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25 DE JANEIRO DE 1967 1109

Quanto aos novos, a autocrítica, a aceitação deliberada do risco, o avanço das técnicas, a mediateza no formar das decisões, o sentido dramático da vida, a fé vigorosa nas certezas de um ideário conscientemente aceite, a generosidade da entrega, a consciência revigorada de pertencer a um todo nacional gerado em séculos de luta e com uma missão transcendente a desempenhar num mundo cheio de promessas - tudo isso, enfim, que constitui o universo mental e moral de uma juventude à procura do seu destino, ao exercer o seu impacto sobre a sociedade dos adultos que lhe barra o caminho, geia o chamado «conflito de gerações».
Pode ele apresentar-se sob uma forma violenta, ou importar uma transformação pacífica e igualmente radical, como aconteceu na vida portuguesa entre 1926-1930, ou viver sob uma forma latente e não menos leal como nos nossos dias. Mas existe sempre, e não é de modo algum indiferente à Nação que nesse conflito a sua juventude tenha de abandonar o terreno por se considerar vencida.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Ora, colocada assim a questão e especificados os seus termos, creio chegado o momento de formular os dois quesitos essenciais.

1º Para onde marcha a nossa juventude, quando entregue a si mesma, aos seus impulsos espontâneos e aos apelos que de fora a solicitam?

E perguntar aos pais, aos educadores, aos governantes.

2 º Qual o lugar que reservam aos novos, quantos oportunidades lhes criam ou quais as portas que lhes cerram?

Vou tentai responder ao primeiro quesito, e essa minha atitude de responder envolve em si uma tomada de posição quanto ao fundo do problema o que tenho também, para mim que a única forma de superar o conflito é entendermo-nos em diálogo aberto, mas esclarecido.

O Sr António Santos da Cunha: -Muito bem!

O Orador:, - A juventude e a emigração -Aquela pergunta de saber para onde caminhava a juventude envolvia ainda há bem poucos anos, quando me formei, uma resposta simplista. Pois bem, a juventude caminhava no sentido da escola de uma maior consciência do mundo em que vivia, mostrando crescente tendência para as actividades de cultura, para a formação gimno-desportiva, para a assimilação do progresso técnico. E, através de uma escolarização cada vez mais valorizada, conseguia progredir nos novos quadros que o desenvolvimento económico lhe ia prodigalizando.
Não é porém, a este caminhar -no sentido vertical e figurado que a expressão comporta- que me retiro.
Mas sim a outro - em sentido físico e em projecção horizontal-, que, envolvendo igualmente a transformação de atitude psicológica da juventude e polarizando nela o mal-estar, produto do desencontro e da inadaptação dessa juventude ao meio ambiente, se traduz afinal num caminhar físico, uma espécie de grande marcha colectiva, massiva, obedecendo a uma voz que parece ressoar mais no interior das almas que aos próprios ouvidos dos homens em apelo à aventura e ao risco, acolhida no que a juventude possui de mais instintivo e atavicamente lusíada.
Refiro-me ao fenómeno da emigração, que incorpora na bua esmagadora maioria, e em cada vez maior escala, elementos válidos da população em idade de trabalho.
No quinquénio do 1955-1559 atingiu 221 000 portugueses metropolitanos - sendo 215 000 os documentados e estimando-se em mais de 6000 os clandestinos. (11)
Para o ultramar encaminharam-se, porém, menos de metade dos que demandaram o estrangeiro.
Nos seis anos seguintes - de 1960 a fins de 1965 - emigraram mais cerca de, 273 000 indivíduos (saldo líquido) documentados. E a esta emigração teremos de somar a clandestina, que se supõe nunca inferior a 60 000 indivíduos no período considerado ( ). O que dá um total de 330 000 emigrantes.
Mas para o ultramar, seguiram nesses seis anos apenas 53 000 portugueses. Quer dizer onde até 1960 um em cada três metropolitanos se radicava no espaço ultramarino da Nação Portuguesa no hexénio seguinte, menos de um em cada seis portugueses optaram por valorizar a herança comum ( ).
Porém, não vale a pena, dedilhar as guitarras do fado ou fazer soar a trombeta heróica do patriotismo se procuramos a solução concreta do problema.
O jovem chegado à idade de trabalho tem de exercer uma, opção. E fá-lo com (...) realismo.
De um lado, tem a oferta, nacional de emprego, que lhe abre oportunidades ainda escassas ou medíocres em relação aquele mínimo psicológico a que aspira. E isso apesar de o progresso verificado de plano para plano de fomento se traduza numa maior procura de trabalhadores qualificados, a acrescer favoravelmente as conquistas da previdência social e à elevação crescente dos salários.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Do outro, surge-lhe a oferta europeia, com todo o aliciante de um salário muito superior, as vantagens de uma segurança social avançadíssima e um alto nível de vida, cujas, imagens lhe são diariamente transmitidas aos olhos pela TV e pelo cinema, e cujo apelo recebe não em língua estranha ou através de estâncias oficiais, mas na sua própria língua, pela voz ou nas cartas dos conhecidos ou patentes já emigrados e que vêm aguçarlhe o sentido da aventura com o exemplo do evito obtido.
Quanto ao ultramar, a distância a dificuldade de comunicações e a falta de infra-estruturas e um condicionalismo que nem sempre as facilita e a colocação da mão-de-obra metropolitana estão na raiz da fraca corrente migratória da metrópole, apesar das oportunidades cada vez mais aliciantes que o desenvolvimento das províncias de África -e particularmente Angola e Moçambique- oferecem à mão-de-obra europeia.
Assim ao decidir-se entre os dois termos que se lhe deparam na balança das opções, a antevisão de lucros rápidos mesmo à custa de sacrifícios e privações sem conta acabam por dobrar a vontade do jovem candidato a emigrante.
Mas também aqui, perante uma perda tão grave para o equilíbrio futuro do conjunto nacional, há que tomar com mão firme o comando das decisões realistas obedecendo à lógica do necessário.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador:-A juventude e o exército de África - Aquilo que para os rapazes do meu tempo era quase um sonho - fazer um estágio no ultramar para conhe-