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1332 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 75

Vocher. professor de Medicina Legal e director do Instituto Nacional de Medicina Agrícola
No mesmo ano (1964), a Sociedade Portuguesa de Pediatria realizou, em Lisboa, um simpósio sobre as intoxicações acidentais da criança. Os Hospitais Civis de Lisboa, no curso sobre o grande traumatizado, demonstraram a frequência e os prejuízos económicos, extraordinariamente elevados dos acidentes, elementos que foram por (...) recordados oportunamente em sessão desta Assembleia. Nas reuniões médicas da Figueira da Foz sobre medicina do trabalho tem o assunto sido ventilado por mais de uma vez.
No 11º Congresso lutei nacional do Pediatria, no Japão, onde me desloquei como representante oficial do Instituto do Alta Cultura - e onde eu e os, demais membros da delegação portuguesa, oficialmente nomeada, fomos à nossa própria custa bem qualquer subsidio do Estado, diga-se em abono da verdade -, foi o problema das intoxicações largamente discutido, tendo tido particular relevo o relatório do Dr Cota Guerra psiquiatra e sanitarista que havia sido especialmente convidado para expor o notável trabalho que se está realizando em Macau pelos médicos portugueses no tratamento de certas intoxicações
Em Janeiro de 1966, realizou-se a reunião dos secretários nacionais das associações europeias e, em Agosto deste ano, teve lugar, em Copenhaga, o 2º Congresso da Associação Europeia dos Centros Antiveno para organização da luta na Europa, mas que resultou de âmbito mais largo abrangendo o mundo inteiro
Não dispomos de estatísticas nacionais devidamente organizadas para objectivar o problema dos acidentes e das intoxicações agudas da infância em Portugal. Mas podemos socorrer-nos de alguns estrangeiros para poder fazer uma ideia aproximada do que se passa no nosso país
Em Fiança, em 1955, houve 2030 mortos de crianças de menos de l4 anos causadas por acidentes tendo sido a maior incidência nos grupos etários do l a 4 anos. Como, para cada caso de morte, temos de contar com 4 que foram segundos de invalidez e 100 que tiveram consequências varias poderemos fazer ideia do cortejo que acompanhou aquelas 2030 mortes. Em França há 30 000 intoxicações agudas em cada ano impondo hospitalização.
Nos Estados Unidos da América morrem, um média, por ano 14 300 crianças por acidentes são atingidas por essa causa 16 milhões de crianças e 8 por cento dos internamentos hospitalares são provocados por eles.
em Estocolmo durante o ano do l957, numa população de 227 000 crianças com menos de 14 anos registaram 24 466 acidentes com 29 mortes
Quanto a importância do local do acidente a Organização Mundial de Saúde fez saber que 45 por cento de todos os acidentes se verificam na residência 10 por cento nas estradas 30 por cento nos recintos públicos e 14 por cento no trabalho
A taxa de mortes por acidente na infância é, na maior parte dos países, um terço da totalidade das mortes das crianças e ultrapassa a das doenças infecto-contagiosas. Nem a tuberculose, nem nenhuma das doenças infecto-contagiosas, atinge, em qualquer país, a percentagem de mortes devidas a acidentes.
Temos, portanto, diante de nós um serio problema de saúde pública quo nos rouba, em cada ano, um avultado número de criança, que é causa de uma elevada percentagem de hospitalizações, que origina invalidez de muitas delas o que tem graves repercussões na economia da Nação.
É um problema cuja gravidade é passível de redução, por profilaxia bem conduzida que assente em quatro pilares epidemiologia, educação, legislação, organização de socorros urgentes
O que tomos feito?
Estamos em manifesto atraso, neste sector, em comparação com os demais países. E não se argumente com a (...) das instalações as dificuldades da organização da luta, o custo da manutenção etc. O que a profilaxia pode pode evitar em mortes, em invalidez em hospitalizações compensa sobejamente o que venha a gastar-se com a montagem do sistema.
No formulário do inquérito distribuído a todos os países antes da organização do 2º Congresso Mundial a que há pouco me reteu, as informações prestadas por Portugal não são de molde a deixar-nos satisfeitos quando as confrontamos com as de outros países.
Em Portugal, que ou saiba, não se faz o ensino da toxicologia clínica e ha só um centro organizado por um médico, com carácter estritamente privado, que tem os seus serviços montados de modo a fornecer rapidamente preciosas indicações e conselhos sobre vários tipos de intoxicação, a titulo gratuito a quem consultar telefonicamente - é o do Dr Filipe Vaz.
Nenhum dos nossos serviços hospitalares, nem mesmo os que detêm os nossos melhores serviços de urgência, está capazmente organizado para informar quem os consultar pelo telefone acerca do tipo de intoxicação verificado e do antídoto a aplicar (...) também que eu saiba, nem equipado para um diagnóstico rápido e um tratamento de urgencia para certos tipos de intoxicação que lá cheguem.
Coimbra tem condições excepcionais para rapidamente fundar um desses centros, em ligação com o Hospital Escolar e com os serviços de toxicologia da cadeira de Medicina Legal da sua Faculdade de Medicina

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Há já algum tempo, o professor de Medicina Legal de Coimbra apresentou ao conselho da Faculdade uma proposta, que foi aprovada, para a constituição de um grupo de estudos de toxicologia clínica forense e social da Universidade de Coimbra, com a colaboração da professores das, Faculdades de Medicina e de Ciências e da Escola de farmácia e instalação de um centro de luta antiveneno, do qual fará parte um centro de documentação e informação. A proposta subiu ao Senado Universitário, que também a aprovou O projecto de estatutos do grupo foi enviado há tempos pela Reitora ao Governo e aguarda-se que este se pronuncie sobre ele.
A cargo do grupo de estudos estará a preparação de alunos de Medicina e sobretudo de médicos, em cursos de pós-graduado, particularmente dos internos dos hospitais, a difusão de conhecimentos sobre prevenção no ponto de vista individual e social e a cooperação de todos os sectores interessados e, particularmente dos serviços hospitalares, tendo em vista um diagnóstico precoce, uma investigação perfeita da natureza do tóxico e um tratamento conecto e oportuno.
O centro de documentação e informação há-de dispor de ficheiro pormenorizado reunir os elementos respeitantes aos diversos tóxicos, à composição dos produtos comerciais, à sua embalagem e a técnica dos tratamentos a instituir. E há-de também estar apetrechado paia dar aos módicos e ao publico conselhos terapêuticos imediatos, urgentes, sobre as intoxicações acidentais, profissionais, voluntárias ou terapêuticas sobre que for consultado.
O centro de Leão só em 1965 teve nada menos de 668 consultas médicas, pelo telefone, para casos considerados de urgência, e 622 destes eram, efectivamente, de verdadeira urgência