2 DE MARÇO DE 106 2587
O Sr. Filomeno Cartaxo: - Sr. Presidente: Eu desejaria trazer para está Casa, se me fosse lícito, a força e a limpidez de um testemunho. Um testemunho que pode ser um sinal de esperança colhido numa região visceralmente agrícola, mas sem uma estruturação adequada, dominada por culturas de produção muito oscilante e com péssima comercialização. Um testemunho que em si comporte qualquer coisa de libertador e seja o complemento merecido para terras e vales de que se têm entoado mil e uma loas, mas de que se não têm extraído todos os benefícios e toda a gama de riqueza.
Queremos referir-nos, Sr. Presidente, a um serviço do Estado dependente da Direcção-Geral dos Serviços Agrícolas e a que foi atribuído a designação de «Extensão Agrícola Familiar».
Ao desconhecimento do próprio conceito, corresponde a falta de notícia generalizada da extensão dos serviços, dos seus méritos, dos seus resultados.
Partem eles da ideia da família como célula básica da sociedade e preocupam-se em preservar a sua liberdade e conservar c afinar os valores dessa mesma vida familiar.
Determina-os, no fundo, o reconhecimento da necessidade de adaptar a unidade familiar à evolução técnica e social que se processa, despertando todas as suas potencialidades e agindo, sobretudo, através do desenvolvimento das aptidões individuais, da ministração das novas técnicas e processos, da criação de um clima de convívio e determinação que arraste a família, cada vez mais, a participar na vida comunitária.
Debruça-se a Extensão Familiar, exclusivamente, sobre o nosso ambiente rural, defendendo a sua economia doméstica, preenchendo graves lacunas de ordem educativa, despertando o sentido de novos padrões de vida, criando uma receptividade, representando até o único sinal de vitalidade e interesse que acompanhou um gradual e sempre mais íntimo contacto entre as gentes dos nossos campos e dos nossos centros urbanos.
Têm actuado os Serviços, até à data, quase somente sobre a preparação dos adolescentes do sexo feminino, fiéis, talvez, àquela ideia, ou propósito, de que a mulher deve ser a pedra de toque do lar, a impulsionadora do seu interesse, a personificação do carinho, o exemplo acabado da persistência.
E, por outro lado, movidos talvez pela intenção de desviar a mulher dos trabalhos do campo, para eles arrastada por falsas interpretações de necessidade económica, reservando-lhe tarefas mate consentâneos com as suas faculdades e de maior rentabilidade, económico-familiar.
Por todo o País se tem procedido á organização de cursos que podem revestir o carácter de fixos ou ambulantes - os primeiros com a duração de dezoito meses, para raparigas com a idade mínima de 14 anos e já com a instrução primária concluída; os ambulantes, como cursos intensivos de pequena duração (três a cinco meses), nas épocas de menor intensidade dos trabalhos do campo.
Em tais cursos são ensinadas às nossas raparigas rurais matérias diversas e de imediata utilidade, fornecendo-se-lhes conhecimentos básicos e indispensáveis que de outra forma lhes não seriam facultados.
Para se fazer uma ideia da orientação de tais cursos, permitimo-nos dar uma súmula das suas disciplinas, que, para facilidade de exposição, agruparemos por sector agrícola e sector doméstico. Relativamente ao primeiro, ficam as raparigas com noções de horticultura, jardinagem, conservação de frutas e produtos hortícolas, avicultura, apicultura, leite e lacticínios, contabilidade agrícola e doméstica, racionalização do trabalho agrícola e doméstico. Quanto à parte doméstica, artes domésticas (corte, costura, bordados, tecelagem, decoração do lar), higiene geral e enfermagem, puericultura, higiene alimentar e culinária, construção e higiene da habitação, formação moral e familiar.
É certo, porém, que de há uns tempos a esta parte os serviços têm dedicado uma especial atenção à preparação dos adolescentes do sexo masculino, o que não só teria sido forcado por uma natural curiosidade destes interessados, mas também por se reconhecer que a formação até então desenvolvida criava uma certa disparidade que era urgente atenuar, proporcionando aos rapazes aqueles conceitos utilitários que eles mesmo exigiam.
Pois, para alcançar o preenchimento das finalidades expostas tem a Extensão Agrícola Familiar, mais ou menos, disposto de 182 agentes, assim distribuídos: 5 engenheiras agrónomas; 4 assistentes sociais; 9 regentes agrícolas; 87 auxiliares de campo, e 77 auxiliares de centro.
E, ao cabo de oito anos e meio de actividade, os Serviços de Extensão organizaram, em todo o Pais, cerca de 500 cursos du preparação, fixos e ambulantes, frequentados aproximadamente per 14 000 alunos.
Poderemos mesmo caminhar mais longe neste ensaio de números, aventando um limite de pessoas que esses alunos teriam ido influenciar adentro de um ambiente familiar. E à média de uma constituição de cinco pessoas por lar, alcançamos, com as reservas aconselháveis, a cifra de 70 000 rurais, que aqui deixamos expressa numa mudez pouco ou muito reveladora, quanto ao campo de expansão da Extensão Agrícola e do âmbito que teriam abrangido os seus processos e as suas novidades.
Sr. Presidente:
Dissemos nós que pretendíamos trazer para esta Câmara a forca de um testemunho que ultrapassasse a fria rigidez dos números; que vencesse a barreira sempre aliciante dos programas e das lógicas construções do espírito. Porque é só ao contacto de um calor humano do animismo dos grandes sonhos do homem transplantados em acção que se graduam devidamente as mais balas causas e se avaliam as suas forças de promoção social.
Foi na nossa região, região agrícola que vive de esperanças jamais alcançadas, que pudemos apreciar e sentir, por mais de uma vez a simpatia e o entusiasmo que esta actividade do Estado tem despertado nos nossos meios rurais, provocando o desencadear de energias adormecidas, fortalecendo todas as boas vontades, fazendo mesmo nascer a ideia de um comunitarismo que existia algo difuso sem um convívio aberto que o facilitasse.
Dois factores, na nossa opinião, terão concluído para o êxito da empresa e para a aceitação popular que, sem dúvida nenhuma, a veio enriquecer e fertilizar.
Por um lodo, o carinho e dedicação dos funcionários que compõem os Serviços, o seu tacto e diligência, o seu indesmentível interesse, que tive a ocasião de longamente apreciar numa reunião que se efectuou em Espanha, com a similar organização do país vizinho, e onde, abertamente, se trocaram pontos de vista, se compararam métodos, e se propuseram à análise a experiência e os resultados atingidos.
Por outro lado, o concurso das gentes rurais, espontaneamente prestado, mas resultado da própria capacidade dos Serviços, aptos para vencerem uma natural desconfiança dos nossos meios campesinos, para provocarem uma ruptura numa inércia prolongada, indo de encontro, o que é curioso, aos anseios de uma promoção que andava esparsa nos habitantes dos nossos campos.
Não podemos esquecer a iniciativa encetada na nossa região, região dominada por condições habitacionais incríveis, c tendente a interessar as raparigas rurais no