Mackenzie, antigo director do Departamento de Irrigação da União, as áreas hidrográficas melhor situadas para a futura expansão industrial são, em ordem de prioridade a Zululândia, a bacia do Tugela, a área do no Komati área do Limpopo e do Transkei, as quais, em conjunto, representam cerca de 66 por cento dos recursos hídricos da União.
Citei esta última parte do trabalho do Prof Wellington porque nela se fala de dois, nos que nos interessam particularmente o Komati, que é tributário do nosso rio Incomati, e o Limpopo, cujos aproveitamentos na República da África do Sul estão a criar graves problemas ao colonato do Limpopo, como já atrás referi, e que como também se viu, ainda poderá sofrer maiores aproveitamentos no território do país vizinho.
A revista Barlays Trade Review (numero de Maio de 1964), editada em Joanesburgo, publica um artigo intitulado «Water - life blood of the Nations», no qual se diz que «a água é a matéria-prima mais importante para qualquer país» e que «a água na África do Sul é aflitivamente escassa» Diz-se ainda no mesmo artigo que o Governo da África do Sul projecta a construção ai barragens nos rios Pongola, Crocodile e Usutu, que o Departamento das Águas daquele país acaba de completar o projecto da barragem de Stomdrift, no rio dos Elefantes, que estavam
progredindo satisfatoriamente as obras relativas ao esquema de irrigação, no valor de 39 milhões de rands, das extensas planícies de Pongolapoort-Makatini, a nordeste da Zululândia, cuja albufeira, a de Pongolapoort, ficará sendo a terceira, em dimensão, da África do Sul, que o Departamento das Aguas continua a esforçar-se energicamente no sentido de assegurar ao país quantidades suficientes de água para as próximas décadas.
Novas referências se fazem, como acabámos, de ver, aos nos Pongola, Crocodile, Usuto e Elefantes, cujas bacias hidrográficas drenam para o território de Moçambique alimentando o caudal dos nossos rios internacionais.
Não é preciso fazer muitos comentários, nem pintar o quadro com cores muito carregadas, para se ver com clareza que na República da África do Sul se trabalha activamente no sentido de ser feito o maior aproveitamento possível das águas dos seus rios, muitos dos quais representam o curso superior de nos de Moçambique.
Sabe a África do Sul - e isso tem sido dito muitas vezes - que o seu progresso económico depende, em primeiro lugar, da quantidade de água de que puder dispor. E não é apenas para a agricultura e para a pecuária que precisa deste líquido precioso. É também para o desenvolvimento da sua indústria, em cuja actividade toma posição de relevo a exploração das suas minas.
Ora, em Moçambique sucede precisamente o mesmo. O desenvolvimento da nossa agricultura, da nossa pecuária, da nossa indústria, depende inteiramente da água com que possamos contar. Mas torna-se urgente que a aproveitemos, que a utilizemos, que mostremos aos detentores dos cursos dos nos a montante da linha da nossa fronteira que a estamos a aproveitar e a utilizar no desenvolvimento dos nossos recursos económicos, no melhoramento das condições de vida das nossas populações, na dessedentação de gentes e gados de muitas regiões da província onde a falta de água cria problemas dramáticos.
Há regiões de Moçambique que suo completamente becas, cujas populações e gados, na época da estiagem, vivem momentos de verdadeiro martírio por falta de água, e para as quais não existe outra solução que não seja o recurso a obras de carácter hidráulico. Uma dessas regiões, paia citar um exemplo, é a que refere o Eng.º Manuel Romano no seu opúsculo. A Hidráulica Fluvial no Desenvolvimento de Moçambique, quando escreveu o seguinte acerca do grave problema das secas.
Afigura-se-nos que a região de Moçambique onde o problema se apresenta com maior gravidade é a que se situa entre o rio Sabié e o dos Elefantes, separados por cerca de 150 km de terras onde não há água durante a época seca.
Esta região, segundo diz ainda o Eng.º Manuel Romano, poderia ser vantajosamente abastecida por dois canais de rega um, que seria orientado no sentido do sul, por barragem no rio dos Elefantes, a jusante de Massingir, outro, lançado na direcção do norte, por barragem do no Sabié, nos Libombos ou na Corumana.
Referi-me com maior insistência a rios que nascem e correm, no seu sector de montante, em países cujas rodas do progresso estão a mover-se com rapidez cada vez maior. É o caso da República da África do Sul e da Rodésia. Mas há outros países, cujos territórios também confinam com Moçambique, que, animados do mesmo anseio do progresso, devei ao certamente inicial, num futuro que não andará distante, o aproveitamento dos recursos hidráulicos dos seus nos, os quais, no seu percurso para a foz, atravessam a nossa província e o que acontecerá na