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4624 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 193

garantia de riqueza privada como tem sempre de ser, pela protecção a iniciativa individual e familiar. Mas incumbe-lhe o dever de propiciar o clima em que os grandes e pequenos capitais (sempre mais estes do que aqueles) se sentem atraídos e compensados. Que importa criar uma pesada burocracia de economistas e técnicos, se ela, em vez de possibilitar riqueza, leva consigo em vencimentos a frágil economia que importava defender?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A técnica há-de servir o espírito, nunca afogá-lo. Dirige e incita a livre expansão de forças, em caso nenhum as pode ignorar nem substituir.
Estudem-se, com pleno rigor científico, as condições do solo, do duna, das sementes, das plantas, dos gados, analise-se a terra, as propriedades químicas da leiva que pensamos lavrar, apure-se metodicamente a carta moçambicana das riquezas do subsolo, organize-se rapidamente um quadro geral das aptidões de cada zona da província e proceda-se à execução por fases, começando, naturalmente, com as mais vantajosas, pela riqueza, pelas facilidades de acesso, pela abundância da mão-de-obra nativa. Criemos condições, e os colonos hão-de acudir livremente para, na santa paz de Deus, repetirem o milagre da abundância O convívio multirracial, a fraternidade entre o branco e o preto, a miscegenação biológica e espiritual entre o continental e o ultramarino, surgirão por si, com a solidez indestrutível que a natureza imprime sempre nas suas obras.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Também não compreendo os entraves que se têm levantado à criação de certas indústrias em Moçambique, pelo receio de que venham a competir com outras similares da metrópole. Que mal virá daí? Não é Portugal, com todas as parcelas dispersas pelo Mundo, uma velha e gloriosa nação una e indivisível? Não vemos todos a vantagem de atrair ao ultramar os excedentes da metrópole, não apenas em população, mas em tudo que represente valores positivos de progresso e fortalecimento da economia nacional?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: -Este equilíbrio de forças, em que o pulmão económico de cada província respire livremente o ar que Deus lhe traz, laborando até ao fim os seus produtos, em vez de viver do oxigénio que de fora apressadamente lhe tragam, sempre a levantar-se e a cair, não provocará necessariamente o robustecimento da unidade nacional, porque todas as partes se sentem solidárias com o todo e nenhuma supeditada a outra, igualmente responsáveis e interdependentes? Não será muito mais rentável a transformação local das matérias-primas?
Já nesta Câmara tive a honra de chamar a atenção para o escândalo da cultura do açúcar em Moçambique. Temos lá os terrenos mais indicados para ele. Porque importamos, então, milhares de contos, até de países inimigos, como Cuba? O esforço que um grupo de abnegados pioneiros, com sede na cidade da Beira, anda a empreender, numa empresa admirável, sem precedentes entre nós, que bem pode constituir o caminho de redenção para o colono metropolitano, espero continue a merecer a mais desvelada compreensão dos Poderes Públicos, de molde a produzir todos os magníficos frutos que dela esperamos com toda a legitimidade.
Mas em relação ao tabaco o panorama apresenta-se idêntico. Quando devíamos exportar cigarros dos mais finos (e a indústria moçambicana já deu sobejas provas de poder ombrear ao menos com a mais exigente do continente), ainda oferecemos aos estrangeiros avultadas divisas para que nos traga o que nós somos perfeitamente capazes de produzir e vender.
O que se passa com a copra e a castanha de caju (e a lista poderia ampliar-se bastante ainda) é também expressivo da nossa depressão financeira. A primeira não se aproveita convenientemente, pois uma parte do fruto é rejeitada por falta de apetrechamento industrial. Quanto a esta, como se compreende que tradicionalmente oferecêssemos à índia quantias apreciáveis por carência de mão-de-obra para o descasque? Esperemos que o recurso a processos mecânicos, que se julgavam impossíveis, mas que, afinal, se encontram em vias de normalização, venha travar esta sangueira.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - As reservas mineiras de Moçambique são imensas e incalculáveis. Mal prospectadas ainda, não restam dúvidas acerca da sua opulência e variedade Se Angola, que fica mais distante dos mercados japoneses, encontra já nas suas minas uma contribuição poderosa para a normalização da balança comercial, onde poderá ir Moçambique no dia em que se olhar este sector em profundidade? A própria vizinhança com os países do interior africano, que ali têm a única possibilidade de acesso ao mar, através dos nossos portos e caminhos de ferro, constitui outro elemento de valia no enquadramento futuro da economia provincial
Para não me alongar em excesso, passo de lado sobre outros tópicos aliciantes, como a pecuária, a pesca e seus derivados, os recursos hídricos e florestais, o turismo, a que, aliás, já o ano passado me referi.
Não quero, porém, deixar sem uma alusão mais detida à primeira de todas as reservas de Moçambique - a sua juventude.
Através dela se esboça já o futuro, garantindo a sobrevivência e o engrandecimento ininterrupto da Pátria. Perdê-la é comprometer a própria independência nacional.

O Sr Brilhante de Paiva: - Muito bem!

O Orador: - Se a salvamos, todas as grandes esperanças que depositamos se hão-de encarnar, um dia, nela, além de nós.

O Sr. Brilhante de Paiva:- Muito bem!

O Orador: - Mas, absorvidos pelas nossas crises económicas, nem sempre lhe temos consagrado o desvelo que requer e merece Ora, a sua formação integral constitui o primeiro de todos os problemas políticos de qualquer povo - mais ainda que a finança, que o exército, que a cultura, que a ciência abstracta.
Os países comunistas mostram-se, neste ponto, bem lúcidos. Multiplicam as escolas elementares, médias e superiores, dotam-nas com os laboratórios, bibliotecas e instrumentos de trabalho mais modernos e caros, promovem a instrução em todas as camadas da população, embora viciando-a na sua pureza de realização completa da pessoa humana A educação da juventude absorve elevadas percentagens dos seus orçamentos, a ponto de poucos países ocidentais poderem competir com a Rússia no número de escolas superiores e de estudantes
Reportando-nos à África, as nossas províncias ocupam uma posição do maior relevo no campo da educação,