1 DE MARÇO DE 1969 3319
apresentadas por este sector económico, porque será dentro dos seus ângulos que o produto nacional mais crescerá nos próximos anos, porque não implica necessariamente investimentos vultosos e porque pode e deve desenvolver-se numa dispersão empresarial compatível com uma razoável distribuição geográfica e com os atractivos ambientais que o motivam.
Outra característica rara desta actividade é a sua espontaneidade. É a necessidade de evasão do homem moderno, dizem uns; fruto resultante da sociedade de lazer a que somos chegados, opinam outros; consequência complexa de uma brusca subida do nível de vida de vastas camadas populacionais, pensam uns tantos.
Será tudo isso e mais uma avidez pelo desconhecido, uma curiosidade sobre monumentos talhados em história e sobre cidades e povos que são ou foram guiões da história. Tudo isso e muitas outras coisas que não sei traduzir em palavras.
Mas mais que desenhar-lhe as motivações ou definir-lhe as características, importa fundamentalmente estabelecer-lhe prospectivamente os caminhos que vai percorrer e preparar as estruturas requeridas para lhe extrair os máximos de rendimento.
Há anos planeara-se o desenvolvimento do turismo nacional, dando prioridade aos dois pólos constituídos pelo Algarve e pela Madeira.
O critério que presidiu ao estabelecimento dessas prioridades suscitou algumas polémicas, mas, tendo de se começar, parece agora que, ao tempo, se começou bem.
Reconhece-se hoje que há necessidade imediata de estabelecer novos pólos de atracção, alguns dos quais destinados a acolher também as correntes turísticas formadas pelos portugueses, que, em números crescentes, dirigem para o estrangeiro a sua curiosidade e as suas distracções, carreando na bagagem preciosas divisas que bem poderiam animar algumas das nossas mais "desoladas" regiões, tornando-se, a aridez e o insólito em estâncias de repouso e fontes de rendimento.
De todos os possíveis pólos a desenvolver apontarei um, e aponto-o porque, situando-se no círculo que aqui represento, é também, provavelmente, o que oferece mais vastas perspectivas imediatas.
Dando-lhe por eixo as grandezas incomparáveis da serra da Estrela, com as suas enormes potencialidades atractivas para todas as estações do ano, agregando-lhe as belezas inexploradas dos vales do Zêzere e do Tejo, e não esquecendo Monsanto, que já foi a "aldeia mais portuguesa" e que agora é quase a mais esquecida, e lembrando o Paul ou Monfortinho, os Unhais da Serra, ou Alpedrinha, terei dado as linhas geométricas que hão-de esquematizar o turismo da Beira Baixa.
Um elemento de valor incalculável há-de vir enriquecer nos próximos anos toda a região: ergue-se neste momento a grande barragem do Fratel. Outras se lhe seguirão, nomeadamente as de Asse-Dasse, Valhelhas, Bogas e Alvito, a juntarem-se às já construídas do Cabril, Bouça e Castelo de Bode, e que o País bem conhece, ignorando-as, todavia, do lado abundantemente promissor do turismo.
A agreste fisionomia do distrito de Castelo Branco, povoada de grandes albufeiras, alterar-se-á profundamente, desdobrando-se daí em mil atractivos, e, nos espaços tranquilos de entre lagos e montanhas, os lugares incomparáveis para núcleos residenciais de veraneio multiplicar-se-ão, pelo prazer dos utentes e a favor da balança de pagamentos.
O plano de infra-estruturas que a região requer, e é urgente, há-de ter em conta tudo isto e há-de buscar ligações e apoios distantes na Guarda e em Castelo Branco e, mais longe ainda, em Tomar e Abrantes.
A preparação de um anteplano global não deverá impedir que, sem perda de tempo, se estabeleçam projectos, se construam abrigos no cume da serra e se ponha em movimento, imediatamente, o teleférico há anos adquirido.
A organização de uma empresa de economia mista, que, além do Estado e das autarquias, apele para a comparticipação da indústria e comércio regionais e até de muitos beirões devotados, que os há, não parece oferecer dificuldade de maior.
Não me alongarei no tema, pois sei das boas intenções oficiais para o caso. Mas quero solicitar que se estabeleça uma rápida e justa prioridade, que salve esforços bem intencionados e obras auspiciosamente iniciadas e temporariamente paralisadas. Nesta solicitação não ponho nenhuma recriminação, ponho, sim, apreço e muita simpatia por quantos arruinaram a saúde e descuidaram os seus interesses ao serviço do bem comum - no caso, a serra da Estrela e o seu turismo!
Outra das coordenadas do crescimento do produto nacional desenvolve-se em grande extensão pelo sector florestal.
É, aliás, opinião mais ou menos unânime dos entendidos e de vários organismos nacionais e estrangeiros (e destes cito dois: F. A. O. e O. C. D. E.) que, estando o País condenado- a florestar 2,5 a 3 milhões de hectares de solos que, no actual estádio dos conhecimentos agro-económicos, não oferecem melhor, ou mesmo qualquer outra alternativa de exploração, essa coordenada de desenvolvimento cobre os quatro ângulos geográficos de Portugal continental.
O tema tem sido extensamente tratado, quer global, quer parcelarmente, no relatório das contas do Estado, nos planos de fomento, em publicações especializadas, na imprensa e em várias brilhantes intervenções nesta Câmara.
O Ministério da- Economia tem-se mostrado atento à questão e até, há poucos dias, o mui ilustre titular daquela pasta, ao receber no seu gabinete a lavoura e indústria da Madeira, que vinham agradecer a reorganização dos sectores leiteiros e de lacticínios da ilha, abordou um aspecto do sector dos mais discutidos, o das relações entre a oferta e a procura de rolaria para pastas papeleiras.
À área a florestar já referida há que acrescentar cerca de 2 milhões e meio de hectares já povoados, em que a espécie dominante é o Pinus pinaster, quase sempre de origem espontânea, e em que a produção específica não vai além de 50 por cento do que seria desejável e é, aliás, possível.
Deste dado incontestável resulta que um primeiro aspecto a acautelar reside na tecnologia das explorações, a principiar pela implantação e selecção, amanho dos solos, cuidado das sementeiras e das plantações, desbastes, limpeza e cortes em estações e épocas apropriadas, tudo aconselhado pela experiência científica.
Quer a floresta existente, quer a futura, que forçosamente há-de desenvolver-se, terá de ser conduzida com critérios técnicos de hoje, e não, como até agora, ao sabor da inspiração de cada um, ressalvando, .evidentemente, casos isolados de lavradores esclarecidos e as matas nacionais.
Outro aspecto do sector que tem de ser urgentemente atacado será o da respectiva comercialização. Em regra, a questão é posta em tom polémico, e algumas vezes é-o com razão, mas esquecem-se os polemistas, no calor da discussão, dos aspectos mais vastos e rentáveis do sector.
De Pinus pinaster - as árvores de certo porte são por agora canalizadas para as madeiras ditas de obra, e nisso vai mais de 40 por cento do valor produzido pela floresta!
A respectiva indústria arrasta uma vida difícil, carecida de meios e técnicas que lhe permitam situar-se entre um