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964 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 53

vel sínodo da Igreja, mas pela interpretação que lhes foi dada por alguns órgãos da imprensa, e sobretudo pelos relatos deformadores que faziam das suas sessões e debates. Houve alturas em que tudo, inclusivamente os dogmas, parecia estar em discussão. Ora, esta deturpação, aliada ao chamado progressismo católico, trouxe a confusão a muitos espíritos. De facto, aceitar o «sentido da história» como se Deus e os homens não pudessem intervir na rota da vida, considerar que a salvação está apenas na extinção da fome na terra, postergando aos olhos das massas o sentido ultraterreno da nossa existência, ou, como diz o Credo, da «vida do mundo que há-de vir», admitir a tese de que as ideologias do sim e do não vão ter, por caminhos diferentes, ao mesmo ponto de concentração, dar do estado da Graça uma noção tão aberrante que se possa receber a Eucaristia após uma noite de orgia, isto e o muito mais que se tem lido e ouvido não pode deixar de desorientar e perverter. Este caos doutrinário junto ao materialismo e ao laicismo dos tempos levantou anseios e interrogações sobre o futuro de algumas sociedades cristãs. Por mim, creio que haverá nesta visão pessimismo exagerado, mas do que não restam dúvidas é de que cresce o número dos subalimentados espirituais, não tanto pela falta de instituições pastorais, mas porque as orelhas vão endurecendo perante a desorientação e a contradição de alguns que deviam ser fiéis medianeiros da Palavra. Daqui o deduzir-se que podem vir tempos em que a mocidade esteja paganizada e se torne um campo missionário de difícil penetração. Seria então o máximo da sua crise, o clímax da sua tragédia.
Em quinto lugar, a influência do livro, da imprensa e de outros meios de comunicação. E sabido o domínio que estes meios de cultura exercem e é sabido também que, muitas vezes, não respondem às necessidades de aperfeiçoamento moral da juventude; pelo contrário, exaltam o fútil, ostentam o torpe, fazem a apologia da indisciplina e ridicularizam os mais sagrados valores. Perante estes instrumentos de excitação, as técnicas de preservação tornam-se impotentes, ficando, por isso, devassado aos semeadores do cepticismo, da sexualidade e da perversão o campo da idade que é a primavera da vida. Num colóquio celebrado há pouco num estabelecimento de ensino de Lisboa foi afirmada esta realidade apavorante: entram anualmente em Portugal milhões de exemplares de livros e revistas em que os temas são o banditismo, o ódio, o sexo, os estupefacientes e a prostituição. E, se esta avalancha de corrupção vinda do estrangeiro juntarmos a escória produzida dentro do País, temos que os nossos rapazes e raparigas estão sendo mortalmente intoxicados em proveito de organizações e agentes que enriquecem fabulosamente nesta nefanda actividade. O nosso mais elementar instinto de defesa reclama também contra esta modalidade de terrorismo uma repressão implacável.
Por fim, o ambiente das escolas superlotadas. No ensino secundário (no superior nem se fala) vai-se tornando cada vez maior a distância entre professores e alunos. A comunicação entre eles, em tempos praticada como função de alto valor pedagógico, tende a esvanecer-se, à medida que o volume da massa discente aumenta. Turmas passantes de 40 alunos não permitem que o mestre individualize o seu ensino e possa acompanhar os menos dotados. As lições são explicadas para um nível médio de inteligências, e pouco ou nada aproveitam aos infelizes retardatários. Vai-se assim estabelecendo como regra o «arrange-se como puder». Ora este «arrange-se como puder» ocasiona naqueles que não podem ter explicadores consequências dramáticas, porque perdem o gosto do estudo e as possibilidades de recuperação, ficando, por isso, perdidos na estrada da vida muitos jovens de merecimento inexplorado. Por outro lado, como o professor não aufere o quantum satis para ocorrer à subsistência da família, aproveita os tempos livres para se dedicar a outras ocupações longe do estabelecimento a que está agregado. Ê bem de ver que, assim, não há vagar para se estabelecer entre professor e aluno a corrente afectiva indispensável a toda a boa acção educativa. Falta o calor das relações humanas, sem o qual a escola passa a ser um dicastério, onde não se fala mais a linguagem do coração. Se a isto se juntar um plano de estudo tão vincadamente utilitarista que as disciplinas formativas se acham projectadas para uma posição de subalternidade e o negativismo de um que outro professor, os resultados não poderão ser encorajadores.
Sr. Presidente: Nesta célere exposição das circunstâncias que poderão complicar os problemas da nossa juventude não tive a pretensão de ser sequer suficiente. Mas muito menos o seria se não acabasse por apresentar algumas soluções, embora não em relação a todas (pois o factor descristianização da sociedade sobreexcede as minhas forças, e o da superlotação dos estabelecimentos de ensino será aprofundado quando se discutir o aviso prévio sobre o ensino liceal).
No tocante ao primeiro factor, isto é, a alteração do estilo de vida da família, entendo que se deve legislar no sentido de a mulher com filhos ser obrigada a menos horas de trabalho que os homens e as outras mulheres, ainda que se haja de compensar as empresas com benefícios fiscais e outros. Sabemos que a Organização Internacional do Trabalho pretende reduzir o número de horas laborais para todos os trabalhadores. Pois, se não podemos por enquanto aderir a uma convenção desse teor, visto precisarmos de manter o ritmo do nosso desenvolvimento económico, abramos excepção, ao menos, para as mães de família. Estas disporão de mais tempo para as lides domésticas e, sobretudo, para a assistência e educação dos filhos, mister em que verdadeiramente são insubstituíveis.
Quanto aos problemas originados pelas migrações internas, um dos meios de atalhar as suas graves repercussões sobre os novos seria a construção de centros gimno-desportivos e de outros de cultura e recreio nos bairros novos que se vão formando na cintura das cidades. É imperioso que as edilidades e os seus urbanistas, sempre que incumbidos de planear novas zonas habitacionais, não, se esqueçam de contar com ginásios, piscinas e centros de cultura e recreio, porque são, em plano diferente, tão necessários como a igreja, a escola e o mercado. De resto, a educação física no nosso país, não obstante a obra imensa já realizada (imensa, digo bem, para quem partiu do inexistente), ainda não atingiu o desenvolvimento exigido pelas necessidades da população juvenil. Há muito, mesmo muito, a fazer neste aspecto, e não podemos esquecer que a educação física é, não um complemento gratuito, mas um meio indispensável de aperfeiçoamento; moral e intelectual.
Quanto aos menores emigrados para o estrangeiro, convém fazer tudo para que não se desenraízem do essencial da sua mentalidade de origem. Para isso, deveriam criar-se escolas e liceus nos meios onde a sua densidade fosse maior, assim como lares de diversão e leitura, tanto para eles como para os adultos. E não lhes deviam faltar, além da assistência religiosa e social, missões frequentes de teatro e cultura. Creio estarmos perante uma realidade merecedora de inadiáveis cuidados
Sobre o turismo, pertence à escola e à imprensa manter uma insistente campanha de defesa dos valores nacionais, apregoando as indiscutíveis excelências de algumas formas