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7 DE NOVEMBRO DE 1967 1655

partidas e aquele que o seguiu na morte, quando as mãos nobres e esforçadas não podiam segurar mais a espada invencível e a alma já tardava diante da vilanagem sequiosa de vingança. Pois esse tipo de amizade, que é um dos mais valiosos timbres da nossa raça, era o que distinguia o nosso querido colega, tão cedo e tão dolorosamente roubado ao nosso convívio.
Manuel Nunes Fernandes possuía a virtude de praticar a amizade sem reserva - sabia ser amigo.
Visitei, na sua companhia, Lamego e a pitoresca e histórica Salzedas, onde a vida se lhe abriu como uma promessa que se cumpre. A casa paterna ficava mesmo em frente do velho Mosteiro e juntos, meditámos muitas, vezes sobre as suas ruínas. Estou a ouvir-lhe a voz entristecida em face da incúria a que estavam votados o antiquíssimo templo e o mais que o envolvia. E a sua dor não era tanto pelos estragos do tempo era pelo desleixo e incompreensão dos homens, ligados por acções e omissões ao abandono imperdoável.
Recordo-me como se fosse hoje, da pequena e suave aldeia, da vastidão em redor, das serras e dos campos, dos veios de água, do rumor humano da cor do céu para onde se elevavam as preces dos devotos, do carinho e do amor que o Nunes Fernandes dedicava à terra onde nascera, a tudo o que a enchia e caracterizava. Quem quiser poderá ainda escutar nesta Assembleia, os ecos desse ardente carinho e desse entranhado amor.
Manuel Nunes Fernandes permaneceu fiel à terra que lhe serviu de berço e jamais deixou de ser o vigoroso e honestíssimo intérprete dos seus justos anseios, e das suas dignas aspirações.
Andámos os dois em Coimbra, quando a política era neste país uma espécie de tumulto, em que só havia quedas e desmoronamentos Políticos não faltavam, mas políticos no verdadeiro e elevado sentido - ressalvadas excepções, que se desfaziam no conjunto - não existiam. Nós, os estudantes desse tempo, sentíamos na alma os golpes que retalhavam a Nação. A nossa juventude destinava-se ao bem da Pátria, e os caminhos que desejávamos abertos estavam proibidos ou desfeitos. Principiámos a sentir então a responsabilidade de pensar em termos de revolta e, quando o 28 de Maio surgiu, com esse fulgor de armas que tanto bastou para varrer as sombras acumuladas nos horizontes da vida nacional, uma grande e avassaladora onda de esperança dominou a nossa ansiedade. A geração que viveu essa hora ainda está de pé a despeito de a morte não ter poupado alguns dos seus representantes.
Manuel Nunes Fernandes foi um autentico valor da Revolução Nacional, inabalável e activo desde as origens, firme nos princípios e nas grandes certezas da Pátria.
Mas, com o desaparecimento deste soldado, o nosso exército não se torna mais fraco. Nós, os que ficamos ou vamos ficando até Deus querer, é que temos de ocupar as vagas abertas, multiplicando-nos na honra de as suprir. Portugal assim o exige. Foram muitos os combatentes que por ele tombaram já nas muralhas - e nem por isso a fortaleza cedeu.
O exemplo do companheiro de luta Manuel Nunes Fernandes merece que não o deixemos apagar-se na falta que a falta da sua presença nos faz. Queira Deus receber a sua alma para além e para cima do que humanamente pudemos fazer, ao recebê-la no perpétuo agasalho da nossa memória e da nossa saudade.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado

O Sr Cid Proença: - Sr. Presidente: Os Deputados pelo círculo de Viseu agradecem as palavras com que V. Exa. evocou a memória do Dr. Nunes Fernandes e as que, no mesmo sentido com igual justiça e amizade acaba de proferir o Sr. Deputado Armando Cândido.
Agradecem por fim o voto de pesar a que a Câmara unanimemente se associou.
Agora, que Deus chamou a si o nosso estimadíssimo colega, todos sentimos muito a sua falta.
Mas nós, os do distrito de Viseu pedimos licença para nos considerarmos particularmente atingidos.
Natural do distrito o residente na sua Lamego, de que tanto nos falou e que tão bem serviu, pode dizer-se que, aqui e lá, esteve sempre connosco.
E pelo aprumo moral, pela coerência política, pelos méritos profissionais, pela sua afectividade e simpatia, pela sua bondade desafectada, mereceu a conta em que o tínhamos e justificou a saudade que nos deixa.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vai passar-se à

rdem do dia

O Sr. Presidente: - Está em discussão na generalidade a proposta de lei relativa à elaboração e execução do III Plano de Fomento.
Tem a palavra o Sr. Deputado Virgílio Cruz.

O Sr. Virgílio Cruz: - Sr. Presidente: Está a chegar ao seu termo o Plano Intercalar de Fomento que fixou como principais metas a atingir o crescimento mais rápido da riqueza nacional e a sua repartição mais equilibrada.
Dentro de uma política de continuidade vai seguir-se-lhe o III Plano de Fomento para o sexénio de 1968-1973, plano de mais largos horizontes e ambições.
Excedem os seus investimentos o montante de 167 milhões de contos.
É admirável como uma nação em guerra há seis anos consegue lançar um plano desta amplitude e grandeza.
Três objectivos principais inspiram o III Plano de Fomento a aceleração do ritmo de crescimento da riqueza nacional, a repartição cada vez mais ampla e mais equitativa dos rendimentos criados e a correcção progressiva dos desequilíbrios regionais de desenvolvimento.
Neste tríplice propósito, a pôr em prática durante os próximos seis anos, vai um mundo de promissoras perspectivas para a construção do futuro dos Portugueses.
O Plano pretende dar a expressão do estóico colectivo a realizar, nele se mostram os objectivos que o Governo entende propor ao País como metas a atingir até 1973.
Os dados dominantes estão enunciados no seu projecto cabe agora aos órgãos competentes manifestarem a sua posição perante o programa proposto.
Nos vamos examinar o capítulo da energia.
Sr. Presidente e Srs. Deputados: Na vida actual mecanizada e motorizada a energia e o forte propulsor de criação da riqueza e do progresso geral, daí a enorme importância dada ao sector energético nos programas de desenvolvimento em todos os países.
O III Plano contempla largamente este sector se juntarmos às verbas inscritas neste capítulo os montantes destinados à electrificação rural e a refinaria do Norte, o