11 DE JANEIRO DE 1967 959
gem a todos quantos em Portugal têm desenvolvido os maiores esforços e sacrifícios no sentido da valorização da nossa juventude, sem nunca esquecerem que ela representa, antes de tudo, o melhor capital de que a Pátria pode dispor no futuro.
Por outro lado, também não devemos esquecer, pois seria injusto, a preocupação sempre crescente do Estado Português com as condições de vida, com o bem-estar, com o desenvolvimento físico, com o ambiente de estudo da -juventude, embora nem sempre com aquela intensidade que seria para desejar, mergulhado numa -letargia para a qual não se encontra justificação aceitável.
Os grandes princípios, as grandes certezas, também não deixaram de ser superiormente definidos, e o certo é que vêm sendo invocados através dos tempos por muitos dos que devotadamente vivem as inquietações da juventude, que é sã e generosa e aprecia quem bem a oriente. E, nessa linha de pensamento, ainda recentemente o ilustre titular da pasta da Educação Nacional produziu as palavras que não resisto à tentação de transcrever:
Pomos acima de qualquer controvérsia Deus, como primeiro princípio de que deriva tudo o mais. Consideramos intangível a Pátria, como expressão intemporal e unitária do todo nacional, na pluralidade dos territórios por que se reparte geograficamente. Lutamos pela pureza da família, em cujo intimismo, e só nele, pode o ser humano encontrar a verdadeira felicidade e a melhor escola de virtudes. Respeitamos e queremos sempre dignificada a autoridade legítima, em equilibrada conciliação com a liberdade necessária. Ardemos na ânsia de uma cada vez maior justiça social, que proporcione a todos aquilo a que têm jus, na relatividade dos seus méritos. Comungamos num princípio de fraterna compreensão e solidariedade entre os povos, alheios como somos a nacionalismos agressivos, que o nosso Governo sempre' declaradamente condenou.
Numa palavra, não queremos senão ver os jovens educados no culto e prática das virtudes lusitanas, que fizeram a grandeza dos nossos maiores e que brotam, como linfa pura e cristalina, dessa fonte perene e sempre viva que é o cristianismo.
Parece, por consequência, que, uma vez envolvidos na magnitude do assunto em debate, não ternos de apontar carências de ideário, mas apenas chamar a atenção do Governo, e porque não a atenção das famílias e a da própria Igreja, para aspectos que, não sendo novos, nos aparecem sempre actuais e que importa não menosprezar para que se não corra o risco fácil da invasão da Casa Lusitana — que as correntes turísticas, diga-se de passagem, favorecem — por essas ondas de materialismo e de corrupção dimanados de um mundo que continua enfermo e desorientado, com as repercussões mais prejudiciais nas actividades individual, familiar, social e política, conducentes à negação dos melhores valores espirituais e tradicionais que fizeram de nós um povo grande e civilizador e que é necessário não consentir que se percam.
Alguém escreveu há longos anos, e porque as circunstâncias do momento com certeza o justificavam, que toda a arquitectura da civilização ocidental havia sido sacudida até aos alicerces. Esta afirmação, longe de ter perdido o sentido da oportunidade, pode ser hoje referida talvez com motivos mais fortes e jamais igualados.
E se nem tudo está ainda em ruínas, apesar dos desmoronamentos a que temos assistido, isso se deve em grande parte à pertinaz e esclarecida política que temos desenvolvido, à verdade da nossa política ultramarina
multissecular, «no sentido da vocação histórica de Portugal com os exemplos de que é fecunda a história, exemplos de patriotismo, desinteresse, abnegação, valentia, sentimento da dignidade própria, respeito absoluto pela alheia», servindo-me de palavras do Sr. Presidente do Conselho.
Mas, porque integrados num mundo que prima pela incerteza, insegurança e ansiedade, que a nós, adultos, nos traz em profunda inquietação, não nos pode surpreender uma certa excitação em que por vezes mergulham os mais jovens, como que a denunciar uma acção destruidora dessa serenidade de espírito que, por si só, constitui já uma poderosa defesa.
A vida humana na terra, como disse S. S. Pio XII «tem os seus altos e os seus abismos, ascensões e declínios, move-se entre virtudes e vícios, entre conflitos, sobressaltos e tréguas, vitórias e derrotas», mas porque assim é, mais se justifica uma cuidada formação moral, intelectual e política da juventude, mais interessa ouvi-la e acolhê-la, mais importa saber aconselhá-la e orientá-la nas suas mais justificadas aspirações, aproveitando a sua generosidade de forma a que possamos construir um futuro verdadeiramente digno das nossas tradições, no culto dos mais altos ideais. Para isso, ó fundamental educar, mas educar é uma arte que não está, se me é permitido repetir palavras já por mim pronunciadas, ao alcance de qualquer, e que compete à família e à Igreja, à escola e ao Estado, se possível numa colaboração mais próxima, confundidos num pensamento comum que crie um espírito e uma alma nacionais.
E para que sintamos como o problema da educação desperta entusiasmo, embora complexo pelas múltiplas facetas que encerra, e que é da mais transcendente importância, bastará referir que dele se ocuparam algumas encíclicas papais, a ele se têm dedicado muitos estudiosos, e no nosso país alguns trabalhos de real merecimento foram igualmente publicados. Seria por demais supérfluo da minha parte, até porque o autor do aviso prévio a esses aspectos se referiu pormenorizadamente, voltar a repetir os motivos que fundamentam os direitos da família, da Igreja, da escola e do Estado em matéria de educação. Apenas conviria analisar até que ponto qualquer dessas instituições tem correspondido à missão que por direito lhes está confiada e também em que medida a entreajuda que deve existir se terá na realidade verificado. Neste ponto, também o autor do aviso prévio produziu pertinentes considerações, e de alguns aspectos me ocupei há cerca de três anos no aviso prévio que então tive o prazer de apresentar.
Foi-me dado nessa altura o ensejo de pôr em evidência o resultado de uma observação que, hoje mais do que nunca, se encontra radicada no meu espírito e que se refere à tendência que muitos pais têm de alijar a responsabilidade de educação dos filhos exclusivamente para a escola, como sé esta pudesse porventura substituir totalmente os pais nas suas funções de educadores dos próprios filhos. Mas para que aqueles cumpram, do que necessitamos antes de mais é de uma instituição familiar à altura da elevada missão que lhe está confiada, de modo que os pais se sintam na verdade compenetrados e Intimamente convencidos da grandeza e da transcendência dessa missão, altamente honrosa, que lhes cabe na educação dos filhos, missão tão delicada e importante que, nesse aspecto, bem se pode dizer que a Pátria neles põe as suas maiores esperanças.
E à escola, à Igreja e ao Estado que iremos pedir?
Certamente tudo aquilo que transcende o âmbito familiar e que lhe é em absoluto complementar.