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894 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 49

problemas sem ter reflectido nas incidências do loisir sobres eles.»
O turismo será, porventura, um dos capítulos mais vastos desta teoria, pelas incidências diversas que comporta, até pé a tendência inevitável, que possui, a generalizar-se cada vez mais a grandes massas humanas.
Parece-me não errar, com efeito, se disser que o turismo social pode não convir de momento a certos países e regiões, cuja estrutura só torna possível e vantajoso o turismo do qualidade, mas, quer o queiramos, quer não, ele acabará, no futuro, por desenvolver-se largamente, e para isso temos que preparar-nos. Também isso foi previsto pelos dois últimos papas.
João XXIII afirmou que o homem de hoje considera o turismo como um valor e reivindica-o como um direito.
E são de Paulo VI estas palavras:

O turismo social no plano internacional, além de favorecer o mútuo conhecimento entre os homens, seus países e suas civilizações, ajuda a compreender a alma e os povos; põe-nos em contacto com obras de arte, por meio das quais os povos se exprimem e favorecem o diálogo entre os homens. [Oss. Rom., 2 de Dezembro de 1965.]
Avizinhando os povos e as classes sociais, o turismo revela a rica diversidade desta moderna família que constitui o conjunto dos homens e é, por isso, um factor insubstituível de cultura e de humanismo, instrumento privilegiado de educação [Oss. Rom., 3 de Dezembro de 1965], sobretudo quando no desejo de conhecer se junte o de compreender e de amar. [Ibidem.] O turismo deve favorecer uma verdadeira educação da caridade. O turista, embora em férias, muitas vezes não põe em férias - por assim dizer - o seu egoísmo e o seu habitual individualismo. Precisa de uma vontade positiva para sair do seu isolamento, a fim de que a sua viagem resulte útil. Eis a maneira cristã de viajar que é o verdadeiro turismo social.

Alonguei-ma um pouco, Sr. Presidente, sobre estes aspectos supra-industriais do turismo, por duas razões.
Em primeiro lugar, porque me parece necessário que o País se consciencialize da transcendência do fenómeno quando se avizinha 1967 - o Ano Internacional de Turismo - e nele se celebrará o cinquentenário das aparições de Fátima.
Em segundo lugar, porque, tratando-se, como disse, de um fenómeno contemporâneo, irreversível, definitivo e universal, a indústria estruturada sobre ele não tem menor solidez, nem menos estabilidade, que qualquer outra indústria do nosso século. Apenas poderá o movimento turístico modificar as suas tendências, com o andar dos tempos, e essa indústria ter que adaptar-se a novas circunstâncias. Parece-nos que será sob o signo do sun, sand and sea, das praias e das ilhas de mar calmo e suave temperatura, que, por muito tempo, singrará o turismo. Admita-se que um dia outra tendência venha a dominar: o turismo terá de adaptar-se então à montanha ou às paisagens do interior, sem que as multidões deixem de viajar.
Cada país terá de defender o seu produto turístico, de adaptar-se ao gosto e à moda, defender-se da concorrência, cuidar da conquista de mercados, procurar equilibrar as possibilidades da oferta e da procura, como em qualquer outra indústria.
Todas as regiões do País, metrópole, ilhas e ultramar, devem preparar-se para o turismo, valorizando a sua matéria-prima, que é, neste caso, a paisagem, os monumentos, o folclore, etc., e é através do desenvolvimento regional e das redes de estradas e aeródromos que esse turismo, por sua vez, se pode desenvolver.
A indústria, de turismo obriga, todavia, e o Governo disso se apercebeu a tempo, à estruturação de grandes zonas de turismo de longa estada - conjunto industrial cujo clima, paisagem, capacidade hoteleira, divertimentos, etc., com a correspondente infra-estrutura económica, possam movimentar um número grande de turistas.
Essas zonas de turismo, de permanência ou de longa estada, são base essencial e ponto de partida donde irradie o movimento turístico por todo o resto do território, num turismo de passagem ou de pequena estada, de grande importância económica, se atingir volumes suficientes de turistas, renovando-se frequentemente.
Sr. Presidente: O II Congresso Nacional de Turismo, realizado há dois meses em Moçambique e integrado nas comemorações do 40.º aniversário da Revolução Nacional, representou uma iniciativa interessantíssima, coroada de êxito, pela diversidade dos assuntos tratados, pela forma como o foram e por constituir mais uma afirmação da pluricontinentalidade de Portugal.
Pude verificar que no notável discurso com que encerrou o Congresso, o Sr. Dr. Paulo Rodrigues, Subsecretário de Estado da Presidência, sintetizou admiràvelmente a obra feita desde a «arrancada» de 1964, os resultados obtidos, as perspectivas e normas de actuação em relação ao presente e ao futuro, as bases da nossa política de turismo, e focou as características que venho de referir:

As implicações do turismo na ordem moral, social e política - disse o ilustre homem de Estado - fazem dele, também, um problema de governo. Na defesa do bem comum cumpre assegurar, com intransigência e firmeza, que o surto turístico não constitua factor de desmoralização da gente e da terra portuguesas, antes, sirva para espelhar a verdadeira imagem deste povo perante um mundo sujeito à acção corrosiva de todas as mentiras que lhe forjam os interesses apostados na guerra psicológica, dirigida do exterior contra a liberdade e a integridade da Nação Portuguesa.

Teve o Congresso, Sr. Presidente, como um dos principais objectivos, os problemas suscitados pelas características pluricontinentais de Portugal e a necessidade de planificar e coordenar o nosso turismo adentro deste condicionalismo.
Parece-me que, como na metrópole, as províncias ultramarinas necessitam de definir, pouco a pouco, estruturar e apetrechar zonas de turismo de longa estada, de planalto e de praia, atendendo às condições climáticas, estações do ano, possibilidades no domínio do folclore, da fauna e da flora, etc., zonas estas donde irradie o turismo de passagem e de pequena estada para as outras regiões da província. E óbvio que a coordenação à escala nacional das grandes zonas turísticas do País pluricontinental e dos seus pontos terminais de irradiação daria lugar a gigantescas possibilidades, pelo volume do conjunto assim constituído, a que corresponderia certa capacidade de orientar grandes correntes turísticas, com apoio nas grandes carreiras aéreas nacionais, como nas de serviço interno de cada província, nas nossas agências de viagens e na nossa organização hoteleira. A Corporação de Transportes e Turismo teria papel específico a desempenhar neste sector.