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1004 DIÁRIO DAS SESSÕES N.° 56

a patriótica caminhada a seu cargo. De resto, no relatório preambular do decreto-lei que criou a Mocidade Portuguesa já se discriminava um eficaz programa educativo da juventude, e que mereceu de um dos seus dirigentes as seguintes palavras:
Esta organização abrange toda a juventude escolar ou não: tem por fim estimular o desenvolvimento integral da sua capacidade física e a formação de carácter.
Promove a educação moral, cívica, física e pré-militar dos filiados e cultiva neles a educação cristã tradicional.
Deixei para o fim uma instituição que tem ocupado o lugar cimeiro da educação e condução da juventude e que continuará a ocupar, apesar de tantas tentativas para a desviar da missão que lhe foi confiada por Deus.
Somos, felizmente, um país tradicionalmente cristão e foi sem dúvida a Igreja que nos primórdios da nacionalidade tomou a seu' cargo a educação da juventude.
A instrução era ministrada nos mosteiros e é evidente que, dada a formação dos professores, não deixava a mesma juventude de receber os benefícios de uma sã orientação moral e que era aplicada e seguida no seio das famílias a constituir.
Foi assim através dos séculos e só a força, a verdade e a virtude da moral cristã a presidir à formação do homem poderiam mantê-la respeitada por tanto tempo.

Vozes: — Muito bem!

O Orador: — E certo que as correntes avassaladoras do progresso teriam de contribuir para a criação de um processo evolutivo que fosse aproveitado no bem-estar da humanidade.
Foi-se, porém, longe em demasia pretendendo-se acorrentar à nova civilização, mas já mascarados, os princípios imutáveis da moral cristã.
Ou foram esquecidos, ou deturpados, conforme a conveniência das correntes político-sociais que foram surgindo.
Ora, a Igreja, não obstante alguns abalos, mais pressentidos do que conhecidos, tem de continuar a sua missão no aperfeiçoamento das almas, o que só conseguirá através de uma acção educativa persistente, especialmente junto da juventude.
Sr. Presidente: Na discussão deste aviso prévio limitei-me a dar algumas achegas para a solução do problema grave que nos é posto, achegas essas que resultaram especialmente da experiência e da observação através de uma vida já relativamente longa.
Penso, por vezes, na necessidade de se criarem escolas de educadores que exercessem a sua acção junto das famílias e que fossem elos de ligação entre a mocidade e a Igreja, por forma a preparar-se uma acção uniforme e persistente para a recondução da nossa juventude ao lugar que lhe compete no Mundo, dirigida pelos princípios da moral cristã.

Vozes: — Muito bem!

O Orador: — A nossa juventude está a redimir-se das faltas que não praticou, e fá-lo com uma coragem e generosidade impressionantes.
E o momento propício de irmos ao seu encontro, numa entreajuda da unidade e da fé, conduzindo-a para os largos caminhos da verdade, da justiça e da moral cristã, e dizer-lhe que muito esperamos dela para a continuação de Portugal.
E não terminarei sem dirigir o meu aplauso e louvor ao ilustre Deputado avisante e agradecer-lhe ter apresentado a esta alta Assembleia um problema de tanto interesse para a vida da Nação.
Disse.

Vozes: — Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Nunes Barata: — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Poucas vezes como hoje senti tanto a necessidade de me justificar ao subir a esta tribuna.
O mundo das minhas preocupações profissionais vive relativamente afastado dos problemas que constituem o tema do aviso prévio que o nosso ilustre colega Deputado Braamcamp Sobral desenvolveu com tanta oportunidade.
Por outro lado, as qualificações próprias não me distinguem para que o meu depoimento possa ter alguma autoridade.

Não apoiados.

Senti contudo um apelo irresistível, comandado por duas razões: represento nesta Assembleia o círculo de Coimbra, a cidade estudantil por excelência; sou um pobre homem da serra, ambiente onde têm especial acuidade os problemas da nossa juventude rural.
Chegado a uma idade em que se não é jovem nem velho, posso trazer o contributo da minha vivência e, nesta medida, servir até de elemento de estudo para os tão distintos pedagogos que ilustram esta Assembleia.
Existirá um mito da juventude?
Não será difícil salientar como a história, o folclore ou a literatura têm, através dos tempos, revelado a riqueza psicológica deste problema. O antagonismo entre o rei e o delfim nos tempos medievais, a Fénix que morre para renascer das cinzas, o pacto do doutor Fausto com o Demónio para recuperar a juventude e conquistar Margarida, são evocações que testemunham o peso que sempre tiveram nos pobres mortais as desilusões da idade madura, as decrepitudes da velhice, o pavor da morte.
Os nossos tempos deram, porém, ao problema da juventude uma relevância especial a que não são estranhas causas como o aumento da duração média da vida, o prolongamento da escolaridade, a própria aceleração da história.
Ergueram-se mesmo' sistematizações ideológicas, com particular relevo para a defesa dos chamados movimentos da juventude.
Para alguns destes a juventude ó um valor em si mesma, e não um estado de transição; é uma classe, e não uma categoria social.
Mas será possível resumir a juventude a uma classe onde facilmente se enquadram as várias situações em que a mesma se revela?
Não o creio. A juventude biológica, a juventude psicológica, a juventude jurídica, a juventude económica ou a juventude espiritual variam com os tempos, as pessoas e os lugares.
O jovem operário começa a trabalhar e constitui um lar mais cedo do que o jovem burguês. O rural ingressa, com o serviço militar, no mundo dos adultos, enquanto o estudante prolonga a sua dependência para lá dos 25 anos.
Estará porventura algum de nós de acordo em que a juventude biopsicológica e a juventude espiritual se confundem?