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14 DE JANEIRO DE 1967 1007

Que teremos feito para que as jovens participem, tal como os rapazes do seu tempo, na consciência dos problemas económicos, sociais e políticos que se põem à nossa humanidade?
Muitas vezes, no ultramar, esta pergunta tem vindo ter consigo. Perante a imensidade da tarefa que aí se nos depara, terão os responsáveis ponderado no imenso contributo que a mulher poderia dar ao desenvolvimento económico e, sobretudo, humano dessas regiões?
Mas voltemos à cidade.
Todos sabemos como muitas vezes o desenraizamento da jovem rural finaliza, na cidade, na prostituição ou em ligações, arremedos de famílias, em constante crise moral e material.
Mas ainda aquela que realiza uma união legítima sabe que razões económicas a poderão obrigar a ser uma concorrente no mercado de trabalho. Assim, dividida entre a pesada tarefa de esposa e mãe e a de operária, dará com o mesmo entusiasmo acolhida aos maquinismos que simplificam os trabalhos domésticos e ao controle dos nascimentos.
A verdade é que a maioria das mulheres não trabalham fora do lar por motivações psicológicas, mas económicas.
O trabalho no exterior não ó para elas uma vocação real, uma necessidade de enriquecimento espiritual, mas um imperativo de subsistência.
Trabalho quase sempre pouco qualificado, dissemos, trabalho que também denuncia um mito do nosso tempo: o da produtividade material. Mas muitos continuam a interrogar-se se, apesar de tudo, não seria «mais produtivo» o trabalho formativo e moderador da mulher como esposa e mãe.
Mas, se a jovem persiste em permanecer no campo, que situação aí a espera?
Já se escreveu que ela é aí uma doméstica sem salário, uma associada sem autoridade, uma co-herdeira abusivamente despojada. As condições arcaicas de vida são mesmo bem mais pesadas para a jovem do que para seus irmãos. Traduzem-se por vezes numa servidão, numa humildade, sendo-lhe negado o acesso a um mínimo de cultura, a realização do sonho de um lar independente.

O Sr. Cunha Araújo: — V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: — Faça favor.

O Sr. Cunha Araújo: — Parece que ouvi dizer a V. Ex.ª — e estou em contradição com esse ponto de vista — que a mulher sai do lar fundamentalmente por razões económicas. Ora o que eu tenho verificado é que, em regra, não ó assim. A mulher hoje está saindo do lar — e isso é que eu acho prejudicial — por razões justamente de abandono do sua função principal. Não vejo sair dele só aquelas que precisam, mas também aquelas que não precisam. E são estas que, regra geral, disputam, com preferência, os lugares àquelas que realmente precisam.

O Orador: — Eu tenho um ponto de vista diferente do de V. Ex.ª E eu creio que nós muitas vezes acreditamos que a mulher sai do lar por necessidades psicológicas, e não económicas, porque vivemos neste nosso mundo de categoria social, que é um mundo restrito. Mas os milhões de mulheres que têm necessidade de trabalhar não pertencem, infelizmente para elas, ao mundo de V. Ex.ª, pertencem ao mundo daqueles que saem do lar para ganharem o seu pão.
Ainda hoje, num programa da nossa televisão, se fazia uma entrevista a mulheres modestas que trabalhavam e a resposta que elas davam é que trabalhavam porque não tinham meios de subsistência e que o seu grande desejo seria que os maridos tivessem um nível de vida que lhes permitisse estarem em casa. Há mulheres que saem do lar porque podem ter criado necessidades psicológicas ou por os homens não corresponderem às necessidades psicológicas delas.

O Sr. Cunha Araújo: — Mas, de um modo geral, a função educadora não compete às mulheres no nível que V. Ex.ª está a referir.

O Orador: — Mas é isso que nos interessa, sobretudo porque são os milhares de mulheres do nosso país que dão os milhares de rapazes que na Guiné, Angola e Moçambique batalham e morrem por Portugal.
Sr. Presidente: Procurei sintetizar um esboço sobre a problemática da juventude falando dela como um caminho, salientando os valores que a distinguem, pondo em destaque algumas notas psicossociológicas da actualidade, referindo a tensão das gerações e abordando, finalmente, a situação dos rurais, sem omitir mesmo a posição especial da mulher.
Será agora oportuno falar mais concretamente do apelo que a comunidade das gerações faz aos jovens.
O jovem é convidado a ser bom filho para um dia ser melhor pai, egrégio cidadão para colaborar nos destinos da sua pátria, devotado crente para servir os desígnios de Deus relativamente à humanidade.
A Família, a Igreja e o Estado têm assim direitos e deveres neste diálogo, a que também dão subsidiariamente a sua colaboração as organizações da juventude, as associações profissionais e as instituições de cultura.
Reconhece-se existirem' sectores, na vida portuguesa, onde se torna indispensável dignificar o diálogo entre os pais e os filhos.
Muitas vezes os filhos queixam-se de que os pais desconhecem a sua verdadeira personalidade ou mostram indiferença por ela. Outras vezes, terceiros, denunciam uma abdicação dos pais, temerosos de complexos de frustração na peugada de teorias de psicanálise mal assimiladas.
É indiscutível que a deficiente preparação dos pais para a função educativa ou o abandono a que por comodidade votam os filhos são a causa de muitos insucessos.
Assim, se é necessário cuidar dos filhos, torna-se igualmente urgente educar os pais.
Penso que na política de protecção à família deveríamos incluir um vasto programa de formação dos pais. Escolas de pais, círculos de estudos, emissões da rádio e da televisão, brochuras, jornais, etc., tudo contribuiria para este esforço que se deveria processar aos vários níveis sociais.
Não me vou deter na multiplicidade das razões que justificam a intervenção da Igreja em matéria de educação, nem tão-pouco nos vários caminhos que se impõe percorrer para que tal intervenção ganhe maior eficácia.
Permito-me, porém, fazer uma ou outra observação relacionada com as vivências da minha geração, a posição do cristão no nosso mundo e a oportunidade de uma actualização pastoral.
Sem pretensões a evocar uma sociologia de estados de alma, ainda hoje continuo convencido de que a ansiedade foi «companheira assídua» de muitos escolares de Coimbra, no meu tempo. Ansiedade perante o número, a mudança, a guerra, a imensidão do espaço . . .