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11 DE JANEIRO DE 1967 961

Até há pouco, cada um desses lares de rapazes, directamente dependentes do Centro Universitário, era orientado por um professor designado pelo reitor da Universidade, sistema que provou plenamente e que me parece o mais indicado, o qual mantinha íntimo contacto com os residentes e estabelecia com eles periodicamente um convívio e um diálogo dos mais acalentadores resultados práticos, pois que acabavam por impor a si mesmos uma consciente disciplina e responsabilidade, em face da merecida liberdade que lhes era concedida. E os estudantes reconheciam e acolhiam com o melhor agrado aquela utilíssima orientação que lhes era graciosamente prestada e adoptavam, por si, iniciativas das mais salutares.
Com igual interesse podia dissertar quanto às cantinas cujo alcance educativo e social se deseja pôr em evidência, pelo que é de aplaudir todo o esforço que se faça no sentido de difundir este exemplo de assistência escolar. Entretanto, para que a sua finalidade não seja traída, necessitam de conveniente dotação, de forma a que a soma de benefícios aumente progressivamente, facultando assim aos estudantes alimentação suficiente e sadia a preços modestos. Por este meio podem ainda beneficia" elementos do corpo docente, a prodigalizar uma convivência professor-aluno a todos os títulos de grande utilidade.
Na Universidade do Porto, por exemplo, funciona uma cantina, dependente do Centro Universitário, que serviu no ano lectivo de 1965-1966 aproximadamente 126 600 refeições, tendo vindo este número a aumentar de ano para ano, a preços modestos por refeição.
Além disso, funcionam três bufetes e dois snack-bars, respectivamente na sede do Centro Universitário, na Faculdade de Ciências, na Faculdade de Engenharia e nas Faculdades de Medicina e Farmácia, com apreciável frequência de professores e alunos, o que origina e estimula uma convivência, repito, da qual todos poderão recolher algum proveito, quando bem compreendida e orientada.
Não existe intrinsecamente uma crise da juventude. O que tem existido é uma injustificada indiferença no modo como se encara o seu desenvolvimento na fase mais crucial da formação da personalidade.
Que cada um, seja qual for a missão que lhe está confiada, promova um sério exame de consciência e se pergunte das responsabilidades que lhe competem na formação e orientação dos nossos jovens.
Nesta vasta seara que é a da educação da juventude não há lugar para tibiezas, indecisões ou indiferentismos.
A juventude é boa, é sã, é generosa.
Esforcemo-nos por a ajudar a resolver os seus problemas, porque, se assim fizermos, poderemos estar esperançados e confiantes em que seja o penhor seguro do futuro da Pátria!

Vozes: — Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Pinto de Meneses: — Sr. Presidente: O problema da educação é daqueles que mais preocuparam os homens, em todos os tempos. Pode dizer-se que toda a literatura tem por objecto a adequação dos espíritos a figurinos ou normas de conduta, sendo, assim, toda ela, formativa para o bem ou para o mal. Se alguma coisa, de facto, apaixona extremamente o homem, é ver o seu semelhante adoptar as formas de comportamento que julga útil ditar-lhe. E, como a idade mais modelável para esta sujeição da vontade e consequente aceitação dos valores que os adultos estimam é a juventude, resulta daí que todos os políticos, pensadores e pedagogos se esforçaram v esforçam por chamá-la à execução de procedimentos por eles idealizados ou experimentados como melhores. A este ânimo de formar almas semelhantes à sua (no seguimento ou imitação do acto com que Deus fez o homem à sua imagem e semelhança) junta-se a necessidade social de tornar os mais novos aptos para a vida da comunidade. Deduz-se, pois, daqui que a educação é um dever indeclinável de todos, sem excepção. Realmente, se há campo de actividade em que ninguém pode escusar-se de servir como atleta, é este da formação da juventude, porque cada um de nós, na escola, na oficina, no escritório ou na rua, joga (permita-se-me a expressão), perante os olhos da multidão exigente dos moços, as responsabilidades do seu cargo, categoria, estado e condição.
Por isso, aqui estou, Sr. Presidente, com uma achega para este debate, no qual não terei a veleidade de apresentar à Assembleia um esquema de educação que possa na corrente época ensinar os nossos rapazes a viverem, porventura, mais correcta e fecundamente que nós, nem sabia, como, aliás, suponho que ninguém, outorgar-lhes a eles, que estão na idade dos sonhos impossíveis, a carta constitucional da felicidade.
Limitar-me-ei, portanto, sem pretender ser profeta na minha terra, a meia dúzia de prevenções sobre alguns factores que julgo poderão influir decisivamente sobre a nossa juventude, para sobre elas se assentarem algumas providências cautelares. E, antecipando-me a reparos certamente pertinentes, declaro que, apesar da minha profissão, não me ocuparei senão acidentalmente da educação na sua conexão com o ensino, nem dela como meio de promoção social e económica, nem como forma de enriquecimento intelectual e cultural. A razão é porque, estando anunciado já para esta sessão legislativa um aviso prévio sobre o ensino liceal, penso que será essa então a melhor oportunidade para expor a minha opinião sobre tão complexo problema.
Mas, antes de fazer as aludidas prevenções, devo, para justificar a mirada sobre o mundo juvenil para além dos presentes dias, responder a esta candente questão: estará em crise a nossa juventude?
Entende-se por crise da juventude um estado geral de baixa moralidade, caracterizado pela existência de grandes vagas de jovens grosseiros, ociosos, indisciplinados, inadaptados, delinquentes e desprovidos de elevados ideais. O número desses jovens deve ser tal que impressione a opinião pública e, sobretudo, os educadores e os governantes.
A luz desta definição, vejamos o que se passa no nosso país.
Em primeiro lugar, diz-nos a observação directa que o nível geral de civilidade, nos seus aspectos mais notados de compostura nas maneiras, arranjo no vestir e moderação nas palavras, é sensivelmente elevado. A sociedade moderna não tolera facilmente a grosseria de palavras e gestos e estigmatiza certas formas de rudeza ainda há tempos consideradas banais. Há, inegavelmente, um aprimoramento de maneiras, uma subida do nível de correcção e delicadeza, e diga-se, em homenagem à verdade, que neste aspecto a nossa juventude ocupa a dianteira. Ora, se é certo que a observância das normas de cortesia não é um índice absoluto, é, todavia, uma expressão muito significativa de aperfeiçoamento moral. O homem delicado é, em regra, um homem educado, pela posse que revela de qualidades de carácter, como o autodomínio, a reflexão, o respeito por si e pelos outros e até a docilidade de ânimo. Mercê de múltiplos factores, entre os quais me parece de salientar a subida do nível de vida, a juventude actual é mais urbana e comedida que a dos tempos passados.