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16 DE NOVEMBRO DE 1967 1729

agrandada, de compreensão e entendimento entre os dois povos, que é a comunidade luso-brasileira, bem marcada de validez e absolutamente indestrutível, por antes dos tratados, só aparecidos mais tarde para lhe darem forma jurídica, ter sido gerada no sangue das suas gentes, e aí, sim, é que está a sua expressão verdadeira.
Essa comunidade é. portanto, como bem o disse Salazar, «um produto histórico, que não necessitava de definição».
Contudo, esta vem a ser dada e confirmada através de múltiplos convénios, que desde 1825 e até Setembro do ano passado, data em que os últimos foram assinados, têm tido ratificação, no intento da melhoria, porque se anseia e se pretende com maior acrescente, das relações luso-brasileiras. querendo-as por mais efectivas, mais ajustadas, mais sólidas e mais fraternas.
Esses tratados, que já muitos são, tão-só têm por finalidade, no proclame do Deputado Adroaldo de Mesquita, «tornar lei aquilo que está no coração do povo brasileiro», ajuntando nós que por igual o está no nosso sentir do Portugueses, que a esse povo tanto estimamos, muito naturalmente por o termos moldado à nossa imagem, emprestando-lhe a cultura e a civilização, de que muito nos orgulhamos, e por tantas partes espalhámos, «dando novos mundos ao Mundo». Mas mais ainda: «jogámos na sua alma - no dizer de Juracy de Magalhães - as sementes da democracia racial», que fizemos frutificar por muitas paragens e com malsão propósito tão incompreendida vem sendo. Mas dias melhores hão-de vir, mantemos bem viva essa fé, pois continuamos a acreditar nas algo subvertidas virtudes humanas, e com elas outra. vez ao de cirna, o bom senso há-de voltar aos espíritos ora em revolta.
Sr. Presidente e Srs. Deputados: Beja envaidece-se, e muito, de ser a terra do maior cabouqueiro da «luso-brasilidade», e por si mesma um elo de grande forteza dessa amálgama de sentimentos de valor transcendental no viver harmónico dos dois povos irmãos.
A cidade que aqui modestamente representamos foi berço de António Raposo Tavares, o maior dos bandeirantes, figura de colosso, toda temperada na adustez de uma vida de intenso nomadismo, que outra não podia ser a daquele que pelo Brasil distante, e então fortemente convulsionado, tão-sòmente ansiava ser útil ao País e ao donatário que servia. Foi este homem, de alma rude, mas aberta e violento na acção, quem mais contribuiu para a grandeza imensa do Brasil de ontem, ciosamente arrecadada no Brasil de hoje.
Foi ele «nacionalista apaixonado, como bom alentejano, por tudo o que significasse independência, homem de altos espíritos, nascido para comandar grandes empresas», na afirmação de Jaime Cortesão, historiador que teve o enorme mérito de «levantar a pesada tampa de granito do sepulcro onde dormia o gigante» e dar-lhe a «visão mais correcta».
Neste momento em que o Brasil se ergue e a comunidade mais se estreita, recordar a gesta deste heróico português de nobres e puros ideais, de grandes e preclaras acções, que à nação irmã deu tudo quanto tinha e até a sua vida em holocausto ao seu engrandecimento, e que por tal bem mereceu ser «libertado da morte», é dever que justamente nos cabe.
Em Agosto do ano passado, na presença de S. Ex.ª o Sr. Presidente da República, teve memória em Beja este vulto lendário e alevantada a sua estátua em praça pública, que de seu nome o tomou.
A figuração de Raposo Tavares assenta em alto pedestal rochoso, «recordando às gerações vindouras a rudeza e a energia indomável de um alentejano, patriota insigne e incansável caminhante, que forjou as fronteiras do Brasil para glória das duas pátrias e da amorável e altaneira cidade que ostenta o nome de Beja», assim o ditou o Dr. António Howorth, um dos mais esforçados obreiros da memoração. Nele se lê a inscrição seguinte: «Rei de bandeirismo - criador da unidade sóeio-geográfica e geopolítica do Brasil. A sua grandeza mede-se por dois dos maiores padrões naturais do Mundo: os Andes e o Amazonas, por ele navegados, passo a passo, no espigão do século XVII.» E no soco do monumento há estoutra legenda: «Ao alentejano e maior bandeirante António Raposo Tavares - Homenagem da comunidade luso-brasileira- S. Paulo -1966.»
A estátua, da autoria do escultor Luís Morrone, foi oferecida a Beja por um grupo de destacadas individualidades de S. Paulo, brasileiras e portuguesas, encabeçado pelas figuras proeminentes do importante industrial e senador Eng.º Ermírio de Morais e do grande benemérito comendador Brenha da Fontoura, digno presidente da Sociedade Portuguesa de Beneficência daquela cidade.
O oferecimento do bronze,, a exaltação do bandeirante e as galas de que a cidade se vestiu u o dia memorável da comemoração, tudo isto valeu ao Prof. Doutor Vitorino Nemésio estas palavras sentidas: «Ainda há felizmente gente lembrada no Mundo: em S. Paulo, que mandou fazer a estátua, e em Beja, que a pôs no seu coração.»
Num bosquejo muito breve diremos que António Raposo Tavares, nascido em Beja, supõe-se que em 1598, na antiga freguesia de S. Miguel, foi para o Brasil em 1618, acompanhando seu pai, Fernão Vieira Tavares, nomeado governador da Capitania de S. Vicente, e que tinha como donatário o conde de Monsanto.
Por esse tempo, os espanhóis, vindos do Paraguai, iam capciosamente alastrando a sua influência, através das «reduções de índios», tentando atingir o mar, e assim procederem à ocupação das terras que hoje são pertença dos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, tomando-as para si e seu reino.
Os homens de S. Paulo, constituídos em «bandeiras», tendo Raposo Tavares como seu chefe indiscutido, travam esses propósitos de expansão, promovendo duas incursões, a primeira, em 1628, contra as «reduções» do Guairá, e a segunda, em 1086, contra as de Tape, conservando assim o domínio de todos os territórios marginais e ao sul do rio Paranapanema.
Depois, por 1637, no comando da Companhia Paulista, Raposo Tavares integra-se na esquadra do conde da Torre, com a qual é pretendida a restauração de Pernambuco, que os holandeses dominavam. Com o destroço da esquadra, Raposo Tavares, levando as suas hostes, desembarca na baía dos Touros, e daí percorre, em marcha forçada, sempre pisando território na posse do inimigo, 400 léguas, tanta é a distância até à Baía. A esta cidade chegou exausto, tendo suportado as maiores vicissitudes, conseguindo, no entanto, com vantagem, superai-os holandeses, aos quais deu guerra sem quartel, infligindo-lhes pesadas derrotas.
Referindo-se a esta extraordinária proeza, o P.e António Vieira, que não tinha por Raposo Tavares grande estima, todavia obrigou-se a afirmar: «Tenho para mim que não há soldados no Mundo, nem que mais valentes sejam, nem que mais sirvam, nem que mais trabalhem, nem que mais mereçam.»
Logo após este desmedido feito de armas, dá-se a aclamação de D. João IV, e em 1641 S. Paulo tem a notícia. Esboça-se, da parte dos espanhóis radicados na cidade,