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1624 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 80

Tem sido muitas vezes pedida a atenção do Governo para o problema turístico da região a que nos reportamos nesta Assembleia e fora dela. De facto, o espaço do Minho ao Douro é dos mais belos de Portugal e pode pôr-se em aberto confronto com os melhores da Europa. Se a obra humana nele realizada, sobretudo nos tempos
modernos, carece muitas vezes de beleza, não há dúvida nenhuma de que, pelas suas paisagens maravilhosas, pelo encanto e qualidades do seu povo, pelos magníficos monumentos ali existentes, pelo carácter de Algumas terras, pela excelência da comida, tal região bem merecia também uma prioridade/turística.

As entradas nesta zona fazem-se essencialmente através do Porto, e através das fronteiras com a Galiza, e por ali passa grande número de turistas que vêm ao nosso país. Passam, mas não ficam, e creio que não ficam por duas razões: porque não existem hotéis em número suficiente e com uma distribuição capaz e porque, procurando hoje uma parte dos turistas, sobretudo os de Verão, o mar e o sol, aquele mar é frio e a costa, como toda a costa atlântica, é ventosa. Mas muito se pode remediar e outros países já o têm feito.

Quanto a cobertura hoteleira, já se avançou alguma coisa relativamente ao Porto, que não está ainda suficientemente dotado; a Viana do Castelo, de cujos projectos em pormenor não pude inteirar-me, mas que creio em movimento; a Braga, onde alguma coisa se fez também; e ainda quanto as praias de Ofir, Esposende e Vila do Conde, onde algum apetrechamento existe já, sobretudo na primeira.

Na Póvoa de Varzim, as mudanças de concessionários do jogo têm provocado dificuldades e atrasos, mas, segundo estou informado, está-se em vias de dar mais um passo em frente com uma solução intrinsecamente poveira.

Parece-me que é preciso olhar para Barcelos e para Vila Nova de Famalicão. E chamo, finalmente e sobretudo, a atenção para o vazio de Guimarães. Começar-se-á a preenchê-lo com a criação de uma pousada pelo Estado. Há várias hipóteses, mas o Sr. Engenheiro Machado Vaz, quando era Ministro das Obras Públicas, deu o primeiro despacho para entrar em estudo a possibilidade da adaptar a pousada o velho convento de Santa Marinha da Costa, criado pela primeira rainha de Portugal.

O problema, porém, não tem andado como devia. Tenho, no entanto, a certeza de que, chamada a atenção do Governo para o caso e resolvidos já, segundo creio, os aspectos que competiam à Direcção-Geral do Turismo, o ilustre Ministro das Obras Públicas possa pôr o processo em marcha, de maneira a não ser de novo protelada a inadiável instalação.

É claro que este problema não fica de forma nenhuma resolvido nem em Guimarães nem na vasta região de que estamos a falar. Em Guimarães, porque é necessária uma instalação hoteleira no monte da Penha e porque as termas de Vizela e das Taipas não estão suficientemente dotadas; embora me pareça que as de Vizela se têm comportado razoavelmente. Na Penha está-se a tratar de readaptar o velho hotel para que se aguente mais alguns anos. Não é a solução, mas como o óptimo é inimigo do bom, todos recebemos com alegria essa notícia. O que é preciso é pô-la em rápido andamento e não perder um dia.

A citação de necessidades das duas termas do meu concelho faz-me lembrar as outras termas do Norte; como Caldelas e o Geres.

0 desenvolvimento da cirurgia e a introdução de certos medicamentos causou prejuízos extraordinários às termas, mas há as no País, e mesmo no Norte, que continuam a ter muito movimento e então no estrangeiro, ainda muito mais. Como há pessoas que não suportam bem a vida à beira-mar ou que gostam de mais calor durante o Verão, parecia-me que as termas se deviam apetrechar com os divertimentos necessários, como, por exemplo, Vizela tinha antigamente, não só para atraírem os aquistas, como para, se transformarem em apetecíveis estâncias de repouso. A existência de piscinas para a gente nova nas termas e no interior da região é indispensável, como é indispensável criar piscinas de água salgada à beira-mar que, a coberto dos ventos dominantes, talvez não precisem de ser aquecidas.

Com estes problemas resolvidos, todo o Norte pode ter, se as suas Organizações turísticas forem prontamente reestruturadas - e nós esperamos em Guimarães há mais de doze anos que se crie a região de turismo pedida e devida - e se um organismo central do Estado, instalado no Porto, puder orientar e dinamizar todo este conjunto, creio que poderemos, com justiça, ter uma situação privilegiada no campo do turismo.

Assim, sem hotéis onde eles são precisos, sem piscinas com água de temperatura capaz junto das praias, sem um número de piscinas suficiente no interior, sem umas tantas casas de chá e pequenos restaurantes nos percursos turísticos, sem harmonia de horários nos monumentos e sem guias, sem divertimentos além dos tradicionais, como as romarias, procissões e festas das cidades (e todos estes se devem verificar e manter puros), nunca poderemos atrair e fixar os turistas a que esta região privilegiada tem inteiro direito.

Relativamente a monumentos, devo dizer que, de uma forma geral, os monumentos de primeira ordem desta região se encontram em boas condições e que ela tem sido acarinhada no conjunto do País. Que me lembre, só é urgente salvar Santa Marinha da Costa, de que já falei, Tibães, em Braga, e Vilar de Frades, em Barcelos.

Há ainda um mundo de monumentos menores - igrejas, pequenas capelas, solares e cruzeiros - que é preciso acautelar e salvar em todo o País, mas isto tem de ser encarado de outra forma e não é esta a esta a oportunidade de pôr o problema.

Braga precisa também de instalar melhor e talvez de concentrar os seus museus, seleccionando peças, visto nada estar à altura de tão linda è importante cidade.

Em Guimarães vai surgir a ocasião de criar, como já tem sido dito, um novo museu de arte religiosa, pois há material de sobra.

Os problemas de defesa da Natureza, entre os quais o da poluição; já começaram a impor-se. A feliz criação do parque do Gerês é um exemplo frisante, mas no outro extremo a poluição do Ave e do Vizela são extraordinariamente graves e preocupantes. Pensando no primeiro, pergunto se as florestas de Basto não poderiam ser tratadas de igual modo?

É claro que por todo o Norte ainda há carências extraordinárias. As habitações populares estão desprovidos de meios modernos de higiene e conforto, mesmo apenas proporcionais ao nível de vida dos seus habitantes. Electricidade, casas de banho, etc., não são ainda, como é preciso que sejam, apetrechamentos, frequentes, além de que muitas das modernas construções das nossas cidades são assucatadas e mal decoradas, quer sejam modestas, quer mais ricas, e de um mau gosto pavoroso. As casas tipo maíson daquela gente simpática que sem cultura, mas com amor, quer ter à força a sua casa no sítio donde é, sucedem-se umas às outras, com pinturas pasmosos, dê vendes, vermelhos, rosas, amarelos inten-síssimos, (parecendo algumas verdadeiros mostruários de fábricas de tintas. Não me espanta isso, porque até nos