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1442 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 80

Aproveito, no entanto, o ensejo para chamar a atenção do Governo para as implicações consequentes à rigidez em se definir como auto-estrada praticamente todo o troço que vai desde a rotunda da concordância com a via rápida, através da cidade do Porto e do concelho de Gaia, até aos Carvalhos
É preciso não esquecer que a ponte da Arábida não pode deixar de ser - e cada vez mais o será - elemento integrador do agregado urbano da cidade e do da confrontante vila de Gaia
E tanto nesse espírito e suas perspectivas se processou a sua construção que essa obra de arte foi dotada generosamente com passeios para peões, taxas para ciclistas e elevadores de acesso para facilitar a transposição do rio.
É preciso não esquecer também que a poente dessa estrada estão situadas as futuras, (...), praias que a industrialização à volta de Leixões tende a condicionar deveras a norte do Douro.
Ainda a ligação indispensável entre o Douro (margem sul) e Leixões impõe o aproveitamento da ponte com acessos ajustados quer à parte ribeirinha, quer a parte alta da Vila de Gaia. Isso obriga a fazer-se um adequado arranjo de acessos, sem os quais os efeitos de tão avultado empreendimento aparecerão como frustrados para os olhos citadinos. Não seria solução, neste caso, considerar-se ainda com simples características de via rápida o troço a partir da dita rotunda até ao nó gaiense, imediatamente a sul da ponte.
É para amparado estudo desse aspecto do problema que peço uma atenção oficiosamente coordenada das estações competentes

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Outro aspecto do problema das ligações da via rápida e da auto-estrada o da sua melhor articulação com as saídas nordeste da cidade
Essas só poderão Ter solução razoável com a prevista rodovia de circulação interior, em ligação com a Avenida de Fernão de Magalhães a prolongar até Lamesinde
Isto a não querer-me, para o imediato, recorrer ao aproveitamento da circunvalação, com passagem superior, já se vê, a fazer-se sobre a linha férrea da Póvoa, sem dispensar, tão-pouco o (...) prolongamento rodoviário até Esmesinde
Reservo para ulterior intervenção tratar destes e outros problemas atrás.
Mas repare, Sr Presidente que, em vez de simples e agradecido homenageante pelo realizado me converto lusitanamente, em impetrante ávido de novos empreendimentos.
Isto me seja perdoado se, como é de experiência universal - e mais me seja perdoado também não utilizar aqui o vernáculo -, l'appetit vient au mangeant

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi minto cumprimentado

O Sr Janeiro Neves: - Sr Presidente Embora na origem das minhas palavras estejam os temporais que, com particular violência, tombaram recentemente sobre o Sul de Moçambique, não me vou ocupar dos seus trágicos efeitos. Para eles já a ilustre Deputada Sr.ª Dr.ª D Custódia Lopes, com a vivacidade elegante a que nos
tem habituado, chamou a atenção desta Câmara em termos de intonso realismo s profunda mágoa.
Vou ocupar-me de um evento também com origem naquelas calamidades, mas que não é trágico. Pelo contrário, deve encher-nos de júbilo pelo seu significado
Diz o povo na sua sabedoria - que parece continuar a ser a mais sábia -, que é nas ocasiões que se conhecem os amigos. Verdade comprovada e que o não deixa de ser por ser cada, vez menos frequente. Mas se é menos frequente, é razão para mais a apreciarmos quando se manifesta
O caso que entendo não dever deixar de ser assinalado nesta assembleia, é este, numa singeleza cheia de significado o Governo da Salisbúnia deliberou a favor das vítimas daqueles temporais um valioso auxílio (...)
Não indico prepositadamente o seu montante, É que, meus senhores se esta atitude impressiona pelo que tem de valor material, impressiona muito mais pelo seu alto significado. Significa amor entre os homens de boa vontade, significa compreensão entre as nações, significa, numa palavra , paz. Essa paz que tem caracterizado os nossos 800 anos de história e que só foi, e está a ser, quebrada não por nossa iniciativa, mas por iniciativa do exterior
O exemplo que a Rodésia acaba de dar é bem uma manifestação das boas relações - boas é pouco -, óptimas relações, que, principalmente através de Moçambique, mantém com Portugal. E o que se passa com a Rodésia e outros vizinhos pode passar-se com os restantes, só depende deles.
Soubessem todas as soberanias respeitar as demais, como é honrosa tradição portuguesa, e não seria necessário criar uma O N U para obtenção e manutenção da paz entre as nações, se é realmente a paz, o que duvido, o objectivo dessa desorganizada organização
Pois, meus senhores, eu vejo nesta atitude de Salisbúnia, nesta atitude de um governo que vive actualmente perante sérias dificuldades económicas - resultantes de imposições de quem pretende caminhar à frente da civilização ocidental -, eu vejo nesta atitude, dizia um acto de transbordante amizade de um povo não compreendido por outro igualmente vítima da incompreensão. Estou certo de que VV Ex.ªs consigam no meu sentimento de profunda gratidão e elevado apreço pela dádiva rodesiana não só pelo seu valor material, mas, muito principalmente, pelo que significa como desassombrada atitude de boa vizinhança em favor de um povo que, igualmente, sabe ser bom vizinho

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sendo assim, aqui ficam estas curtas palavras, curtas mas sentidas, poucas mas sinceras, que traduzem, estou certo, a gratidão de todos os portugueses
Para finalizar, peço me desculpem este desabafo, esta nota pessoal se estou desejoso de voltar à Beira para abraçar os meus filhos e beneficiar de novo do convívio amigo da sua população, anseio igualmente por ver, já na próxima Páscoa como é habito, as ruas e as praias daquela portuguesa cidade africana - cheias de buliçosa e amiga juventude rodesiana, que tal como a portuguesa, sabe o que quer e para onde vai
Tenho dito

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi mudo cumprimentado