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13 DE DEZEMBRO DE 1967 2093

ciai, e à semelhança da danação de outrora, em que lhes foram confundidas as linguagens, os homens vêem agora os seus sentimentos confundidos, e por tal forma que a paz tanto significa aqui fraternidade e compreensão como reflecte além genocídio, miséria e dor!
Veio daqui a subversão dos valores éticos tradicionais, e então membros poderosos, ou havidos como tais, do convívio mundial começaram a trair ostensivamente as suas ancestrais obrigações, comprometendo fraudulentamente a posição própria e até a alheia! ...
A desmedida ambição, vestida das mais variadas roupagens, acrescentou novos vocábulos à linguagem dos povos, ensinando muitos a balbuciarem os de «autodeterminação» e «anticolonialismo», como representando panaceias para a liberdade e felicidade edénicas! ...
Entontecidos por essas mefistofélicas miragens, esqueceram os povos africanos, por exemplo, muito do que deviam aos primados da civilização cristã, que a muitos havíamos ensinado e com todos praticado! ...
E começaram a guerrear-nos! ...
Emergiu, então, para todos os portugueses das gerações do presente a obrigação de dar testemunho ao mundo de que as virtudes dos portugueses do passado, floridas e refloridas no continente africano, permaneciam com a mesma gama de valor com que os de antanho as possuíram e cultivaram. E, louvado Deus, esse testemunho tem sido dado com reiterada e valiosa frequência! ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Generosa e abnegadamente, a juventude portuguesa começou a seguir as rotas do sacrifício, oferecendo ao sagrado princípio da integridade da Pátria tudo o que ele lhe tem exigido, não lhe regateando sequer a própria vida! ... Luta e vence com inegável honra! ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Tal como outrora, passamos assim a dar ao mundo a lição de dignidade de que ele se esquecera, e os povos foram forçados a reconsiderar que os Portugueses, com serem menos do que aqueles que os hostilizam, não constituem um povo que se possa esmagar por qualquer forma de eliminação.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - Mais consciencializados do grande crime de lesa-humanidade em que têm andado empenhados, ao procurarem contrariar as raízes históricas e os elementos essenciais que nos criaram como nação civilizada, alguns dos povos chamados «grandes» começaram a orientar as suas bússolas de governo em outros rumos. Todavia, ainda sacrificam, ou à vaidade, ou à ambição, a realidade étnico-político-social que a Nação Portuguesa representa como povo uno e naturalmente amalgamado nos mesmos sentimentos de nacionalidade, a despeito da multirracialidade das suas gentes e pluricontinentalismo dos seus territórios! ...
Daqui que tenhamos ainda de continuar a preocuparmo-nos, principalmente, com a defesa da integridade do nosso vasto património territorial, destinando-lhe a primazia dos nossos recursos, que tanto desejaríamos investir, com igualdade, em outros vastos sectores que procuram o fomento do bem-estar e melhoramento da grei! ...
Temos contas a prestar aos vindouros pelo que fizermos ou não fizermos em prol da Pátria, nós, os que pela fatalidade do destino somos forcados a pagar de pronto o elevado preço de esmagar as cobiças alheias, para que eles recebam íntegro o património comum.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Por tudo isto, Sr. Presidente, e antes de mais, o meu vivo aplauso à prioridade que o Governo propõe para as despesas da defesa nacional.
Mas temos de pensar na obtenção de recursos de que se tem de dispor para II cobertura das numerosas somas a que ascendem as grandes despesas que o Estado tem necessariamente de fazer, não só com a defesa nacional, mas nos restantes sectores da vida da Nação.
Eu não sou economista, nem perito em finanças, por consequência não pretendo apresentar programações específicas.
Quero tão-só deixar aqui u meu depoimento objectivo sobre alguns problemas que, ligados à minha formação de homem rural, mais me afligem.
Pertenço, Sr. Presidente, à região central do País, ao distrito de Coimbra, onde há muito vivemos as grandes incertezas da falta da conveniente industrialização e também as emergentes de uma agricultura comprometida e rotineira, assente nas precariedades da policultura minifundiária.
Porque não têm podido contar com o suficiente rendimento dos nossos agros, nem com a desejada ocupação nas inexistentes indústrias, as gentes da grande vastidão rural do meu distrito são propensas à emigração, tanto para os grandes centros urbanos de Lisboa e do Porto - principalmente para os daquele - como ainda para os fantasiosos eldorados do estrangeiro!
As nossas vilas e aldeias vemo-las empobrecer cada vez mais por falta de braços e, concomitantemente, pela falta de condições de fixação das suas gentes!
Atravessamos, assim, um oceano de dificuldades, que nunca será demasiado evidenciar.
Despovoadas as aldeias e as vilas dos seus melhores valores humanos, ficam-nos os velhos de ambos bs sexos e os muito mais novos para todos os misteres que é necessário fazer, para que a vida se não extinga de todo! ...
Mas estes, os jovens, são valores com que só transitoriamente se pode contar, isto é, enquanto não adquirem uma pseudomaturidade, que chegará cada vez com mais precocidade!
Os braços desses jovens, porém, nunca mais volverão à terra!
Chamados ao cumprimento dos seus deveres militares, começam assim o seu absentismo rural, que completam quando, quites com a Pátria, se encaminham para a vida mais fácil da urbe, ou para longe do torrão natal, ao serviço das economias estrangeiras.
São regras a que se não conhecem excepções em número suficiente para as invalidar.
Pelo império deste êxodo, as economias agrícolas do meu distrito estão sem servidores, e por isso submetidas às mais duras provações.
Tem de aproveitar-se toda a mão-de-obra que aparece, sem curar de saber da sua qualidade laborativa e dos preços por que a mesma se tem de pagar.
A dor de ver os campos incultos e aparecerem com os silvados ou com o matagal a flagelar as árvores e as cepas, a que tão entranhadamente se quer, não consente cálculos de produtividade económica ao pequeno lavrador, que, podendo ou não, tudo tem tentado para se libertar do sofrimento que tanto o aflige.
E cultivando, cultivando sempre, cada vez com maiores dificuldades, vai empobrecendo gradativamente a sua vida