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19 DE MARÇO DE 1969
grupos autóctones, a promover, com os outros, já evoluídos, a fim de que, pelo contacto diário e constante, a fusão de mentalidades seja realizada.
Recordemos, por exemplo, que em Moçambique, actualmente, para cerca de 7 ou 8 milhões de autóctones existe o contacto com aproximadamente 400 mil civilizados. Com singelas observações como esta podemos avaliar as dificuldades a vencer e o imperativo do esforço imediato e contínuo de toda a Nação.
Se pensarmos agora que nos próximos anos serão muitos os milhares de alunos autóctones que as escolas diplomarão, nos vários graus de ensino, e que exigirão o seu lugar na vida, podemos avaliar a preocupação com que, uma vez mais, hoje e deste lugar, apelo para a atenção de todos os responsáveis pelo País, a fim de que, em horas do futuro, só o examinemos entre portugueses de alma que possam ter um conceito comum de Portugal.
Vozes: —Muito bem!
O Orador: —E para que aproveitemos agora o tempo, para evitar por todas as formas que nos vejamos amanhã obrigados a abrir a dialéctica de conceitos sociológicos e económicos fundamentais sem que ela se estruture na indiscutida certeza vivida de uma pátria comum a unir-nos.
Vozes: —Muito bem!
O Orador: — Para prepararmos essas horas do porvir talvez não seja ainda insuficiente o tempo de que dispomos. Mas o que agora perdermos, nenhuma das próximas gerações o poderá recuperar.
E ó com o pensamento nelas, tal como perante a nossa história de oito seculos, tal como perante os mortos que hoje se glorificam no combate por Portugal e perante os sofrimentos e sacrifícios da juventude actual que nós responderemos.
Esta a nossa responsabilidade. Não lhe poderemos fugir. Sejamos, pois, dignos da hora portuguesa que Deus nos confiou e não deixemos que a nossa determinação e o nosso engenho sejam menores do que as dificuldades que se nos deparam para as vencermos.
Tenho dito.
Vozes: —Muito bem, muito bem! O orador foi muito cumprimentado.
O Sr. Folhadela de Oliveira: —Sr. Presidente, Srs. Deputados: Será legítimo a um deputado, com o conhecimento que lhe advém da permanência em duas legislaturas e no fim da sua actividade parlamentar, será legítimo, dizia, deixar-se tentar pelas «coisas fáceis» que provocam felicitações retumbantes, elogios rasgados nos jornais concelhios e cair na «política de campanário»?
A minha própria consciência respondeu, uniformemente, durante oito anos. E o seu conteúdo negativo mantêm-se, apesar de tudo, inalterável.
Sempre entendi que os assuntos a trazer à Assembleia Nacional não deveriam deixar de ser senão de interesse eminentemente nacional. E se, por acaso, havia que fazer referências especiais a zonas, regiões ou concelhos, apenas como pormenorização de um enquadramento geral.
Todos os casos de carácter regional ou local — e quantos de premente necessidade! — entendo eu deverem ser tratados nos departamentos respectivos ou em gabinete ministerial.
Com a meditada certeza de que me contrario pessoalmente, mas que, mesmo assim, não escandalizo esta Câmara, benevolente como tem sido nestes casos, vou fazer também «política de campanário».
Seria altura de tentar chamar a mim maciça dose de eloquência, servir-me de robusto e apropriado vocabulário, para enaltecer exuberantemente a obra ministerial no assunto que vou abordar — tudo isto como preâmbulo.
Depois faria sumário das necessidades locais, tirando dos números todas as ilações possíveis na parte favorável. Compararia o caso vertente com outros análogos e que obtiveram espectacular deferimento.
Por fim, com toda a lógica que tivesse à mão, deduziria que, embora fosse evidente e justa a satisfação daquela necessidade, bem compreendia que os condicionalismos nacionais não haviam ainda tornado possível realizar aquilo que constitui na última década merecida aspiração do bom povo do concelho.
Vozes: —Muito bem!
O Orador: — Teriam assim W. Ex.ªs, ilustres Deputados, uma oração parlamentar a não cair mal nas do seu género e teria eu, além das boas graças de quantos, ingenuamente, pensam depender de uma palavra proferida na Assembleia Nacional a resolução imediata dos problemas, o apetitoso e inestimável dom de ser benquisto em certos departamentos oficiais.
O resto seria encenação montada nos moldes do estilo. Arrastaria a Lisboa um comboio de munícipes intrigados — por não compreenderem o porquê das coisas incompreensíveis —, a avolumar o selecto núcleo das «forças vivas».
Na audiência trocavam-se os discursos da circunstância e tudo, absolutamente tudo, seria normal.... e habitual. Isto sem esquecer, obviamente, o antecipado convite para a cobertura informativa.
Enfim, usos a que me não acostumo e entendo ficarem mal a quem os fomenta, acolhe e aprecia.
Com a relutância de quem discorda do processo de que se serve, referirei o caso, da alçada do Ministério da Educação Nacional.
Devo esclarecer que por várias vezes, sozinho ou 'acompanhando presidentes da Câmara do meu concelho, subi os degraus dos departamentos oficiais, onde obtive boas palavras, tranquilizantes promessas....
Esgotadas as diligências, resta-me o meu «campanário».
Vou alinhar alguns números demonstrativos da realidade que é o concelho de Vila Nova de Famalicão:
Superfície: 212,16 km2;
População: 93 000 habitantes;
Densidade populacional: 438 habitantes por km2;
33 500 contos saídos do concelho, contributo ilíquido recebido pela Fazenda Nacional.
Salientarei que o orçamento da Camara Municipal para o corrente ano prevê em receitas ordinárias e extraordinárias a verba total de 31 500 contos.
Da lavoura, em crise em todas as províncias metropolitanas, apenas referirei a produção de vinho, 20 000 pipas (10 000 000 1), de milho, 3000 t, e de centeio, 1000 t.
No comércio parece dever sublinhar-se a existência de 1300 estabelecimentos.
Mas o que engrandece e notabiliza Vila Nova de Famalicão ó a sua variada, pujante e evoluída indústria. Dos têxteis aos pneumáticos, dos relógios aos contadores eléctricos, de gás e de água, das metalomecânicas às fundições, dos plásticos ao tratamento de madeiras e dos botões às manufacturas, largamente beneficia a economia nacional.