954 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 53
sirá porém, caso para duvidar mais uma vez? Pelo sim, pelo não, a gente lá vai pagando as suas taxas - à espera de ouvir mais que os citados e incómodos ruídos.
Continuamos, assim, sós, porque, neste capítulo, a Radiotelevisão Portuguesa não foi ajudar muito. Ficou de pé a boa vontade, talvez mesmo o essencial: o retransmissor de Bornes. Falta agora que se aumente a sua potência ou se assista convenientemente, não sabemos, de modo n, podermos ver em melhores Condições os programas que interessam. É que, Sr. Presidente e Srs. Deputados, é precisamente quando os programas interessam que as avarias surgem.
Não tomámos nota dos vários dias em que, desde a sessão finda, estivemos sem televisão. Referimos apenas dois programas - o do dia 13 de Maio e o da inauguração da ponte sobre o Tejo (6 de Agosto). A poucos fora dado o prazer de chegar até Fátima ou de vir até Lisboa. Os demais preparavam-se, porém, para assistir por meio da TV às comemorações de um e outro acontecimento. Pois parece de propósito, embora acreditemos em que tal não sucede: é sempre nestes dias de especial relevância que a televisão avaria, para depois continuar assim por horas e horas, quando não por dias e dias.
O telefone, esse, subiu, realmente, à- serra, e tem trepado a todos ou quase todos os lugarejos. Bragança deseja, porém, e vivamente, os automáticos que lhe descongestionem a superlotação das linhas em que se encontra e lhe tragam a rapidez nas ligações, que, tal como está, nem sempre tem. Então, com o emissor regional da Emissora Nacional, com a RTP a funcionar quando os programas interessam e com telefones automáticos, Bragança ficará menos só.
Menos só, mas ... ainda não inteiramente acompanhada. Em todo o distrito há apenas uma biblioteca pública, e numa das terras com menos população - Vila Flor.. A capital, essa, continua sem ter que dar a ler a milhares de almas. Tem os estudantes as suas bibliotecas privadas do Liceu e da Escola Técnica; nada possuem os outros que não sejam os que a Fundação Calouste Gulbenkian, numa campanha altamente louvável, lhos vai oferecendo dia a dia.
Em Dezembro do ano findo falava o Diário da Manhã na instalação, mais ou menos breve, do Arquivo Distrital numa das salas do Castelo, e no consequente aparecimento de uma sala de leitura no lugar onde presentemente aquele da encontra instalado: a biblioteca, erudita, do Museu do Abade de Baçal. Feliz mudança, se ela se verificasse: ganhava a cidade uma sala magnífica de leitura, ampla o central; de históricas e poéticas, tornavam-se também práticas e úteis, as salas do velho castelo.
Depois, só nos faltavam livros, muitos livros. Bragança não tem uma biblioteca pública onde se possa ir buscar o livro que se pretende, e não vemos possibilidades do, dentro em breve, a conseguir. Têm de perder o gosto pela leitura aqueles que algum dia o adquiriram; não o poderão jamais tomar os que se iniciam nas letras. Penaliza-nos, deveras, o facto: quereríamos continuar a ver muito futebol e muito atletismo e muitos outros desportos, mas quereríamos ver também um mais arreigado amor pela leitura séria e. construtiva. Toda a capital do distrito deveria ter a sua biblioteca, para onde, obrigatoriamente, fosse enviado um exemplar de todas as publicações do País. Assim, tal como as coisas estão, é que poucos podem criar o gosto pela leitura, e tem de- o perder muitos dos que algum dia o adquiriram, porquanto câmaras de magros recursos como a de Bragança do modo algum podem, sozinhas, instalar u manter uma biblioteca que seja digna do nome - e só destas reza a história.
Bragança precisava, efectivamente, da sua biblioteca, que rasgasse novos horizontes às suas gentes. Viver c elevarmo-nos acima das muralhas em que as nossas montanhas nos colocaram; viver é abraçar o homem das Beiras e o Timor; viver é conhecer o homem das antas e o do mais alto -arranha céus nova-iorquino; viver é conhecer o homem em toda a sua dimensão - e esse conhecimento sem o livro não é possível.
Sr. Presidente: Bragança precisa de muita coisa, realmente: precisa do aeródromo; precisa de estradas e novas carreiras de camionagem; precisa do seu emissor regional; precisa da sua biblioteca pública, e tudo fica aguardando, calma e serena, na. certeza de que tudo terá.
Por toda a parte sã começaram, de há muito, a cruzar estradas; por toda a parte se levantaram já óptimos edifícios públicos; em toda a parte retiniu o telefone e a muito lado chegou a água potável o a luz. No meio de cada aldeia ergue-se, risonho e branco, o edifício da escola. Que o pequeno mundo de juventude e alegria que alberga não chegue a conhecer o prolóquio que nós ainda conhecemos e que atrás citámos.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.
O Sr. Cazal-Ribeiro: - Sr. Presidente. Srs. Deputados: A repressão dos abusos praticados por automobilistas inconscientes ou inaptos; a regulamentação severa da circulação - de toda a circulação, note-se bem -, de harmonia com o aumento incessante do tráfego urbano e rodoviário; a eventual limitação de velocidade - generalizada proporcionalmente aos máximos estabelecidos para qualquer veículo automóvel; a tendência para a supressão do estacionamento» ou a sua adequada ordenação nos locais onde, pelas suas características, se imponham medidas especiais; enfim, tudo quanto se faça para moralizar (não encontro termo mais adequado) o tráfego rodoviário ou urbano não implica que se olhe para o automobilista como para um indesejável, uma espécie de leproso, a quem se espera ver numa gafaria, longe de tudo afastado do convívio de todos ...
Hoje em dia, e de uma maneira geral, o automobilista é um indivíduo que usa o sen automóvel com a mesma indispensabilidade que o lavrador o arado, o cirurgião o bisturi, ou o jurista o código de que carece para cumprir a sua missão na vida e na sociedade de que faz parte. Como tal tem que ser olhado, embora- fazendo-o cumprir regras e obedecer a legislação que não lho permita, de facto, indesejável, muitas vezes mais por abandono e falta do fiscalização do que por outro motivo pior!
Por toda a parte, nuns países mais do que noutros, claro está, se tomam medidas tendentes a evitar, ou diminuir, os efeitos de um mal inevitável, porquanto é impossível aumentar a capacidade de circulação nas estradas e nas artérias urbanas com a mesma rapidez e facilidade com que aumentam os parques automóveis, resultado da- melhoria constante do nível de vida das populações, e, até da imposição, repito, das exigências da vida moderna. A acrescer a- isto, há ainda que considerar a concorrência, das marcas dos automóveis existentes no mercado, o que luva os seus representantes a tornarem possível a orçamentos muitas vezes mais limitados a aquisição de um curro que para além da já referida o indiscutível utilidade - indispensabilidade, por vezes - se torna num luxo, ou, melhor, numa comodidade acessível e, portanto, generalizada. Daí o aumento vertiginoso