11 DE JANEIRO DE 1967 953
teontem andámos para chegar ate Lisboa são nove a dez horas a rodar por uma estrada que parece não mais ter fim é quase um dia inteiro de comboio, se o mesmo andar a horas, porque, de contrário, vai paia dois!
Deixámos Bragança anteontem e, pelo caminho, e depois já aqui nos fomos compreendendo as razões que, em tempos assistiram a todos quantos um dia gritaram, do alto das suas intermináveis serranias. "Para cá do Marão governam os que cá estão".
Não atitude de rebeldia como já alguém frisou, incompreensível, aliás em gente boa como aquela, antes continuação triste de abandono a que pensaram e durante muito tempo com razão terem-nos votado a natureza e os homens.
Um dia, porém tal abandono cessou, a suas terras chega a estrada depois chega o comboio e mais tarde haverá de chegai a rádio a televisão, etc. Bragança ficava agora menos só, podia descer no Terreno do Paço e ouvia e via ainda que com deficiências, o que por aqui por esta Lisboa e pelo resto do País e pelo Mundo fora também se ia passando. Deixaria de ter razão o prolóquio "Para cá do Marão " porque a Bragança chegara finalmente embora, a civilização, a luz -luz e civilização que haveriam de se intensificar e que nos últimos 40 anos iluminaram montes e vales cidades e aldeias. Dai o se ouvir hoje uma só voz - a única capaz de sair de um povo agradecido - a de admiração e respeito por quem tanto nos deu.
Mas, Sr. Presidente, o caminho andado despertou sempre o desejo de mais além e Bragança, vendo-se menos só continua no entanto, a sentir-se pouco acompanhada. Com efeito é necessário um dia para chegar até Lisboa, e o que é mais aflitivo ainda é que é igualmente necessário por vezes perder quase um dia, dentro do mesmo distrito, para ir de uma aldeia a outra aldeia, agora que se dá uma volta à Terra nuns muito escassos minutos! Bragança está menos só, muito menos só sem dúvida, mas continua ar (...) da só!
De quando em quando os jornais têm destas graças nos primeiros dias de Março do ano findo eles espalharam a notícia de que o distrito de Bragança ia ficar ligado à capital por carreira aérea, com escala por Viseu e Coimbra. Rejubilaram de alegria, como é bom de ver todos os habitantes do distrito - Viseu, Coimbra e Lisboa ficavam à mão ali a dois passos. Era a companhia que se deseja, era a possibilidade do abraço que avidamente se aguarda.
E os olhos fugiam para aquele aerodromo que em Bragança começa a construir-se - prova real da veracidade de quanto se afirmava. E já havia quem visse e ouvisse cruzando o espaço os aviões da sonhada carreira!
Breve porém tal sonho se desfez, os trabalhos rápido pararam e Lisboa cá continuou até quando tão longe no tempo?
Lisboa continuava longe e as aldeias do distrito pouco mais perto estavam umas das outras, algumas não têm estrada e muitas estradas tornam-se agora, durante o
Longo e sempre impiedoso Inverno, verdadeiros lamaçais onde os automóveis não andam.
Por outro lado, faltam as carreiras de camionagem. Há empresas a pretenderem estabelecer, ao que cremos, uma que outra carreira não haja, faltam estradas que lhes permitam o mantê-las, e depois faltam autorizações para a exploração. De contrário, se não continuamos sós, pelo menos não estamos muito acompanhados.
Outro dia chegava-nos à escola que temos a honra de dirigir, uma pobre mulher que ia saber do aproveitamento da sua filha. Cedo ainda, dissemo-lhes que voltasse noutra altura que indicámos. Foi embora, e nós com ela, pensando
nos 16 km que precisavam de andar a pé para apanhar a carreira que a havia de levar novamente a Bragança!
Por outro lado, e com não menos acuidade, Bragança precisa de camionetas de carga que completem assim, este tipo de comunicações, que estão deveras longe de satisfazer as necessidades locais. Refiro-me agora e concretamente a Vimioso, onde não há incompreensivelmente, um único veículo pesado de aluguer.
A notícia de mais 968 licenças, sendo 566 para veículos ligeiros e 412 para veículos pesados fornecida pelo S N I aos órgãos de informação veio trazer, em 29 de Novembro de 1966, um raio de esperança, porquanto como sede do concelho, Vimioso passou a contar, pelo menos, com uma licença de pesados. Infelizmente, porém parece tal não Ter sucedido, pelo menos até à data, e aquela vila continua sem ver satisfeito o seu pedido de há treze anos - que tem levado sempre que de tal necessite, a recorrer a Bragança ou Miranda distantes boas dezenas de quilómetros. Por que preço não vai ficar um frete nestas condições muitas vezes para uma distância de dois ou três quilómetros, se o proprietário do veículo tem que andar quase uma centena? Quando é que Vimioso verá satisfeitos pedidos que há treze anos vem formulando?
Do caminho de ferro, Sr. Presidente, eu não queria falar. V. Exa. Conhece as necessidades e dificuldades da linha do Tua, e da do Douro também desde os fraguedos a ameaçarem ruir até ao balastro nem sempre tão sólido quanto seria para desejar. Não vale pois a pena apontá-las. Permita-me apenas que, dentro deste capítulo, eu lembre a necessidade daquele desvio da linha em Bragança - desvio que o destino fadou para nunca mais se concluir! Quando poderá a cidade começar a seguir livremente os rumos que os urbanistas lhe traçaram e que a não mudança impede? Para que servirá um decreto-lei de 3 de Junho de 1958 que concede dois anos para a conclusão da obra?! E, depois permita-me que lembre também as vantagens que o distrito sente naquela ligação a Vila Franca das Naves, ligação a que um ilustre colega, na sessão finda, já aludiu.
Então quando pudermos voar até Lisboa, quando pudermos chegar a Vila Franca das Naves e quando, dentro do mesmo distrito, dispusermos das facilidades apontadas - mais algumas estradas, melhoria noutras, em muitas, e mais uma que outra carreira -, então sim, então Bragança sentir-se-á menos só.
Menos só, mas ainda não inteiramente acompanhada, visto que nem sempre o homem precisa de sair de sua casa para estar junto dos demais, basta ouvi-los, contenta-se com vê-los, como sempre e por toda a parte - imagina-o quem não pode experimentá-lo. O pior será, para aqueles que não podem fazer nem uma coisa nem outra.
Não sabemos se o Sul do distrito ouve em condições satisfatórias a Emissora Nacional. Em Bragança tal não acontece, são interferências e ruídos que mais não têm fim, durante o dia inteiro, por melhor que o aparelho seja.
Estudou-se, em tempos, assim cremos, a possibilidade da instalação de um emissor regional ali. Depois não sabemos que mais se passou. O projecto arquivou-se certamente, e as gentes de Bragança lá têm continuado à espera do seu emissor regional - que-lhes diga claramente o que vai pelo País -, coisa que parece acontecerá até meados de 67, segundo nos informam. Não