3320 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 185
proprietário da terra, em regra necessitado, e um comércio exportador, ir certo e sem perspectivas abertas.
Outro ponto que agora se discute menos é o da resinagem: a elevação do nível salarial matará a curto prazo esta actividade, que até há pouco tão promissora se mostrava e que nas zonas onde o pinheiro-bravo é dominante se tornava mais importante, sob o ponto de vista económico, que toda a restante produção das matas.
Habitualmente, também a questão dos produtos dos primeiros e desbastes, das limpezas e os desperdícios das serrações não tem merecido as atenções que lhe são devidas.
Madeiras de obra, desbastes e resinas constituem 85 a 90 por cento dos valores produzidos pelo pinhal, tal como agora é explorado, e só 10 a 15 por cento são destinados a rolaria de celulose!
Tratando-se de eucalipto, a situação é inversa, mas anota-se que as plantações desta espécie não vão ainda além de 15 a 16 por cento das de pinheiro-bravo.
Quem analisar estes números terá de estranhar que só uma pequena parte do produto da floresta seja discutida, e .eu, estranhando também, passo adiante, atrevendo-me a agitar hipóteses de solução para o sector, que os serviços, as organizações da lavoura e outros mais bem informados ou com maiores possibilidades deverão aprofundar, para que se
As madeira; de obra vão em boa parte para o consumo interno, mas DS preços pagos à lavoura são regulados pesada e incertamente pela procura externa.
Acresce que a respectiva produção, pulverizada num milhar de unidades, das quais uma escassa dúzia disporá de dimensões e equipamentos actualizados, opera, em regra, em condições desastrosas para todos: para a lavoura, que reclama preços melhores, muitas vezes justamente; para o industrial, que, com equipamentos obsoletos, a desperdiçarem 40 a 50 por cento da matéria-prima trabalhada e com índices de produtividade inqualificáveis, se condena a uma vida espartilhada entre a penúria e o colapso; e para a economia nacional, que a todos e tudo sofre as consequências e os prejuízos.
O vasto sector parece, pois, requerer concentração e modernização das suas unidades e uma dinâmica reorganização da estrutura exportadora.
As facilidades que estão a ser dadas, e muito bem, à industrialização dos produtos dos regadios terão urgentemente de contemplar também este ângulo da economia florestal.
No que se refere à resinagem, apareceram recentemente novas técnicas extractivas que perspectivam acentuadas melhorias de produção, com fortes economias de mão-de-obra. Aí haverá que acelerar as experiências em curso para1 salvar uma actividade ameaçada, com peso considerável nas balanças comercial e de pagamentos.
O aproveitamento dos desbastes de mais reduzido diâmetro, dos ramos e dos desperdícios da indústria madeireira requer também estudos, mas a localização estratégica de unidades produtoras de pastas semiquímicas e de certos tipos de prensados pode conduzir à industrialização de matérias desperdiçadas que se cifram em centos de milhares de toneladas 3 em valores em contos pelo menos duplos dos números de tonelagem.
Em síntese, acrescentarei que um país condenado a dispor de 4 a 5 milhões de hectares de floresta não pode deter-se no meio caminho dos produtos semiacabados, que, sendo em grande parte canalizados para os mercados externos, ali sofrerão as transformações finais e ali deixarão altos valores acrescentados, que, no todo ou pelo menos em boa parte, nos deveriam pertencer.
Haverá, pois, que prosseguir muito mais profundamente nos trilhos da industrialização dos produtos florestais: para os fios e tecidos, em vez de pastas solúveis; para os papéis, cartões, cartolinas e embalagens, em vez de pastas papeleiras; para os mobiliários e carpintarias terminadas, em vez de madeiras serradas e prensadas; para os B-pinenos, pergamóides, colas, tintas, vernizes e resinas modificadas, em lugar de aguarrás e colofónia.
É todo um mundo a transformar.
Do nosso património florestal um aspecto há que tem sido lamentavelmente descurado, apesar de ser aquele que mais celeuma levanta, todos os estios: a defesa contra os fogos!
Há meia dúzia de anos, adentro da maior mancha florestal contínua do País, não existia nenhuma corporação de bombeiros apetrechada para enfrentar um incêndio como os que ocorreram e ocorrem, "regularmente", todos os anos.
E hoje a situação não é muito melhor.
As populações tendem para organizar a defesa dos seus pinhais e fazem esforços generosos e sacrifícios pesados para que as suas pequenas corporações de bombeiros disponham de instalações e material eficiente. O Estado e a Fundação Calouste Gulbenkian têm comparticipado com alguma generosidade.
Mas tudo me dá a ideia de um pirilampo a querer afugentar uma águia.
Quando surge o fogo na floresta densa de pinhal ninguém cruza os braços: vêm militares e bombeiros, às vezes de um raio de 150 km, e vem o povo das redondezas, todo, a pé, a cavalo ou de carro, apetrechado como pode! Todos lutam generosos e abnegados, defendendo a propriedade alheia como se sua fora, todos se batem no meio de riscos, que só serão bem medidos por quantos participaram no ataque a um destes desastres. Mas o fogo segue quase sempre implacável, até que o detenham acidentes geográficos ou ventos adversos!
Para acautelar os prejuízos anuais, sempre a avolumarem-se com o desenvolvimento da floresta e com o abandono crescente dos campos e que ferem gravosamente as pequenas economias rurais, há que organizar, à escala nacional, a defesa contra os fogos florestais.
Uma colaboração estreita e em novos moldes entre as corporações de bombeiros - talvez federando-as por zonas mais ou menos afins - e entre estas e a Defesa Civil do Território seria um caminho que aponto a quem tem de tomar as decisões.
Os circuitos, um tanto confusos, da comercialização deveriam ser orientados para as federações de grémios ou para cooperativas de produtores, que disciplinem a oferta e contratem a venda com as indústrias transformadoras. Aí, talvez no seio das corporações, se dirimiriam interpartes as questões emergentes.
Esta sugestão não contém, aliás, novidade: aplica-se em vários países que, como o nosso, praticam a economia de mercado.
Todo este mundo silvícola, que às vezes até parece, todo ele, uma floresta de problemas, vai tornar-se a médio prazo na nossa principal fonte de produção do sector primário, que, por sua vez, levará a uma das primeiras, se não à primeira, das nossas actividades industriais.
É fácil deduzir daí quantas atenções têm de merecer ao Estado e às actividades que vivem ou operam adentro do sector económico.
Talvez que, a nível nacional, um instituto de tecnologia florestal, abrangendo os aspectos biológicos e sócio-eco-