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1276 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 71

gras das únicas que podem trazer a saúde física e moral aos povos, calma e serenidade às almas, bom entendimento de lavradores e caçadores e proveito económico à Nação.
Um grupo de caçadores do Alentejo, em carta dirigida à Assembleia Nacional - "motivo de caça" - queixava-se das vedadas de Castro Verde e Almodôvar, que não guardavam convenientemente as lebres e as perdizes, tanto que perturbadas no seu santuário, se viam obrigadas a fazer criação fora das vedadas.
As lebres e as perdizes emigravam - e emigravam sem tirar passaporte.
Os porcos destruíam tudo, as vacas, as bestas e as ovelhas pisavam os ovos e dos ninhos feitos nas searas poucos escapavam aos tractores e às [...]
Os senhores das vedadas nem sequer retiravam a tempo os seus rebanhos, descuidando deste modo, a defesa da caça.
As autoridades confundidas, de nada serviam e os guardas não guardavam coisa nenhuma.
[...], caçadores que criavam cá fora a caça para os senhores das vedadas a venderem depois morta ou viva.
E o mesmo grupo, muito aborrecido com todas estas coisas, pensava em entrar nas vedadas para ver o que acontecera.
Pelo mesmo tempo, lavradores donos de coutos podiam informar-nos que tratavam das perdizes, cuidando da vida no montado e dispensado-lhes tantos [...] como à criação das galinhas ou à das malhadas das porcas.
Este singelo apontamento de pequenos factos mostra como é difícil planear uma protecção da caça para um dono que é incerto por um tratador certo.
Mostra ainda que este apontamento, que as reservas são fonte de conflitos e ao mesmo tempo instrumento indispensáveis da criação de caça.
A carta dos caçadores alentejanos mostra ainda como o caçador [...], subordinando toda a economia da terra à defesa da caça.
Os gados haviam de ser retirados, as ceifeira não deveriam ceifar, os porcos, as vacas e as ovelhas são animais indesejáveis, para eles só conta a saúde dos ninhos, as lebres e as perdizes.
Invertem-se os valores, altera-se a ordem dos direitos, subordina-se a vedada ao essencial serviço da criação da caça, pode-se matar na terra livre a caça do couto, não se pode vender no couto a caça que ali entra da terra livre!
Torna-se evidente, aos meus olhos, que a caça tem de ter dono, e o dono só pode ser o dono da terra.
Esse dono da caça não será apenas o malfadado, invejado ou odioso dono da vedada, mas hão-de ser todos os lavradores, grandes, médios e pequenos, que a queiram agasalhar, que a possam agasalhar nas suas terras, sós ou em grupo, por si ou por suas comunidades naturais - o município e a freguesia.
É este o sentido prático das coisas.
A caça tem de ser protegida, defendida, acarinhada e só será objecto de particular [...] por parte de quem tenha relações com ela.
Sei que são relações [...] algo distantes, essas relações com animais bravos que não gostam de conviver com os brancos - nisso têm fortes e bem documentadas razões -, mas relações que se estreitam, reservando-lhe [...]
A caça vive na terra e a terra pode estar na posse de um hospedeiro ou de um inimigo.
O hóspede há-de cobrar o preço da pousada enquanto o inimigo procurará afastá-la do seu terreno.
Afastá-la pode apenas querer dizer que pretende poupar [...]às porcas e às ovelhas, assegurando o usual rendimento da terra, ou até comer os ovos antes que os outros comam as perdizes.
Há, portanto, interesses [...] e então tudo será "consoante e conforme" na [...] linguagem da velha serva de D. Miguel [...]
Os interesse compõem-se sempre e as paixões são [...] a todas as composições.
Mas as paixões não resolvem o problema da caça e temos de procurar pacientemente a fórmula da justa composição sem esquemas feitos, sem sistemas complicados, sem regulamentos compridos, sem batalhões de fiscais fardados e ajuramentados.
Para fazer coincidir o interesse do lavrador com o da propagação da fauna cinegética é indispensável que esta propagação lhe assegure qualquer utilidade.
A utilidade que se lhe tenha encontrado até há pouco, confundia-se com o prestígio social que mergulhava as raízes nas velhas tradições dos grandes senhores da terra.
Com o empobrecimento da agricultura e a transferência do poder económico para a indústria, para o comércio e para o Estado, e, finalmente, com o desenvolvimento do turismo, os coutos passavam a ser também objecto [...] rendimento e até de substancial valorização das terra pobres.
Quando chegamos a esta realidade, vamo-nos distanciando dos [...] quadros, vamos reduzindo a importância da liberdade do caçador e do chamado privilégio dos grandes lavradores, donos de terras coutadas, visto como a mesma liberdade se esteriliza perante o extermínio da caça e aqueles privilégios se vão consumindo na [...] das posições sociais ou na cedência à própria pressão das espingardas e do [...] pelo prestígio do direito romano.
Permanecerá a liberdade, mas vai acabar a caça, permanecerão alguns privilégios, mas mudarão de [...] os privilegiados
Já inscrevi no meu calendário o dia, muito próximo, em que teremos caçadores sem caça e lavradores sem coutos.
A prosápia da liberdade enlouquecida, a ostentação desenfreada e a propriedade [...], acumulando erros, terão de ceder a passo e regras conformes à natureza das coisas, capazes de afrontar os caprichos das leis e o desvario das gentes.
É sabido e consabido que certas formas mais requintadas da caça continuarão a ser relíquias das classe privilegiadas e seus acostados, pois são delicado desporto que requer tempo, dinheiro, organização e bom gosto.
Só a demagogia pode ver grande mal em que se conserve esse bom gosto.
Por mim, receio que a onda turística [...]
O mercadejar dos faisões será o final de toda a graça natural e soberana da ave apontada nas suas tradições.
Os homens não são iguais, os seus direitos e lazeres conquistam-se, e não se distribuem per capita mas por estirpes.
Com isto pretendo dizer - não se [...] que me queiram contraditar - que a caça é um desporto aristocrático que nos impõe a necessidade de criar ao lado dos privilegiados da fortuna uma aristocracia aberta a todos os caçadores igualmente distinguida com menos dinheiro, mas decerto com o mesmo ardor desportivo e o mesmo vigor.
Nessa aristocracia há-de caber quem tenha uma espingarda e um cão e seja capaz de cumprir rigorosamente