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11 DE JANEIRO DE 1967 963

5 por cento, de alunos punidos. E isto sem contar que a quase totalidade dessas penas não saiu do teor paternal preventivo.
Creio ocioso deduzir destes números quanto eles representam na matéria vertente, isto ó, a da crise da juventude.
Finalmente, julgo necessário aludir ao comportamento da nossa juventude nos campos de combate do ultramar. Todos os chefes militares são unânimes em reconhecer e louvar o alto moral da tropa, o seu espírito de sacrifício, a sua bravura, enfim, o seu heroísmo. Toda a Nação tem acompanhado, emocionada e orgulhosa, o comportamento generoso da mocidade combatente. O melhor sinal da sua forte coesão moral está em que os casos de deserção são praticamente irrelevantes. Ora este comportamento não resulta apenas da noção do dever e do instinto de defesa da comunidade; resulta, especialmente, do seu alto nível de moralidade, traduzido na posse de elevadas virtudes de abnegação, rasgo, disciplina e ardor patriótico; resulta, em suma, do facto de ela não ter perdido o sentido heróico da existência, que é sempre o que salva as nações nas suas tragédias, e a sociedade nos seus colapsos.
Por conseguinte, dos aspectos sucintamente apreciados, e que resumo (aprimoramento de costumes, disciplina social, baixíssimo índice de criminalidade e nobilíssimo comportamento na defesa da Pátria), sou forçado a concluir que não há crise da juventude portuguesa.
Porém, como é bem de ver, isto não quer dizer que não haja problemas. Há-os, como já aqui tem sido demonstrado. E para que eles não se agravem, desejaria referir (e é esta a segunda parte da minha intervenção) alguns factores cuja incidência pode vir a ensombrar os dias de amanhã e suscitar uma autêntica crise juvenil. Esses factores são: a alteração do estilo de vida da família, as migrações para as cidades e para o estrangeiro, o turismo, a deseristianização da sociedade, a influência do livro, imprensa e meios áudio-visuais e o ambiente dos estabelecimentos de ensino superlotados.
Quanto ião primeiro factor, isto é, a alteração do estilo de vida da família, sabemos que a mulher tende a exercer os mesmos misteres e ocupações que os homens e a viver, por isso, grande parte do dia útil fora de casa. Esta e outras realidades já levaram os autores do projecto do Código Civil a reconhecer «o acentuado declínio de concepção patriarcal da sociedade familiar, que força o legislador a (modificar a posição da mulher nas relações pessoais e patrimoniais com o marido, bem como a situação dos filhos sujeitos ao poder paternal ou à acção tutelar». De facto, o papel da mulher dos nossos dias torna-se cada vez mais amplo, porque ela alarga a sua concorrência na cultura, no ofício, no exercício dos direitos civis e até nos hábitos e no traje. Paira os rapazes e raparigas, os deveres a cumprir e as virtudes a praticar identificam-se dia a dia; a tal ponto que ameaça desaparecer a distinção clássica entre virtudes masculinas e femininas. Eu não digo que isto seja um bem. Mas é um fenómeno que se desenvolve de encontro ao nosso idealismo, e não 'há maneira de o cancelar; resta apenas orientá-lo. No capítulo da educação, esta nova feição de vida da mulher, que alguns chamam «emancipação feminina», tem repercussões muito sérias sobre as almas juvenis, pois a sua ausência do lar, e consequente falta de amparo e carinho, gerará nelas uma concepção do mundo ainda mais pavorosamente desumanizada. Concomitantemente, o cansaço provocado pelo ritmo trepidante da vida moderna impele os esposos a buscarem uma compensação passando os fins de semana longe do meio onde trabalham, do lar onde apenas vão comer
e dormir c também longe dos filhos. Deixa, assim, o lar de ser aquele presídio onde se refugiavam das perseguições e incompreensão da sociedade e aquela lareira onde todos se aqueciam e viviam, em comum solidariedade, as emoções dos êxitos e os travos das derrotas. Numa palavra: relaxam-se os vínculos familiares, que só o convívio diuturno pode manter e fortalecer, e sobre os filhos deixa de pairar a asa protectora, a um tempo austera e amorosa, da autoridade do pai e do afecto materno. Agrava-se, por consequência, o vácuo moral das crianças e adolescentes, sem proveito de qualquer espécie para o seu futuro de adultos.
Passemos ao segundo fenómeno: as migrações para as cidades e para o estrangeiro. Os entendidos dizem que o afluxo de gentes dos meios rurais para os citadinos é uma condição necessária do progresso económico, porquanto consideram a redução de percentagens da população ocupada ma agricultura um sinal da industrialização em marcha. Deve ser assim. Mas os educadores sentem que essa valorização económica exige um custo moral muito elevado e acham que, em parte, a corrente poderia ser estancada, recorrendo-se à melhoria das condições de vida regional. O certo é que o choque brutal da transição do meio ambiente sofrido pelos novos, atirados para a clausura urbana, agrava o número dos inadaptados. A perda de contacto com a natureza reflecte-se na sua saúde moral e física. A família perde-se num aglomerado incaracterístico, e os novos habitadores de um bairro ou zona citadina, que não lhes fala a linguagem da vizinhança e solidariedade, vêem-se condenados a um conjunto de complexos de asfixia e insegurança social. A ruptura de hábitos destas levas humanas, lançadas na massa anónima e muitas vezes hostil de milhares de indivíduos, traz-lhe a consciência desencorajante típica dos deslocados e gera nos novos o sofrimento da frustração. Para mais, está provado que o amontoamento urbano favorece o acerbamento das perturbações da adolescência e que o número de delinquentes é mais elevado nestas condições.
Mas piores do que estas migrações internas são as que tomam o rumo do estrangeiro. Longe da Pátria, os jovens emigrantes (e só em 1964 emigraram 21 958 indivíduos com menos de 24 anos, e em 1965, 33 606) correm, além dos riscos atrás apontadas, o do desenraizamento e descaracterização da personalidade. Sujeitos a influências ideológicas nem sempre sérias, sem pontos de apoio moral e intelectual, perdem, e isto é o mais grave, a sua consciência cívica, o seu amor à terra de origem. E, na hipótese de regresso, trazem na bagagem o desprezo pelas formas do nosso viver, se não o impulso de revindicta pelo abandono a que se julgam votados.
Terceiro factor: o turismo. Visto como propulsor do progresso económico, não há dúvida de que merece todos os desvelos dos governos. Representa, digamos, uma forma de expor tacão de produtos, em que o cliente se desloca para adquirir, paga a coisa e o frete e remunera os serviços, sem que o fornecedor tenha que sair do estabelecimento. Mas, analisado sob o aspecto educacional, nem tudo nele são rosas e aromas. Pode, e isso tem sucedido, contribuir para que a juventude, a idade mais datada da capacidade de assimilação, se deixe cativar de certas praxes de vida, não digo libertinas, mas quase, e seduzir por hábitos que contrariam a nossa habitual discrição pública.
Quarto factor: a descristianização da sociedade. Apesar das grandes manifestações colectivas de fé, há muitos espíritos preocupados com o futuro da espiritualidade cristã. E isto é particularmente notado após a celebração do Concílio Vaticano II, não pelas decisões deste memora-